Conceito do eu e da Personalidade
Citação de Cleia Ribeiro em setembro 4, 2023, 10:27 pmNa medida em que existem, na teoria freudiana, duas teorias tópicas do aparato psíquico, é corrente admitir-se que a noção de Eu só ganha realmente consistência e estatuto de conceito psicanalítico após a virada de 1920. Contudo, ainda assim, ela esteve presente desde o início, tendo sido constantemente renovada por sucessivas contribuições (a introdução do conceito de narcisismo, o destaque da noção de identificação etc.).
Nos anos 1890-1900, a experiência clínica das neuroses levou Freud a transformar a concepção tradicional de Eu como unificado, permanente e identificado à personalidade e à consciência. Com efeito, nos anos 1880, a psicopatologia já operava o desmantelamento da noção de um Eu uno, através do estudo das alterações e desdobramentos da personalidade, realizado, por exemplo, por Pierre Janet (1899). Janet afirmava que, na histeria, ocorria a formação de dois grupos de fenômenos: um constitutivo da personalidade comum e, outro, suscetível de se subdividir, referente a uma personalidade diferente da primeira e por ela ignorado. A interpretação freudiana desse fenômeno consistiu em entendê lo como a expressão de um conflito psíquico. O Eu, como "massa de representações" (Freud, 1893-1895/1994, p. 133), seria ameaçado por representações inconciliáveis com ele: o resultado seria uma defesa contra tal ameaça.
No último capítulo dos "Estudos sobre a histeria" (1893-1895/ 1994), dedicado à psicoterapia da histeria, Freud se refere ao "euconsciência" (Ich-Bewusstsein) (Freud, 1893-1895/1994, p. 196), descrevendo-o como um desfiladeiro que só permite a passagem de uma recordação patogênica de cada vez, podendo ser bloqueada enquanto o trabalho de elaboração não tiver vencido as resistências. Nesse momento, Eu e consciência ainda aparecem intimamente vinculados, embora o primeiro fosse mais amplo do que a segunda, designando um verdadeiro domínio psíquico (rapidamente assimilado ao sistema Pré-consciente/ Consciente). Além disso, as resistências do paciente são entendidas como provenientes do Eu, emanando do núcleo patogênico inconsciente que nele se infiltra. Nota-se que, apesar da assiilação entre Eu e consciência, a fronteira entre o primeiro e o inconsciente é frouxa, suscitando uma questão que Freud tentará resolver posteriormente, tanto apontando para uma resistência proveniente do Isso, quanto recorrendo à noção de um Eu inconsciente.
Seja como for, é para explicar metapsicologicamente como o Eu opera seu papel de operador das defesas que Freud se lança na tentativa de entender sua origem. Trata-se do célebre "Projeto para uma psicologia científica" (1895/1994), no qual a função do Eu é descrita como essencialmente inibidora, travando a passagem do fluxo de excitação quando este vier acompanhado de sofrimento. O modelo de aparato psíquico desenhado por Freud nesse momento não é psíquico, mas neurônico, ou seja, é composto por três sistemas de neurônios:, ? e ?. No sistema ?, há um grupo de neurônios constantemente investido que Freud define como Eu (Ich) e que, mesmo caracterizado pela totalidade dos investimentos em ?, é mais do que a soma de tais investimentos.
Freud faz referência a uma organização em ? cuja função é inibir a descarga de energia na ausência do objeto e é caracterizada por vários elementos: facilitação dos trilhamentos internos a essa organização, investimento constante por uma energia endógena e distinção entre uma parte permanente e outra variável. A permanência no Eu de um nível de investimento necessariamente constante (sua parte permanente) permitelhe inibir os processos primários, não apenas os que levam à alucinação, mas também os que provocariam desprazer.
Para responder à pergunta sobre como surge o Eu, Garcia-Roza (1991), em sua introdução à metapsicologia freudiana, sugere que, em um primeiro momento de indiferenciação original - mítico, por excelência -, teria ocorrido a experiência primária de satisfação acompanhada de prazer. Trata-se do prazer de órgão, e não do Princípio do Prazer, que somente surgirá através do processo de ligação (Bindung). A ligação consiste na contenção do livre escoamento das excitações, na passagem do estado de dispersão das excitações para o estado de integração, através dos trilhamentos (Bahnung) e dos investimentos colaterais (Seitenbesetzung). Quando a excitação atinge um neurônio, ela tende a distribuir-se através do que Freud chamou de barreiras de contato (os pontos de ligação entre os neurônios que atualmente designamos por sinapses), que oferecem menor resistência, em direção à descarga motora. É a energia livre. Porém, se ocorre o investimento simultâneo em um neurônio vizinho, pela simultaneidade do investimento e pela proximidade entre os neurônios, cria-se uma espécie de rede neural que altera o curso do investimento. É a energia ligada através do investimento colateral. Tais ligações vão constituir um primeiro esboço de organização que Freud chamou de Eu.
Na medida em que existem, na teoria freudiana, duas teorias tópicas do aparato psíquico, é corrente admitir-se que a noção de Eu só ganha realmente consistência e estatuto de conceito psicanalítico após a virada de 1920. Contudo, ainda assim, ela esteve presente desde o início, tendo sido constantemente renovada por sucessivas contribuições (a introdução do conceito de narcisismo, o destaque da noção de identificação etc.).
Nos anos 1890-1900, a experiência clínica das neuroses levou Freud a transformar a concepção tradicional de Eu como unificado, permanente e identificado à personalidade e à consciência. Com efeito, nos anos 1880, a psicopatologia já operava o desmantelamento da noção de um Eu uno, através do estudo das alterações e desdobramentos da personalidade, realizado, por exemplo, por Pierre Janet (1899). Janet afirmava que, na histeria, ocorria a formação de dois grupos de fenômenos: um constitutivo da personalidade comum e, outro, suscetível de se subdividir, referente a uma personalidade diferente da primeira e por ela ignorado. A interpretação freudiana desse fenômeno consistiu em entendê lo como a expressão de um conflito psíquico. O Eu, como "massa de representações" (Freud, 1893-1895/1994, p. 133), seria ameaçado por representações inconciliáveis com ele: o resultado seria uma defesa contra tal ameaça.
No último capítulo dos "Estudos sobre a histeria" (1893-1895/ 1994), dedicado à psicoterapia da histeria, Freud se refere ao "euconsciência" (Ich-Bewusstsein) (Freud, 1893-1895/1994, p. 196), descrevendo-o como um desfiladeiro que só permite a passagem de uma recordação patogênica de cada vez, podendo ser bloqueada enquanto o trabalho de elaboração não tiver vencido as resistências. Nesse momento, Eu e consciência ainda aparecem intimamente vinculados, embora o primeiro fosse mais amplo do que a segunda, designando um verdadeiro domínio psíquico (rapidamente assimilado ao sistema Pré-consciente/ Consciente). Além disso, as resistências do paciente são entendidas como provenientes do Eu, emanando do núcleo patogênico inconsciente que nele se infiltra. Nota-se que, apesar da assiilação entre Eu e consciência, a fronteira entre o primeiro e o inconsciente é frouxa, suscitando uma questão que Freud tentará resolver posteriormente, tanto apontando para uma resistência proveniente do Isso, quanto recorrendo à noção de um Eu inconsciente.
Seja como for, é para explicar metapsicologicamente como o Eu opera seu papel de operador das defesas que Freud se lança na tentativa de entender sua origem. Trata-se do célebre "Projeto para uma psicologia científica" (1895/1994), no qual a função do Eu é descrita como essencialmente inibidora, travando a passagem do fluxo de excitação quando este vier acompanhado de sofrimento. O modelo de aparato psíquico desenhado por Freud nesse momento não é psíquico, mas neurônico, ou seja, é composto por três sistemas de neurônios:, ? e ?. No sistema ?, há um grupo de neurônios constantemente investido que Freud define como Eu (Ich) e que, mesmo caracterizado pela totalidade dos investimentos em ?, é mais do que a soma de tais investimentos.
Freud faz referência a uma organização em ? cuja função é inibir a descarga de energia na ausência do objeto e é caracterizada por vários elementos: facilitação dos trilhamentos internos a essa organização, investimento constante por uma energia endógena e distinção entre uma parte permanente e outra variável. A permanência no Eu de um nível de investimento necessariamente constante (sua parte permanente) permitelhe inibir os processos primários, não apenas os que levam à alucinação, mas também os que provocariam desprazer.
Para responder à pergunta sobre como surge o Eu, Garcia-Roza (1991), em sua introdução à metapsicologia freudiana, sugere que, em um primeiro momento de indiferenciação original - mítico, por excelência -, teria ocorrido a experiência primária de satisfação acompanhada de prazer. Trata-se do prazer de órgão, e não do Princípio do Prazer, que somente surgirá através do processo de ligação (Bindung). A ligação consiste na contenção do livre escoamento das excitações, na passagem do estado de dispersão das excitações para o estado de integração, através dos trilhamentos (Bahnung) e dos investimentos colaterais (Seitenbesetzung). Quando a excitação atinge um neurônio, ela tende a distribuir-se através do que Freud chamou de barreiras de contato (os pontos de ligação entre os neurônios que atualmente designamos por sinapses), que oferecem menor resistência, em direção à descarga motora. É a energia livre. Porém, se ocorre o investimento simultâneo em um neurônio vizinho, pela simultaneidade do investimento e pela proximidade entre os neurônios, cria-se uma espécie de rede neural que altera o curso do investimento. É a energia ligada através do investimento colateral. Tais ligações vão constituir um primeiro esboço de organização que Freud chamou de Eu.
Citação de Anilton Reis de Castro em setembro 6, 2023, 12:32 amSegundo a ótica de Freud a personalidade se trata de uma estrutura psíquica que irá representar o todo das características emocionais e também do comportamento. É formada pelo Id, Ego (Eu) e Superego. O Ego (eu) é o mediador entre o impulsivo Id e o moral Superego.
O Id é parte mais primitiva da mente humana, trabalha na busca do prazer e necessidades. Desejando a satisfação imediata destes. o EU (Ego) trabalha freiando o Id, pois considera a realidade, portando analisa se a gratificação não implicará em consequências negativas e danosas.
O Ego é a parte da mente que trabalha na esfera da realidade, funcionando como uma espécie de mediador nas demandas do Id e nas restrições do Superego. O EU (Ego) é fundamental para a adaptação do indivíduo no mundo exterior.
O Superego, é o "juiz" da mente, representa a consciência moral que foi internalizada. É nele que se encontra: regras e valores morais. A sua ação é na busca pela perfeição e também pela repreensão de impulsos indesejados.
Segundo a ótica de Freud a personalidade se trata de uma estrutura psíquica que irá representar o todo das características emocionais e também do comportamento. É formada pelo Id, Ego (Eu) e Superego. O Ego (eu) é o mediador entre o impulsivo Id e o moral Superego.
O Id é parte mais primitiva da mente humana, trabalha na busca do prazer e necessidades. Desejando a satisfação imediata destes. o EU (Ego) trabalha freiando o Id, pois considera a realidade, portando analisa se a gratificação não implicará em consequências negativas e danosas.
O Ego é a parte da mente que trabalha na esfera da realidade, funcionando como uma espécie de mediador nas demandas do Id e nas restrições do Superego. O EU (Ego) é fundamental para a adaptação do indivíduo no mundo exterior.
O Superego, é o "juiz" da mente, representa a consciência moral que foi internalizada. É nele que se encontra: regras e valores morais. A sua ação é na busca pela perfeição e também pela repreensão de impulsos indesejados.