Projeto de Evangelização Pastoral
Citação de LUCAS MICHEL SANTOS DE BARROS em abril 22, 2024, 10:45 pmPrimeiro passo: sensibilidade e percepção da realidade. O pressuposto de um processo de evangelização é a percepção da realidade e da circunstância da comunidade. Sem compreensão da realidade não há processo pastoral. Jesus, no alto da montanha, olha atentamente para a realidade da multidão e interroga ao discípulo: “Felipe onde compraremos pão para que eles comam?” (Jo 6,4-5). O ponto de partida é estar entranhado na comunidade e enxergar suas necessidades. O Mestre enxerga[13] a problemática da comunidade e compreende a situação.A realidade vista à luz do evangelho faz-nos perguntar sobre a situação da comunidade. A interrogação impele-nos a enxergar a realidade, sua complexidade e o potencial para planejar ações eficazes. Bom diagnóstico da situação propicia acertada ação pastoral. A metodologia de ação pastoral depende da capacidade de sentir e perceber os sinais e expressões de uma realidade concreta. Correto discernimento da realidade encaminha a pastoral para um processo de superação da fragmentação.
Segundo passo: corresponder ao ideal do evangelho. Com domínio de compreensão, Jesus põe à prova a leitura de Felipe: “Duzentos denários de pão não seriam suficientes para que cada um recebesse um pedaço” (Jo 6,6-7). O prognóstico do discípulo prendeu-se apenas a um aspecto tecnicista, matemático e abstrato. Sua resposta tornou-se insuficiente e contou com o auxílio de André, que também pensou na quantidade, na proporção e na exatidão: “Há um menino[14] que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos, mas que é isso para tantas pessoas?”.
Os discípulos estavam diante de nova realidade de complexidades, paradoxos e convergências. A confrontação de olhares será imprescindível para o caminhar. As constantes mudanças da realidade precisam de releituras e interpretações[15]. Os novos paradigmas políticos e culturais são capazes de contrapor as doutrinas teológicas e neutralizar a ação eclesial, acompanhando, por vezes, estruturas de dominação e assumindo comportamentos alienantes. Diante da superficialidade da resposta dos discípulos, Jesus mostrou-lhes outro passo, a força de quem acredita na sua Palavra.
Terceiro passo: uma ação pastoral planejada. Na imptoência e na pequenez, o diálogo é caminho de abertura para alcançar a fidelidade ao evangelho[16]. Jesus, de posse da compreensão da realidade e contando com a participação dos discípulos, indica a atitude a ser tomada: “Fazei que se acomodem” (Jo 6,10). A orientação do Mestre é iniciar pelo princípio, pela organização da comunidade. A estrutura de organização facilita um processo pastoral e aproveita os recursos existentes na comunidade. Não é a quantidade de recursos que fazem um planejamento pastoral responder à realidade, mas a forma de serem aproveitados. A organização do processo de ação eclesial coletiva exige partilha e abertura, vencendo a prepotência do tudo compreendido e esquematizado. A vida da comunidade é dinâmica capaz de superar as coisas preestabelecidas.
Quando a participação organiza a comunidade, há criatividade pastoral e corresponsabilidade no processo. Na multiplicação dos pães, o Mestre organiza uma equipe para acomodar, outra para repartir e mais uma para recolher a sobra. A ação pastoral planejada constrói a unidade e valoriza a pluralidade de conhecimentos e atividades. A orientação de Jesus saciou a todos e ainda fez sobrar alimento. Hoje podem estar sobrando recursos e pessoas que não foram convidadas a participar do processo. A ação planejada do Mestre continua o processo: “Recolhei os pedaços que sobraram para que nada se perca” (Jo 6,11-12). Numa caminhada eclesial, existem coisas que são prioridades, sem as quais o processo pode fracassar e não avançar para um próximo desafio.
Quarto passo: a ação planejada produz processo. A ação pastoral revela se há processo ou não na caminhada. Toda ação empreendida dentro de um processo conduz a comunidade no caminho do Mestre[17]. A multidão, vendo a ação de Jesus, reconheceu o sinal do reino de Deus presente e exclamou: “Esse é, verdadeiramente, o profeta que deve vir ao mundo” (Jo 6,14). Pelo testemunho pastoral da comunidade, torna-se visível a presença do Messias. Um processo pensado de ação pastoral torna a comunidade evangelizadora. Onde todos pensam como sujeitos eclesiais não há centralização do poder, do saber, do fazer e do ser, a exemplo do que fez Jesus: “Quando percebeu que iam pegá-lo para fazê-lo rei, então se retirou sozinho de novo para a montanha”. A presença de Jesus não produz dependência, mas liberdade para caminhar. Uma ação eclesial em contínuo processo torna a comunidade protagonista da caminhada.
Seguindo o exemplo de Jesus, que buscou outros lugares, será pertinente à vida eclesial caminhar em um processo que favoreça a troca de olhar e de atitude. O planejamento da ação pastoral na dinâmica do processo supera a “pastoral de manutenção” e a monotonia da caminhada. A evangelização da pessoa e da comunidade é um processo de construção permanente em conformidade sempre com a seguinte atitude: “Ide, pois, fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os e ensinando-os a observar tudo quanto vos mandei” (Mt 28,19s). O planejamento conduzido por um processo de caminhada segue o Mestre e descobre novos campos de ação eclesial.
Quinto passo: vocação para a oração e a ação. Nenhuma metodologia de pastoral é eficaz se não nasce da mística da oração e do apostolado. Ela deve nascer da contemplação da vontade divina. Centrar-se na Palavra de Deus leva a comunidade ao testemunho profético. No entender de são Francisco de Assis, a oração é o sustento da missão. A vida de oração é imbuída do espírito apostólico[18]. Uma evangelização eficaz alimenta-se na pessoa e na comunidade que vivem a radicalidade da Palavra de Cristo. Quando o processo pastoral assume a prática de Jesus Cristo, superam-se limitações de todas as ordens. O conhecimento adquirido e a técnica aprendida, quando conjugados ao espírito de oração e de apostolado, tornam a caminhada um processo desenvolvido com segurança em todas as suas etapas e fazem da metodologia pastoral apenas um instrumento que permite compreender os próximos passos a ser dados. Para o filósofo francês Michel Foucault, o método “é a exposição do olhar que se esforça por deixar de ser olhar para atingir a coisa com a palavra disponível”[19]. O método[20] constitui um instrumento de investigação que possibilita um diagnóstico do que vivemos, do que somos, do que deixamos de ser, do modo como inventamos a nós mesmos e os nossos projetos. Teoria e método são fundamentais quando nos conduzem ao valor maior: seguir de forma radical a prática de Jesus Cristo.
5. Conclusão: Caminhar numa perspectiva em que a pastoral seja adequada às finalidades
Um princípio do plano de pastoral é a continuidade. O adiamento do plano ficou para trás. Faz-nos lembrar que, como o plano é uma sequência programada de atividades anteriores e posteriores, estas fatalmente afetam umas às outras. O plano inteiro tem certa unidade, um tema motivador. Não há, por assim dizer, uma função de utilidade separada para cada período. Não apenas os efeitos de um período sobre o outro devem ser levados em conta, mas variações substanciais de altos e baixos devem ser evitadas.
Outro princípio do plano de pastoral é que devemos considerar as vantagens de expectativas ascendentes ou pelo menos não significativamente descendentes. Há vários estágios na vida, cada um, idealmente, com suas próprias tarefas e prazeres característicos. Em circunstâncias iguais, devemos ordenar as coisas nos primeiros estágios, de modo que permitam uma vida feliz nos estágios posteriores. Parece que geralmente se devem preferir, ao longo do tempo, as expectativas ascendentes.
Os princípios de um plano de pastoral estão relacionados com o bem da pessoa e da instituição, a comunidade-Igreja. Em resumo, o bem da caminhada é determinado pelo plano de evangelização que adotamos com plena racionalidade deliberativa. Se o futuro fosse passível de previsão, seria imaginado com precisão. Nesse sentido é que as questões pastorais aqui discutidas precisam estar ligadas a um substrato racional. O plano de pastoral é esse instrumental a enfatizar que as questões selecionadas promovem condições satisfatórias para o plano de Deus. Quando surge a questão de saber se fazer algo está de acordo com o plano de Deus, a resposta depende da eficiência com que nossa ação se adapta ao plano.
Importante princípio do plano de pastoral é que, ao realizá-lo, o indivíduo não mude de ideia, passando a desejar que tivesse agido de modo diferente. Uma caminhada não deve sentir uma aversão tão grande pelas consequências previstas a ponto de lamentar o fato de ter seguido o plano adotado. A ausência desse tipo de arrependimento revela a consciência de que a comunidade deve agir de modo que nunca precise culpar-se, independentemente do resultado final de seus planos. Uma caminhada não lamenta sua escolha, pelo menos não no sentido de, mais tarde, acreditar que, naquele momento, teria sido mais racional proceder de outra maneira.
Um princípio final do planejamento pastoral é a responsabilidade para com o “eu” e para com o “nós”. As motivações pastorais da Igreja no Brasil e das dioceses são diferentes ao longo do tempo e devem ser ajustadas de modo que, em cada época, o “eu” individual e o “nós” coletivo possam ratificar o plano que esteve e está sendo seguido. A pessoa de uma época, por assim dizer, não deve poder queixar-se das ações de alguém de outra época. Sem dúvida, um planejamento pastoral não exclui a tolerância, mas deve ser aceitável, tendo em vista o bem esperado ou atingido. Uma caminhada pastoral não tem como objetivo o planejar e o calcular frenéticos, mas oferecer o bem para a pessoa, ou seja, um caminho para a salvação.
A realidade vista à luz do evangelho faz-nos perguntar sobre a situação da comunidade. A interrogação impele-nos a enxergar a realidade, sua complexidade e o potencial para planejar ações eficazes. Bom diagnóstico da situação propicia acertada ação pastoral. A metodologia de ação pastoral depende da capacidade de sentir e perceber os sinais e expressões de uma realidade concreta. Correto discernimento da realidade encaminha a pastoral para um processo de superação da fragmentação.
Segundo passo: corresponder ao ideal do evangelho. Com domínio de compreensão, Jesus põe à prova a leitura de Felipe: “Duzentos denários de pão não seriam suficientes para que cada um recebesse um pedaço” (Jo 6,6-7). O prognóstico do discípulo prendeu-se apenas a um aspecto tecnicista, matemático e abstrato. Sua resposta tornou-se insuficiente e contou com o auxílio de André, que também pensou na quantidade, na proporção e na exatidão: “Há um menino[14] que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos, mas que é isso para tantas pessoas?”.
Os discípulos estavam diante de nova realidade de complexidades, paradoxos e convergências. A confrontação de olhares será imprescindível para o caminhar. As constantes mudanças da realidade precisam de releituras e interpretações[15]. Os novos paradigmas políticos e culturais são capazes de contrapor as doutrinas teológicas e neutralizar a ação eclesial, acompanhando, por vezes, estruturas de dominação e assumindo comportamentos alienantes. Diante da superficialidade da resposta dos discípulos, Jesus mostrou-lhes outro passo, a força de quem acredita na sua Palavra.
Terceiro passo: uma ação pastoral planejada. Na imptoência e na pequenez, o diálogo é caminho de abertura para alcançar a fidelidade ao evangelho[16]. Jesus, de posse da compreensão da realidade e contando com a participação dos discípulos, indica a atitude a ser tomada: “Fazei que se acomodem” (Jo 6,10). A orientação do Mestre é iniciar pelo princípio, pela organização da comunidade. A estrutura de organização facilita um processo pastoral e aproveita os recursos existentes na comunidade. Não é a quantidade de recursos que fazem um planejamento pastoral responder à realidade, mas a forma de serem aproveitados. A organização do processo de ação eclesial coletiva exige partilha e abertura, vencendo a prepotência do tudo compreendido e esquematizado. A vida da comunidade é dinâmica capaz de superar as coisas preestabelecidas.
Quando a participação organiza a comunidade, há criatividade pastoral e corresponsabilidade no processo. Na multiplicação dos pães, o Mestre organiza uma equipe para acomodar, outra para repartir e mais uma para recolher a sobra. A ação pastoral planejada constrói a unidade e valoriza a pluralidade de conhecimentos e atividades. A orientação de Jesus saciou a todos e ainda fez sobrar alimento. Hoje podem estar sobrando recursos e pessoas que não foram convidadas a participar do processo. A ação planejada do Mestre continua o processo: “Recolhei os pedaços que sobraram para que nada se perca” (Jo 6,11-12). Numa caminhada eclesial, existem coisas que são prioridades, sem as quais o processo pode fracassar e não avançar para um próximo desafio.
Quarto passo: a ação planejada produz processo. A ação pastoral revela se há processo ou não na caminhada. Toda ação empreendida dentro de um processo conduz a comunidade no caminho do Mestre[17]. A multidão, vendo a ação de Jesus, reconheceu o sinal do reino de Deus presente e exclamou: “Esse é, verdadeiramente, o profeta que deve vir ao mundo” (Jo 6,14). Pelo testemunho pastoral da comunidade, torna-se visível a presença do Messias. Um processo pensado de ação pastoral torna a comunidade evangelizadora. Onde todos pensam como sujeitos eclesiais não há centralização do poder, do saber, do fazer e do ser, a exemplo do que fez Jesus: “Quando percebeu que iam pegá-lo para fazê-lo rei, então se retirou sozinho de novo para a montanha”. A presença de Jesus não produz dependência, mas liberdade para caminhar. Uma ação eclesial em contínuo processo torna a comunidade protagonista da caminhada.
Seguindo o exemplo de Jesus, que buscou outros lugares, será pertinente à vida eclesial caminhar em um processo que favoreça a troca de olhar e de atitude. O planejamento da ação pastoral na dinâmica do processo supera a “pastoral de manutenção” e a monotonia da caminhada. A evangelização da pessoa e da comunidade é um processo de construção permanente em conformidade sempre com a seguinte atitude: “Ide, pois, fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os e ensinando-os a observar tudo quanto vos mandei” (Mt 28,19s). O planejamento conduzido por um processo de caminhada segue o Mestre e descobre novos campos de ação eclesial.
Quinto passo: vocação para a oração e a ação. Nenhuma metodologia de pastoral é eficaz se não nasce da mística da oração e do apostolado. Ela deve nascer da contemplação da vontade divina. Centrar-se na Palavra de Deus leva a comunidade ao testemunho profético. No entender de são Francisco de Assis, a oração é o sustento da missão. A vida de oração é imbuída do espírito apostólico[18]. Uma evangelização eficaz alimenta-se na pessoa e na comunidade que vivem a radicalidade da Palavra de Cristo. Quando o processo pastoral assume a prática de Jesus Cristo, superam-se limitações de todas as ordens. O conhecimento adquirido e a técnica aprendida, quando conjugados ao espírito de oração e de apostolado, tornam a caminhada um processo desenvolvido com segurança em todas as suas etapas e fazem da metodologia pastoral apenas um instrumento que permite compreender os próximos passos a ser dados. Para o filósofo francês Michel Foucault, o método “é a exposição do olhar que se esforça por deixar de ser olhar para atingir a coisa com a palavra disponível”[19]. O método[20] constitui um instrumento de investigação que possibilita um diagnóstico do que vivemos, do que somos, do que deixamos de ser, do modo como inventamos a nós mesmos e os nossos projetos. Teoria e método são fundamentais quando nos conduzem ao valor maior: seguir de forma radical a prática de Jesus Cristo.
5. Conclusão: Caminhar numa perspectiva em que a pastoral seja adequada às finalidades
Um princípio do plano de pastoral é a continuidade. O adiamento do plano ficou para trás. Faz-nos lembrar que, como o plano é uma sequência programada de atividades anteriores e posteriores, estas fatalmente afetam umas às outras. O plano inteiro tem certa unidade, um tema motivador. Não há, por assim dizer, uma função de utilidade separada para cada período. Não apenas os efeitos de um período sobre o outro devem ser levados em conta, mas variações substanciais de altos e baixos devem ser evitadas.
Outro princípio do plano de pastoral é que devemos considerar as vantagens de expectativas ascendentes ou pelo menos não significativamente descendentes. Há vários estágios na vida, cada um, idealmente, com suas próprias tarefas e prazeres característicos. Em circunstâncias iguais, devemos ordenar as coisas nos primeiros estágios, de modo que permitam uma vida feliz nos estágios posteriores. Parece que geralmente se devem preferir, ao longo do tempo, as expectativas ascendentes.
Os princípios de um plano de pastoral estão relacionados com o bem da pessoa e da instituição, a comunidade-Igreja. Em resumo, o bem da caminhada é determinado pelo plano de evangelização que adotamos com plena racionalidade deliberativa. Se o futuro fosse passível de previsão, seria imaginado com precisão. Nesse sentido é que as questões pastorais aqui discutidas precisam estar ligadas a um substrato racional. O plano de pastoral é esse instrumental a enfatizar que as questões selecionadas promovem condições satisfatórias para o plano de Deus. Quando surge a questão de saber se fazer algo está de acordo com o plano de Deus, a resposta depende da eficiência com que nossa ação se adapta ao plano.
Importante princípio do plano de pastoral é que, ao realizá-lo, o indivíduo não mude de ideia, passando a desejar que tivesse agido de modo diferente. Uma caminhada não deve sentir uma aversão tão grande pelas consequências previstas a ponto de lamentar o fato de ter seguido o plano adotado. A ausência desse tipo de arrependimento revela a consciência de que a comunidade deve agir de modo que nunca precise culpar-se, independentemente do resultado final de seus planos. Uma caminhada não lamenta sua escolha, pelo menos não no sentido de, mais tarde, acreditar que, naquele momento, teria sido mais racional proceder de outra maneira.
Um princípio final do planejamento pastoral é a responsabilidade para com o “eu” e para com o “nós”. As motivações pastorais da Igreja no Brasil e das dioceses são diferentes ao longo do tempo e devem ser ajustadas de modo que, em cada época, o “eu” individual e o “nós” coletivo possam ratificar o plano que esteve e está sendo seguido. A pessoa de uma época, por assim dizer, não deve poder queixar-se das ações de alguém de outra época. Sem dúvida, um planejamento pastoral não exclui a tolerância, mas deve ser aceitável, tendo em vista o bem esperado ou atingido. Uma caminhada pastoral não tem como objetivo o planejar e o calcular frenéticos, mas oferecer o bem para a pessoa, ou seja, um caminho para a salvação.