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Personalidade, caráter e ética

Constituição da Personalidade segundo a Psicanálise

Na visão psicanalítica, a personalidade não é algo pronto ou inato, mas se constrói aos poucos, a partir de:

  1. a) Experiências infantis
  • As vivências emocionais nos primeiros anos de vida (especialmente com os pais ou cuidadores) são fundamentais.
  • Essas experiências formam a base da estrutura psíquica e influenciam como o sujeito se relaciona com o mundo.
  1. b) Desenvolvimento das instâncias psíquicas

Segundo Freud, a personalidade se forma a partir do equilíbrio (ou desequilíbrio) entre três instâncias da mente:

Instância Função Principal
Id (isso) Fonte dos desejos e impulsos inconscientes (prazer imediato).
Ego (eu) Parte racional, que tenta equilibrar o id, o superego e a realidade.
Superego Internalização das normas, leis, proibições e valores morais (voz da consciência).

A personalidade surge como resultado dos conflitos e acordos internos entre essas instâncias.

  1. Formação do Caráter

O caráter, para Freud, é o resultado dos mecanismos de defesa que o ego desenvolve para lidar com as angústias e desejos reprimidos.

  • Por exemplo:
    • Uma pessoa que foi muito punida por expressar raiva pode desenvolver um caráter passivo ou submisso.
    • Alguém que reprimiu desejos sexuais pode apresentar um caráter moralista, rígido ou controlador.

👉 O caráter é uma forma relativamente estável de defesa do ego, construída para sobreviver aos conflitos psíquicos da infância.

  1. Formação da Ética e da Moralidade (Superego)

A ética, na psicanálise, surge com a formação do superego, que é a instância psíquica que:

  • Internaliza as proibições parentais e sociais (por volta dos 5-6 anos, com o fim do Complexo de Édipo).
  • Atua como um "juiz interno", guiando o comportamento com base na culpa, vergonha, valores morais e ideais do eu.

Como isso acontece?

  • Durante o Complexo de Édipo, a criança renuncia ao desejo pelo genitor do sexo oposto e se identifica com o do mesmo sexo, aceitando a “lei” (a castração).
  • Essa identificação dá origem ao superego, que carrega as regras e ideais dos pais.
  • Daí nasce o senso de certo/errado, permitido/proibido — ou seja, a base da ética psíquica.

Resumo Geral: Constituição do sujeito segundo a psicanálise

Elemento Como se forma
Personalidade Conflitos psíquicos entre id, ego e superego ao longo do desenvolvimento.
Caráter Modo de defesa estável do ego diante das experiências infantis e desejos inconscientes.
Ética (moral interna) Surge com o superego, que internaliza normas parentais e culturais.

 Freud dizia:

"A consciência moral (superego) é a sucessora do complexo de Édipo e representa a influência parental internalizada."

 

Pós-Freudianos e Psicanálise do Ego (década de 1930-50)

  • Com autores como Anna Freud, Heinz Hartmann e outros, a teoria começa a valorizar mais o papel do ego saudável, da adaptação ao meio e da cultura.
  • A personalidade começa a ser vista não apenas como conflito, mas também como capacidade adaptativa, de resiliência e defesa.

Contexto sócio-histórico: guerras mundiais, migração, novas configurações familiares e sociais → surge a preocupação com o “ego forte” para lidar com as exigências externas.

. Melanie Klein e Winnicott (meados do século XX)

  • A Klein foca nas fantasias inconscientes mais precoces, ainda no primeiro ano de vida. Para ela, a personalidade se forma a partir das relações objetais internas (com as imagens parentais internalizadas).
  • Winnicott destaca o papel do ambiente, da mãe suficientemente boa e do jogo simbólico na constituição do self (o eu verdadeiro).

Nesse momento, começa a se considerar que a personalidade também é moldada pelo ambiente emocional e não só pela sexualidade e repressão.

  1. Lacan (1950–80): o sujeito do desejo na linguagem
  • Lacan reformula a psicanálise com base na linguagem e na cultura.
  • Ele diz que o sujeito (e, portanto, sua personalidade) é resultado da entrada na linguagem e da relação com o Outro (a cultura, o desejo do outro, a lei).

“O inconsciente é estruturado como uma linguagem.” – Lacan

A personalidade, então, não é um “algo fixo”, mas um posicionamento subjetivo simbólico, dentro de uma rede de significações culturais.

  1. Psicanálise Contemporânea
  • Hoje, a psicanálise leva em conta as mudanças sociais, culturais, políticas, tecnológicas e indenitárias:
    • Novas formas de família (homo afetivo, monoparental, etc.)
    • Questões de gênero e sexualidade
    • Pressões sociais modernas (hiperprodutividade, redes sociais, ansiedade digital)
  • A ideia de personalidade se expande: não é mais um "molde único", mas uma construção subjetiva em constante transformação, atravessada por:
    • Cultura
    • Classe social
    • Raça
    • Gênero
    • Experiências simbólicas e afetivas

Resumo: evolução do conceito de personalidade na psicanálise

Época Foco principal na formação da personalidade
Freud (início) Conflitos inconscientes, sexualidade infantil, estrutura (id, ego, superego)
Pós-freudianos Ego adaptativo, ambiente social, defesas do ego.
Klein / Winnicott Relações precoces, ambiente emocional, função materna.
Lacan Linguagem, desejo do Outro, estrutura simbólica.
Contemporânea Cultura, subjetividade, identidade, sociedade líquida, diversidade.