O papel da filosofia na teologia tomasiana
Citação de Ronaldo Alexandre Castilho em março 31, 2022, 10:57 pmA impressão que fica é que, sendo a Revelação o “objeto formal” da teologia, não resta espaço algum nela para a filosofia. Contudo, não é assim. Em primeiro lugar, como Deus se revelou a nós? A fonte primeira da Revelação é a Sagrada Escritura. E o que temos lá? Deus revelando-se a nós por meio das suas criaturas: “Convém à Sagrada Escritura nos transmitir as coisas divinas e espirituais, mediante imagens corporais”. Mais do que atestar este fato, Tomás o justifica, dizendo que assim deveria ser, pois, uma vez que não somos espíritos puros, mas uma unidade entre alma e corpo, é nos natural conhecermos as coisas inteligíveis através das sensíveis: “[...] é natural ao homem elevar-se ao inteligível pelo sensível, porque todo o nosso conhecimento se origina a partir dos sentidos”. Sendo assim - continua o Frade de Roccasecca - , “[...] é, então, conveniente que na Escritura Sagrada as realidades espirituais nos sejam transmitidas por meio de metáforas corporais”. A questão que se coloca então é a seguinte: qual a ciência que estuda as realidades naturais? É a filosofia. São as disciplinas filosóficas que nos dão a conhecer as coisas enquanto tais. Neste sentido, dirá o Aquinate: “[...] a filosofia humana as considera enquanto tais. Donde as diversas partes da filosofia serem constituídas segundo os diversos gêneros das coisas”. A seguir, Tomás passa a distinguir com clareza como a filosofia e a teologia abordam as criaturas. Enquanto o filósofo quer conhecer apenas a natureza própria de cada coisa, “[...] por exemplo, o fogo, enquanto sobe”20, o fiel, ao contrário, quer conhecer nas criaturas “[...] somente aquilo que a elas convém enquanto estão relacionadas com Deus”. De mais a mais, o filósofo considera as coisas a partir das suas causas próximas, enquanto o teólogo as considera a partir da causa primeira, Deus. Mas, e este é o ponto, o Aquinate observa que não é inútil ao teólogo o conhecimento das coisas enquanto tais, porque também na natureza mesma das coisas podemos descobrir traços da sabedoria criadora, da causa primeira. Diz ele: Daí podermos, pela consideração das obras, recolher a sabedoria divina, que está como que espelhada nas criaturas por certa comunicação da sua semelhança.
A impressão que fica é que, sendo a Revelação o “objeto formal” da teologia, não resta espaço algum nela para a filosofia. Contudo, não é assim. Em primeiro lugar, como Deus se revelou a nós? A fonte primeira da Revelação é a Sagrada Escritura. E o que temos lá? Deus revelando-se a nós por meio das suas criaturas: “Convém à Sagrada Escritura nos transmitir as coisas divinas e espirituais, mediante imagens corporais”. Mais do que atestar este fato, Tomás o justifica, dizendo que assim deveria ser, pois, uma vez que não somos espíritos puros, mas uma unidade entre alma e corpo, é nos natural conhecermos as coisas inteligíveis através das sensíveis: “[...] é natural ao homem elevar-se ao inteligível pelo sensível, porque todo o nosso conhecimento se origina a partir dos sentidos”. Sendo assim - continua o Frade de Roccasecca - , “[...] é, então, conveniente que na Escritura Sagrada as realidades espirituais nos sejam transmitidas por meio de metáforas corporais”. A questão que se coloca então é a seguinte: qual a ciência que estuda as realidades naturais? É a filosofia. São as disciplinas filosóficas que nos dão a conhecer as coisas enquanto tais. Neste sentido, dirá o Aquinate: “[...] a filosofia humana as considera enquanto tais. Donde as diversas partes da filosofia serem constituídas segundo os diversos gêneros das coisas”. A seguir, Tomás passa a distinguir com clareza como a filosofia e a teologia abordam as criaturas. Enquanto o filósofo quer conhecer apenas a natureza própria de cada coisa, “[...] por exemplo, o fogo, enquanto sobe”20, o fiel, ao contrário, quer conhecer nas criaturas “[...] somente aquilo que a elas convém enquanto estão relacionadas com Deus”. De mais a mais, o filósofo considera as coisas a partir das suas causas próximas, enquanto o teólogo as considera a partir da causa primeira, Deus. Mas, e este é o ponto, o Aquinate observa que não é inútil ao teólogo o conhecimento das coisas enquanto tais, porque também na natureza mesma das coisas podemos descobrir traços da sabedoria criadora, da causa primeira. Diz ele: Daí podermos, pela consideração das obras, recolher a sabedoria divina, que está como que espelhada nas criaturas por certa comunicação da sua semelhança.