A formação do eu - Freud X Lacan
Freud afirma que para abordar a constituição do eu é preciso percorrer o caminho da metapsicológica (campo de estudos entre o inconsciente e a consciência), a fim de descrever o funcionamento psíquico em sua dinâmica (movimentação de energia psíquica), tópica ("lugares" dos componentes psíquicos - id, ego, superego) e economia (quantidade de energia psíquica armazenada e utilizada). Freud enfatizou a importância da libido (energia sexual que impulsiona o comportamento do indivíduo), do complexo de Édipo (fase primordial do desenvolvimento psicossexual) e das pulsões na formação do eu.
Lacan, por sua vez, compreende o eu como instância do imaginário (campo do desconhecido, da ilusão e da alienação), ressaltando a importância do simbólico e do real na formação do eu. Neste sentido, o eu se constrói através da linguagem, sendo a identidade uma construção social. Lacan definiu a fase inicial da formação do eu como: o “estádio do espelho”, que é momento em que a criança se reconhece no espelho. O espelho também pode ser compreendido como tudo aquilo que representa uma referência cognitiva para a criança. Segundo, Lacan, o outro é o que mais se aproxima da concepção que o indivíduo tem de si mesmo e o conhecimento da criança com o próprio corpo, e a sua eventual identificação com ele, levam à formação do sentido integrado e completo do eu. O processo do espelho é feito através da comunicação, onde o simbolismo dominado pela mãe se explicita (ex: ao nomear o filho, a mãe permite que a criança experencie a individuação de seu próprio ser no mundo, já que a criança associará aquele nome à própria imagem).
Freud define como narcisismo primário/primordial, o primeiro estado da vida, anterior à constituição do eu, onde o eu e o inconsciente estão em fusão. Deste modo, a criança, é incapaz de se voltar para os objetos externos, sendo ela mesma, o seu objeto de amor. É justamente nesta fase que a teoria lacaniana do estádio do espelho se fundamenta, dando início a constituição do eu.