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Florescer interagindo com situações e pessoas

Para o cognitivismo de Piaget e de Vygotsky as diferenças percebidas na forma de desenvolvimento, estão mais relacionadas à mediação do contexto social do que com os aspectos biológicos. Para estes autores, este princípio surge da concepção de que o desenvolvimento das funções psíquicas superiores se desenvolve socialmente. Este desenvolvimento é possível mediante as relações que cada sujeito estabelece com o meio em que vive, e, portanto, pode se dizer que ele é singular. Nesta perspectiva, as tentativas de generalizações quanto ao desenvolvimento não se justificariam, uma vez que este processo não é linear nem tampouco igual para todos, já que depende das experiências vividas e dos sentidos a elas aplicados.

À luz da teoria cognitivista de Piaget, os indivíduos estão em constante interação com o meio e diante disso acontecem constantes desequilíbrios e equilíbrios que contribui para a adaptação do sujeito a este meio. Nesta via, para Piaget, a aquisição do conhecimento é um processo desenvolvimentista gradual que se torna possível pela interação da criança com o ambiente. Portanto, segundo essa teoria, não é o meio que produz ou molda o sujeito, mas o sujeito que se constrói adaptando-se ao meio, de modo que para haver esse equilíbrio é necessário ocorrer duas invariáveis, as quais estão presentes em toda atividade, denominadas por Piaget de assimilação e acomodação. Assimilação implica reagir com base em aprendizagem e compreensão prévias. Acomodação implica mudança na compreensão. Essa interação leva à adaptação, assim, a adaptação ocorre quando há equilíbrio entre essas invariáveis.

Em consonância com Piaget, a inteligência é definida pelas interações de um indivíduo com o ambiente. Essas interações envolvem equilíbrio entre assimilação (incorporação dos aspectos do ambiente à aprendizagem prévia) e acomodação (mudança comportamental diante das demandas do ambiente). O resultado dessa interação é o desenvolvimento de estruturas cognitivas (esquemas e operações) que são refletidas no comportamento (conteúdo).

Vygotsky, por sua vez, ao refletir sobre o desenvolvimento humano, destacou quatro planos de desenvolvimento genético, que representam diferentes dimensões da constituição psicológica.

O primeiro plano é o filogenético que se refere à evolução da espécie humana ao longo da história, destacando como certas funções psicológicas superiores (como linguagem, memória voluntária, pensamento abstrato) emergem a partir da evolução biológica e cultural. O segundo plano é o ontogenético que diz respeito ao desenvolvimento individual ao longo da vida, desde a infância até a vida adulta, marcado pela internalização das práticas culturais e pela mediação social. O terceiro plano é o sociogenético que se relaciona à dimensão histórica e cultural das sociedades, ou seja, como as práticas, valores, instrumentos e símbolos construídos coletivamente moldam e transformam o desenvolvimento psicológico. O quarto plano é o microgenético que trata do desenvolvimento em pequena escala, observável em situações concretas de aprendizagem e interação, acompanhando como novas formas de pensamento ou habilidades surgem no processo imediato de resolução de problemas.

Esses planos se articulam e não podem ser pensados isoladamente, pois o desenvolvimento humano, para Vygotsky, é sempre um fenômeno histórico, social e cultural.

Uma curiosidade com relação as teorias de Vygotsky é que recentes experimentos da neurociência têm comprovado suas ideias. Dois pesquisadores da Universidade da Califórnia, Margaret Wilson e Thomas Wilson, propuseram em 2005 um modelo teórico segundo o qual diversos “osciladores” existentes no cérebro seriam a chave para o processo de interação entre as pessoas. Eles são nada mais que populações de neurônios que apresentam, coletivamente, uma periodicidade, um ritmo em suas atividades. Esses osciladores endógenos já são conhecidos na literatura científica e estão ligados a uma série de processos cognitivos, como a percepção, o controle motor e a atenção. O que os autores fizeram foi estender a ideia de ativação acoplada ou sincronismo neuronal para entender o mecanismo das interações entre os indivíduos.

Segundo esses pesquisadores, durante uma interação social (como em um diálogo) vários osciladores no cérebro da pessoa que ouve têm sua frequência de atividade afetada por alguns dos osciladores do cérebro da pessoa que fala. E, nessa interação oscilatória, os dois cérebros se sincronizam. Uma boa metáfora para entender esse processo é a imitação. Quando uma criança imita imediatamente um gesto que alguém está fazendo, ela estaria em perfeita sincronia interativa: o que o outro faz leva a criança a fazer exatamente a mesma coisa justamente por causa da interação entre eles. Note que esse exemplo é metafórico, referindo-se apenas às semelhanças motoras dos gestos. Para Wilson e Wilson, esse processo é muito mais profundo e apontaria para uma capacidade humana intrínseca de perceber e produzir eventos de maneira sincronizada com outras pessoas em um ambiente social.

Vygotsky afirmou que o desenvolvimento segue rumos revolucionários e que o encontro humano é muito mais do que uma interação que influencia nossos modos de agir no mundo. Ele produz, isso sim, transformações genéticas, psiquismos que se desenvolvem conjuntamente porque se conectam materialmente.