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A Constituição do Eu

A constituição do "eu" é um processo complexo que se inicia desde os primeiros anos de vida e passa por diversas mediações simbólicas. Na teoria psicanalítica, Lacan introduziu o conceito de estádio do espelho para explicar como o sujeito, ao se reconhecer no espelho, forma uma primeira unidade imaginária de si mesmo. Esse momento é crucial porque a criança, ainda descoordenada em seus movimentos, identifica-se com a imagem refletida, que lhe confere uma aparência de totalidade e domínio que ainda não possui. Esse reconhecimento, no entanto, é mediado pelo olhar do outro, geralmente da mãe, que confirma essa identidade emergente.

Françoise Dolto aprofunda essa questão ao abordar a relação entre imagem e corpo na constituição do sujeito. Para ela, a imagem do corpo não se reduz apenas à percepção visual do espelho, mas é construída simbolicamente através das interações e da linguagem. A criança precisa não apenas ver sua imagem, mas ser nomeada e situada no campo simbólico para que possa se perceber como um ser separado do outro. A ausência dessa mediação pode levar a dificuldades na formação da identidade, tornando o sujeito mais vulnerável a confusões entre o eu e o outro.

Essa perspectiva ajuda a compreender como os primeiros anos da infância são fundamentais para a estruturação do psiquismo. A identificação com a imagem refletida é apenas um ponto de partida para um processo que envolve reconhecimento, linguagem e o desejo do outro. A subjetividade se forma nesse jogo de espelhos, mas sua sustentação depende da palavra e do lugar que a criança ocupa no discurso daqueles que a cercam.