Agência Humana
A psicanálise e o behaviorismo são duas correntes da psicologia que utilizam abordagens inovadoras para compreender a psiquê, para compreender a subjetividade, para compreender o comportamento humano.
A psicanálise trabalha com um método próprio, a livre associação, no qual o paciente fala sobre suas dores e o analista interpreta a simbologia do seu inconsciente. Na psicanálise fala-se muito no Outro, a constituição do eu e da personalidade se dá nas relações narcisistas com a mãe, nas relações edipianas com o pai, nas relações imaginárias com a imagem no espelho no estádio do Espelho de que fala Lacan, enfim, o sujeito se constitui nessa relação dinâmica com as figuras parentais, com o Outro, que é aqui a dimensão externa ou ambiental que influenciará o seu comportamento.
O behaviorismo consiste em uma radicalização dessa dimensão ambiental e da sua influência no comportamento humano. Os behavioristas deixam de lado estados mentais para se ocuparem apenas dos aspectos ambientais que condicionam o comportamento externo observável. Para os behavioristas o sujeito é apenas um meio atravessado por estímulos ambientais e respostas pré-configuradas. O behaviorismo entende o comportamento como algo regulável e passível de controle, por meio de técnicas e estruturas externas ao sujeito. Isso pode torná-lo uma tecnologia do poder, voltada à produção de subjetividades normativas e ajustadas.
Acredito que o ser humano tem a habilidade de agir de maneira intencional, reflexiva e autorregulada no mundo. Ele tem a capacidade de fazer escolhas, estabelecer metas, antecipar consequências, planejar ações e intervir ativamente no curso dos acontecimentos da própria vida e da sociedade. A agência humana não é uma mera reação aos estímulos ambientais, mas sim a expressão de uma mente ativa, dotada de consciência e capacidade de autorreflexão.
Quem desenvolveu mais profundamente esse conceito na psicologia foi Albert Bandura, um dos principais teóricos da psicologia social e da aprendizagem. Ele rompeu com as concepções behavioristas tradicionais ao enfatizar o papel do sujeito como agente ativo de sua própria aprendizagem e transformação.
Para Bandura, a agência humana possui quatro componentes principais: intencionalidade, a capacidade de formular propósitos e agir com base em metas estabelecidas; antecipação (previsão), a habilidade de imaginar os resultados das ações antes de executá-las; autorreflexão, a capacidade de examinar os próprios pensamentos e ações, avaliando sua eficácia; autorregulação, o uso de padrões internos para guiar o comportamento, inclusive através do autocontrole e da autoavaliação.
Portanto, acredito que os indivíduos são capazes de influenciar proativamente seu próprio comportamento e o ambiente em que vivem, pois são dotados de capacidade de agência, como sustenta Albert Bandura.