Conceito do Eu e da Personalidade
Citação de Aylton Batista de Oliveira em abril 30, 2024, 10:06 pmCURSO: FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE CLÍNICA
AYLTON BATISTA DE OLIVEIRA
CONCEITO DO EU E DA PERSONALIDADE
Objetivos de aprendizagem ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
- Reconhecer o processo de constituição do eu a partir dos estudos freudianos.
- Definir personalidade e psicanálise.
- Identificar as principais características do id, ego e superego.
Introdução
Neste capítulo, Sigmund Freud (1856–1939), foi quem pesquisou com seus pacientes os princípios da psicanalise e deu iniciou uma transformação na maneira como tratar os pacientes. Assim a psicanálise passa a ser um método terapêutico, um sistema de pensamento, um modo de transmissão e construção de saber analisar e supervisionar.
Os três pilares salientados por Freud são:
- O inconsciente,
- O complexo de Édipo
- A sexualidade.
Neste módulo, a partir dos estudos freudianos, será apresentado constituição do eu, cujo início está associada à questão do narcisismo primário e, na sequência, estudaremos o desenvolvimento da personalidade — que, segundo a psicanálise, é desenvolvida e constituída pelas três instâncias: id, ego e superego.
Estudamos as características do id, ego e superego mais profundamente —
O id como reservatório pulsional desorganizado,
O ego como instância do psiquismo que se relaciona com o mundo externo. A diferença fundamental entre o ego e o id é que o ego acata o princípio da realidade, diferenciando o que é da mente e o que do mundo externo, e o id segue o princípio do prazer, conhecendo somente a realidade subjetiva da mente.
O superego, por fim, é a instância cuja característica assemelha-se a um juiz no tocante ao ego e também impede a passagem dos impulsos do id. O Superego ou Supereu é a censura ativa, que inibe as pulsões do Id.
CONSTITUIÇÃO DO EU A PARTIR DOS ESTUDOS FREUDIANOS
Ao nascer, o ser humano não diferencia os limites de seu corpo, onde as sensações internas e externas encontram-se em completa desordem, com o seu desenvolvimento, o corpo começa a ser definido, iniciando assim a constituição do seu esquema e imagem corporal e a estruturação do seu ‘eu’.
Este desenvolvimento ocorre numa ordem dialética, que envolve sempre ele e o outro. Esta experiência inicial levará o ser humana a conhecer o corpo e permanecerá ao longo de toda a formação do aparelho psíquico, está experiência vai gerar uma cisão ou divisão. Esta cisão provoca um conflito com relação às pulsões que eram amplamente satisfeitas antes do nascimento e após o nascimento enfrenta uma nova realidade que deverá ser confrontada, que possui limites. O ‘eu’ necessita lidar e cessar ambas estimulações, tanto internas quanto externas, e fracassa, fica dividido, como uma falha que não se completa e permanecerá como um núcleo inacessível de caráter traumático onde se destinarão a formação dos sintomas e as fantasias (FREUD, 1996b).
Essa cisão, significa que o aparelho psíquico já contém uma falha, que é a lógica do sujeito dividido do inconsciente. O ‘eu’ é uma instância que não se conclui, pois em seu âmago possui esta divisão e se formará ao redor dela. Tudo que é externo, será avaliado se é algo bom ou mal. Sendo bom deve ser incorporado e o que for ruim deve ser descartado.
Num segundo estágio de desenvolvimento, após distinguir o que é interno e e o que é externo ao organismo, o que diz respeito a si e o que não lhe diz respeito, haverá uma avaliação da presença real do que foi representado no psiquismo. Esse confronto com a realidade acontece somente à medida que os objetos perdidos se tornam objetos de desejo, por terem sido satisfeitos anteriormente.
O que é subjetivo e objetivo só é diferenciado com o andamento do desenvolvimento,
Freud afirma que no id encontra-se nossa herança filogenética coloca esta instância no discursivo da alteridade. Assim o id seria uma figura de alteridade por excelência e que, a partir de diferenciações, produziria diferentes instâncias do ideal do eu e o supereu. Freud (1923) revela que o caráter do eu é um precipitado de catexias objetais abandonadas e ele contém a história dessas escolhas de objeto. O eu é formado a partir de identificações que tomam o lugar de catexias abandonadas pelo id.
Na fase em que as inscrições no ‘eu’ são traços, Freud denominou de identificação inaugural ou primordial, o recém-nascido encontra-se no estado de desamparo inicial, que é a abertura à estruturação do psiquismo, observando-se um desencontro entre este desamparo, o estado de urgência e o objeto original que se perdeu.
A identificação é uma “[...] forma original de laço emocional com um objeto [...]”. Os traços são permanentes e estarão se instaurando e se inscrevendo no aparelho psíquico, criando a memória.
Nesse estágio, o ‘eu’ emerge das investidas no mundo externo, para obter satisfação, gerando uma identidade de memória, traços onde o ‘eu’ é da mesma forma um objeto, aspecto tratado por Freud sobre o narcisismo: Esse narcisismo primário é contemporâneo da constituição do eu. A primeira predileção amorosa das crianças ocorre entre as pessoas que as cuidam, que se preocupam com a alimentação, promovendo a escolha narcisista, onde a criança busca a si mesma como um objeto de amor, numa etapa prematura à plena capacidade de se voltar para objetos externos. Ou seja, é pela via narcísica que nasce o “eu ideal
Para lidar com as perdas insustentáveis para o id, o eu empreende e forma uma identidade ilusória com os vestígios dos outros que cruzaram a área pulsional do sujeito. Essas questões ocorrem de forma implacável no estado narcísico do eu ideal e do ideal do eu.
Segundo Feres, “o represamento da libido no eu é sentido como desprazeroso [...]” “quando acontece um excesso, ‘a vida psíquica se vê forçada a ultrapassar fronteiras do narcisismo e depositar a libido nos objetos’” (FREUD, 1914/2004, p. 105 apud FERES, 2009, p. 61).
Enquanto o eu-ideal se encontra (narcisismo primário) de forma perfeita e completa, coincide com o eu-prazer, há uma posse do deleite desse momento, o ideal do eu é baseado nos imperativos sociais. É um movimento de suplantação, e não de substituição, efetivo do eu-ideal pelo ideal do outro. O narcisismo irá sinalizar que o eu se constitui alicerçado a um outro. Outro esse que, por seu intermédio, se institui e se forma a partir da imagem do outro, como um espelho.
No seu artigo: A Hereditariedade e a Etiologia das Neuroses, de 1896, Freud utiliza pela primeira vez a palavra “psicoanálise”, para denominar um método particular de psicoterapia (tratamento pela fala) pautado na investigação do inconsciente, com o auxílio da associação livre, por parte do paciente, e da interpretação, por parte do psicanalista.
O termo psicanálise, abrange:
1) tratamento realizado conforme esse método;
2) abordagem fundada por Freud que compreende um método terapêutico, uma organização clínica, uma técnica psicanalítica, um sistema de pensamento e um modo de transmissão do saber (análise didática, supervisão) que se fundamenta na transferência e outorga formar praticantes do inconsciente; 3) uma escola de pensamento que engloba todas as correntes do freudismo.
Em 1922, Freud salienta seus pilares teóricos: o inconsciente, o complexo de édipo, a resistência, o recalque e a sexualidade. Muitas vezes Freud fez correções, discussões, retificações, supressões, melhorias e ampliações até o final da vida, portanto, faz-se necessário o entendimento da sua metapsicologia e de seus principais princípios.
Metapsicologia é um termo criado por Freud, onde estão os conceitos básicos de psicanálise, que corresponderia a um saber aberto à experiência, a revisões sistemáticas e decorrente do uso e da referência permanente desses conceitos. Grande parte da obra freudiana pode ser agrupada sob o título metapsicologia.
Segundo Zimerman (2007, p. 131), “pode-se depreender a existência de vários e distintos princípios agindo simultaneamente e interagindo entre si, embora cada um mantenha uma autonomia conceitual, com regras e leis específicas” e dentre os vários princípios destaca oito mais importantes:
- Existência do inconsciente;
- Existência das pulsões;
- Determinismo psíquico;
- Princípio do prazer — desprazer
- Princípio da realidade;
- Princípio da constância;
- Ponto de vista econômico do psiquismo;
- Compulsão a repetição, da negatividade e o princípio da incerteza.
O autor nesta capitulo analisa os dois mais significativos para o entendimento da psicanálise:
PRINCÍPIO DA EXISTÊNCIA DO INCONSCIENTE
O inconsciente, na psicanálise, é um lugar que a consciência desconhece. O inconsciente se revela à consciência por meio do sonho, dos lapsos, dos jogos de palavras e dos atos falhos. O inconsciente é simultaneamente interno ao sujeito (e a sua consciência) e externo no sentido de que não pode ser dominado pelo pensamento consciente.
PRINCÍPIO DA EXISTÊNCIA DAS PULSÕES
As pulsões, um grande conceito da psicanálise, são representações psicológicas das excitações provenientes do corpo e chegam ao psiquismo.
Freud definiu quatro características das pulsões:
- Força ou pressão (âmago da pulsão e a posiciona como o motor da atividade psíquica;
- Alvo (a satisfação implica a eliminação da excitação que se encontra na gênese da pulsão;
- Objeto (é o meio dela atingir seu alvo);
- Fonte (é o processo somático, posicionado numa parte do corpo ou num órgão, cuja excitação é representada no psiquismo pela pulsão).
Em 1933, nas Novas conferências introdutórias sobre psicanálise, Freud refere que a pulsão de morte está presente em qualquer processo de vida, pois afronta-se com a pulsão de vida ou pulsões do eu.
PERSONALIDADE
Na psicanálise a personalidade é constituída pelos três grandes sistemas: o id, o ego e o superego.
1) O id é o sistema originário da personalidade, é a instância inconsciente, sendo o reservatório das energias psíquicas, onde se localizam as pulsões, os instintos, os desejos. São impulsos com uma torrente de energia ilimitada que exerce pressão contínua sobre a personalidade, cujo objetivo é a satisfação imediata para reduzir a tensão, pois é regido pelo princípio do prazer, que a realidade impede esta descarga e está presente desde o nascimento.
2) O ego representa a realidade, tenta equilibrar as demandas do id com as exigências da realidade do mundo externo e as ordens do superego. É a instância que busca manter a segurança do indivíduo e ajuda na integração com a sociedade. O ego é regido pelo princípio da realidade, sendo um regulador com as funções básicas de percepção, memória, sentimento e pensamento. O ego representa a personalidade, é o “eu” do indivíduo, que toma decisões e controla ações considerando as condições objetivas da realidade (sociedade) e se desenvolve desde o nascimento.
3) O superego se forma no desenvolvimento da infância, quando ocorre a internalização das proibições, dos limites e da autoridade imposta pelos pais e professores — em conformidade com a realidade. Quando as exigências sociais e culturais são internalizadas, ninguém mais necessita “dizer
Para Freud, a personalidade se desenvolve por meio de cinco estágios:
- Oral,
- Anal,
- Fálico,
- Latência
- Genital
Durante estes estágios os quais as crianças enfrentam conflitos originados pelas demandas da sociedade e os próprios impulsos sexuais (nessas fases a sexualidade é relacionada com a experiência do prazer; e, não do prazer das relações sexuais da fase genital).
Esses conflitos, quando não solucionados em determinada fase, implicam numa fixação nesse estágio que persistem até a fase adulta. O entendimento e o conhecimento dessa estrutura, com as experiências e dificuldades dos estágios, podem indicar características específicas na personalidade adulta.
A dinâmica que ocorre no desenvolvimento da personalidade e os conflitos enfrentados geram ansiedade e, para dar conta do desconforto e desprazer, Freud atribuiu esse processo aos mecanismos de defesa, operado pelo ego que exclui da consciência os conteúdos indesejáveis, protegendo o aparelho psíquico.
O ego movimenta esses recursos para suprimir ou dissimular a percepção de perigo interno, com estratégias de defesa inconscientes para reduzir a ansiedade, alterando a percepção da realidade, encobrindo a fonte de ansiedade de si mesmo.
Os mecanismos de defesa utilizados são:
- Repressão,
- Regressão,
- Deslocamento,
- Racionalização,
- Negação,
- Projeção,
- Sublimação
- Formação reativa,
Estes mecanismos podem ser utilizados de forma ampla e variada para defesa da ansiedade. As pessoas utilizam esses mecanismos de defesa em algum grau e, quando se tornam excessivos, para esconder e recanalizar os impulsos inconcebíveis, podem gerar transtorno mental produzido pela ansiedade — que Freud denominou de “neurose”.
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO ID, EGO E SUPEREGO
Segundo a psicanálise, o aparelho psíquico constitui-se de instâncias, no qual a atividade mental é instituída por um dinamismo psíquico, conduzido pelo conceito de um inconsciente dinâmico.
- O id é o reservatório pulsional desorganizado, constituído num legítimo caos, sendo sede das paixões indomesticáveis, sem a intervenção do eu, é sede da pulsão de vida e de morte. Representa o mundo interno da experiência subjetiva, que Freud chamou de “a verdadeira realidade psíquica”. Quando o nível de tensão do organismo intensifica-se, devido a estimulações externas ou de excitações internamente construídas, o id atua descarregando a tensão de imediato e faz o organismo retroceder a um nível de energia apropriado, constante e baixo. Esse preceito de atenuação de tensão realizado pelo id é chamado de princípio do prazer, ou seja, o id não suporta o desprazer.
Para sentir prazer e livrar-se da dor, o id tem sob seu controle dois processos: As ações reflexas e o processo primário.
- As ações reflexas são respostas naturais e espontâneas, como tossir e bocejar, que eliminam a tensão imediatamente. O organismo é munido com vários desses reflexos que resolvem as excitações simples.
- O processo primário abrange ações mais complexas. Para aliviar a tensão, forma uma imagem de um objeto que irá afastar a tensão. Esse processo da experiência imaginária alucinatória em que o objeto desejado é apresentado através de uma imagem de memória é chamado de realização do desejo. Os sonhos, alucinações e visões dos psicóticos são exemplos do processo primário, “essas imagens mentais de realização do desejo são a única realidade conhecida pelo id”.
A perspectiva imaginária da vida psíquica manifesta-se na consciência em duas situações: como conteúdo manifesto e como conteúdo latente (inconsciente e dissimulado).
- O ego é a instância mental que percebe e vigia todos os seus processos próprios e constituídos e que mesmo ao dormir à noite, ainda exerce uma dominação sobre os sonhos, é regido pelo princípio da realidade. Nisso observa-se a atuação da repressão, em razão disso busca excluir da mente certas disposições, não somente da consciência como também de outras formas de conhecimento e atividade.
Freud reconhece que o inconsciente não corresponde ao reprimido; mas tudo o que é reprimido é inconsciente. Como também parte do ego pode ser inconsciente. “[...] o ego é aquela parte do id que foi modificada pela influência direta do mundo externo, por intermédio do [processo da percepção-consciência]”. Para que algo se torne consciente e pré-consciente será necessário se conectar às representações verbais equivalentes.
Freud explicita: Faz parte da natureza que sentimentos, emoções e afetos sejam conhecidos pela consciência, ficando excluída a possibilidade de serem inconscientes. O impulso afetivo original é inconsciente, porém seu afeto nunca foi inconsciente, pois somente a sua ideia foi reprimida. Ou seja, afeto inconsciente e emoção inconsciente são transformações sofridas devido à repressão por motivos quantitativos no impulso instintual. E o que existe são ideias inconscientes. Porém, pode existir estruturas afetivas no sistema inconsciente, que podem tornar-se conscientes.
O ego é a instância do psiquismo que se relaciona com o mundo externo. A diferença fundamental entre o ego e o id é que o ego acata o princípio da realidade, diferenciando o que é da mente e o que do mundo externo e o id segue o princípio do prazer conhecendo somente a realidade subjetiva da mente.
O ego é o executivo da personalidade porque ele controla o acesso à ação, seleciona as características do ambiente às quais irá responder e decide que instintos (pulsões) serão satisfeitos e de que maneira. Essa não é uma tarefa fácil e em geral coloca grande tensão sobre o ego. O ego é a porção organizada do id, que passa a existir para atingir os objetivos do id e não para frustrá-los, e que todo o seu poder se deriva do id [...] nunca se torna completamente independente.
- O superego é a instância cuja característica assemelha-se a um juiz no tocante ao ego e visa também impedir a passagem dos impulsos do id. É o último a se desenvolver na estrutura da personalidade, sendo a força moral, representa as normas e valores, internalizando os padrões morais dos pais e pelo sistema de punições (sentimento de culpa) quando a criança faz algo errado e recompensas quando realiza algo de forma satisfatória. Se desenvolve durante a fase fálica (dos três aos cinco anos) durante o complexo edípico.
Ao estudarmos a constituição do eu, abordamos o narcisismo primário (eu ideal) que a criança abandona quando enfrenta outro ideal — o ideal do eu.
Os conflitos entre o eu e o ideal representarão a oposição entre a realidade e o psíquico, o mundo externo e o mundo interno.
Freud, em 1933, forneceu um quadro pormenorizado da formação do superego e suas funções. A formação do superego é correlacionada a extinção da estrutura edipiana.
1) Num primeiro momento, o superego é constituído pela autoridade dos pais na evolução infantil, com a alternância as provas de amor e as punições.
2) Num segundo momento, a criança abdica à satisfação edipiana, e as proibições externas são internalizadas. Esse é o momento que o superego substitui a instância parental por meio de uma identificação e a partir de então passa a ser a sede de auto-observação, como detentor da consciência moral, convertendo-se no portador do ideal do eu, A severidade e o caráter repressivo do supereu não devem ser concebidos como pura e simples repetição das características parentais. Essa severidade e essa tendência repressora manifestam-se com força ainda maior, com efeito, nos casos em que o sujeito recebe uma educação benevolente que exclua toda e qualquer forma de brutalidade; essas características são produto do adestramento precoce das pulsões sexuais e agressivas por um superego colocado a serviço das exigências da cultura.
O Ego é o comandante dos sistemas da estrutura da personalidade humana, que interagem e se afastam de forma dinâmica, num trabalho conjunto e harmônico.
Este capítulo sobre o EU E A PERSONALIDADE, me trouxe uma abertura maravilhosa para poder compreender melhor as possíveis dificuldade futuras que enfrentarei no atendimento aos meus pacientes, dando-me um percepção de onde pode estar vindo seus problemas psíquicos.
CURSO: FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE CLÍNICA
AYLTON BATISTA DE OLIVEIRA
CONCEITO DO EU E DA PERSONALIDADE
Objetivos de aprendizagem ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
- Reconhecer o processo de constituição do eu a partir dos estudos freudianos.
- Definir personalidade e psicanálise.
- Identificar as principais características do id, ego e superego.
Introdução
Neste capítulo, Sigmund Freud (1856–1939), foi quem pesquisou com seus pacientes os princípios da psicanalise e deu iniciou uma transformação na maneira como tratar os pacientes. Assim a psicanálise passa a ser um método terapêutico, um sistema de pensamento, um modo de transmissão e construção de saber analisar e supervisionar.
Os três pilares salientados por Freud são:
- O inconsciente,
- O complexo de Édipo
- A sexualidade.
Neste módulo, a partir dos estudos freudianos, será apresentado constituição do eu, cujo início está associada à questão do narcisismo primário e, na sequência, estudaremos o desenvolvimento da personalidade — que, segundo a psicanálise, é desenvolvida e constituída pelas três instâncias: id, ego e superego.
Estudamos as características do id, ego e superego mais profundamente —
O id como reservatório pulsional desorganizado,
O ego como instância do psiquismo que se relaciona com o mundo externo. A diferença fundamental entre o ego e o id é que o ego acata o princípio da realidade, diferenciando o que é da mente e o que do mundo externo, e o id segue o princípio do prazer, conhecendo somente a realidade subjetiva da mente.
O superego, por fim, é a instância cuja característica assemelha-se a um juiz no tocante ao ego e também impede a passagem dos impulsos do id. O Superego ou Supereu é a censura ativa, que inibe as pulsões do Id.
CONSTITUIÇÃO DO EU A PARTIR DOS ESTUDOS FREUDIANOS
Ao nascer, o ser humano não diferencia os limites de seu corpo, onde as sensações internas e externas encontram-se em completa desordem, com o seu desenvolvimento, o corpo começa a ser definido, iniciando assim a constituição do seu esquema e imagem corporal e a estruturação do seu ‘eu’.
Este desenvolvimento ocorre numa ordem dialética, que envolve sempre ele e o outro. Esta experiência inicial levará o ser humana a conhecer o corpo e permanecerá ao longo de toda a formação do aparelho psíquico, está experiência vai gerar uma cisão ou divisão. Esta cisão provoca um conflito com relação às pulsões que eram amplamente satisfeitas antes do nascimento e após o nascimento enfrenta uma nova realidade que deverá ser confrontada, que possui limites. O ‘eu’ necessita lidar e cessar ambas estimulações, tanto internas quanto externas, e fracassa, fica dividido, como uma falha que não se completa e permanecerá como um núcleo inacessível de caráter traumático onde se destinarão a formação dos sintomas e as fantasias (FREUD, 1996b).
Essa cisão, significa que o aparelho psíquico já contém uma falha, que é a lógica do sujeito dividido do inconsciente. O ‘eu’ é uma instância que não se conclui, pois em seu âmago possui esta divisão e se formará ao redor dela. Tudo que é externo, será avaliado se é algo bom ou mal. Sendo bom deve ser incorporado e o que for ruim deve ser descartado.
Num segundo estágio de desenvolvimento, após distinguir o que é interno e e o que é externo ao organismo, o que diz respeito a si e o que não lhe diz respeito, haverá uma avaliação da presença real do que foi representado no psiquismo. Esse confronto com a realidade acontece somente à medida que os objetos perdidos se tornam objetos de desejo, por terem sido satisfeitos anteriormente.
O que é subjetivo e objetivo só é diferenciado com o andamento do desenvolvimento,
Freud afirma que no id encontra-se nossa herança filogenética coloca esta instância no discursivo da alteridade. Assim o id seria uma figura de alteridade por excelência e que, a partir de diferenciações, produziria diferentes instâncias do ideal do eu e o supereu. Freud (1923) revela que o caráter do eu é um precipitado de catexias objetais abandonadas e ele contém a história dessas escolhas de objeto. O eu é formado a partir de identificações que tomam o lugar de catexias abandonadas pelo id.
Na fase em que as inscrições no ‘eu’ são traços, Freud denominou de identificação inaugural ou primordial, o recém-nascido encontra-se no estado de desamparo inicial, que é a abertura à estruturação do psiquismo, observando-se um desencontro entre este desamparo, o estado de urgência e o objeto original que se perdeu.
A identificação é uma “[...] forma original de laço emocional com um objeto [...]”. Os traços são permanentes e estarão se instaurando e se inscrevendo no aparelho psíquico, criando a memória.
Nesse estágio, o ‘eu’ emerge das investidas no mundo externo, para obter satisfação, gerando uma identidade de memória, traços onde o ‘eu’ é da mesma forma um objeto, aspecto tratado por Freud sobre o narcisismo: Esse narcisismo primário é contemporâneo da constituição do eu. A primeira predileção amorosa das crianças ocorre entre as pessoas que as cuidam, que se preocupam com a alimentação, promovendo a escolha narcisista, onde a criança busca a si mesma como um objeto de amor, numa etapa prematura à plena capacidade de se voltar para objetos externos. Ou seja, é pela via narcísica que nasce o “eu ideal
Para lidar com as perdas insustentáveis para o id, o eu empreende e forma uma identidade ilusória com os vestígios dos outros que cruzaram a área pulsional do sujeito. Essas questões ocorrem de forma implacável no estado narcísico do eu ideal e do ideal do eu.
Segundo Feres, “o represamento da libido no eu é sentido como desprazeroso [...]” “quando acontece um excesso, ‘a vida psíquica se vê forçada a ultrapassar fronteiras do narcisismo e depositar a libido nos objetos’” (FREUD, 1914/2004, p. 105 apud FERES, 2009, p. 61).
Enquanto o eu-ideal se encontra (narcisismo primário) de forma perfeita e completa, coincide com o eu-prazer, há uma posse do deleite desse momento, o ideal do eu é baseado nos imperativos sociais. É um movimento de suplantação, e não de substituição, efetivo do eu-ideal pelo ideal do outro. O narcisismo irá sinalizar que o eu se constitui alicerçado a um outro. Outro esse que, por seu intermédio, se institui e se forma a partir da imagem do outro, como um espelho.
No seu artigo: A Hereditariedade e a Etiologia das Neuroses, de 1896, Freud utiliza pela primeira vez a palavra “psicoanálise”, para denominar um método particular de psicoterapia (tratamento pela fala) pautado na investigação do inconsciente, com o auxílio da associação livre, por parte do paciente, e da interpretação, por parte do psicanalista.
O termo psicanálise, abrange:
1) tratamento realizado conforme esse método;
2) abordagem fundada por Freud que compreende um método terapêutico, uma organização clínica, uma técnica psicanalítica, um sistema de pensamento e um modo de transmissão do saber (análise didática, supervisão) que se fundamenta na transferência e outorga formar praticantes do inconsciente; 3) uma escola de pensamento que engloba todas as correntes do freudismo.
Em 1922, Freud salienta seus pilares teóricos: o inconsciente, o complexo de édipo, a resistência, o recalque e a sexualidade. Muitas vezes Freud fez correções, discussões, retificações, supressões, melhorias e ampliações até o final da vida, portanto, faz-se necessário o entendimento da sua metapsicologia e de seus principais princípios.
Metapsicologia é um termo criado por Freud, onde estão os conceitos básicos de psicanálise, que corresponderia a um saber aberto à experiência, a revisões sistemáticas e decorrente do uso e da referência permanente desses conceitos. Grande parte da obra freudiana pode ser agrupada sob o título metapsicologia.
Segundo Zimerman (2007, p. 131), “pode-se depreender a existência de vários e distintos princípios agindo simultaneamente e interagindo entre si, embora cada um mantenha uma autonomia conceitual, com regras e leis específicas” e dentre os vários princípios destaca oito mais importantes:
- Existência do inconsciente;
- Existência das pulsões;
- Determinismo psíquico;
- Princípio do prazer — desprazer
- Princípio da realidade;
- Princípio da constância;
- Ponto de vista econômico do psiquismo;
- Compulsão a repetição, da negatividade e o princípio da incerteza.
O autor nesta capitulo analisa os dois mais significativos para o entendimento da psicanálise:
PRINCÍPIO DA EXISTÊNCIA DO INCONSCIENTE
O inconsciente, na psicanálise, é um lugar que a consciência desconhece. O inconsciente se revela à consciência por meio do sonho, dos lapsos, dos jogos de palavras e dos atos falhos. O inconsciente é simultaneamente interno ao sujeito (e a sua consciência) e externo no sentido de que não pode ser dominado pelo pensamento consciente.
PRINCÍPIO DA EXISTÊNCIA DAS PULSÕES
As pulsões, um grande conceito da psicanálise, são representações psicológicas das excitações provenientes do corpo e chegam ao psiquismo.
Freud definiu quatro características das pulsões:
- Força ou pressão (âmago da pulsão e a posiciona como o motor da atividade psíquica;
- Alvo (a satisfação implica a eliminação da excitação que se encontra na gênese da pulsão;
- Objeto (é o meio dela atingir seu alvo);
- Fonte (é o processo somático, posicionado numa parte do corpo ou num órgão, cuja excitação é representada no psiquismo pela pulsão).
Em 1933, nas Novas conferências introdutórias sobre psicanálise, Freud refere que a pulsão de morte está presente em qualquer processo de vida, pois afronta-se com a pulsão de vida ou pulsões do eu.
PERSONALIDADE
Na psicanálise a personalidade é constituída pelos três grandes sistemas: o id, o ego e o superego.
1) O id é o sistema originário da personalidade, é a instância inconsciente, sendo o reservatório das energias psíquicas, onde se localizam as pulsões, os instintos, os desejos. São impulsos com uma torrente de energia ilimitada que exerce pressão contínua sobre a personalidade, cujo objetivo é a satisfação imediata para reduzir a tensão, pois é regido pelo princípio do prazer, que a realidade impede esta descarga e está presente desde o nascimento.
2) O ego representa a realidade, tenta equilibrar as demandas do id com as exigências da realidade do mundo externo e as ordens do superego. É a instância que busca manter a segurança do indivíduo e ajuda na integração com a sociedade. O ego é regido pelo princípio da realidade, sendo um regulador com as funções básicas de percepção, memória, sentimento e pensamento. O ego representa a personalidade, é o “eu” do indivíduo, que toma decisões e controla ações considerando as condições objetivas da realidade (sociedade) e se desenvolve desde o nascimento.
3) O superego se forma no desenvolvimento da infância, quando ocorre a internalização das proibições, dos limites e da autoridade imposta pelos pais e professores — em conformidade com a realidade. Quando as exigências sociais e culturais são internalizadas, ninguém mais necessita “dizer
Para Freud, a personalidade se desenvolve por meio de cinco estágios:
- Oral,
- Anal,
- Fálico,
- Latência
- Genital
Durante estes estágios os quais as crianças enfrentam conflitos originados pelas demandas da sociedade e os próprios impulsos sexuais (nessas fases a sexualidade é relacionada com a experiência do prazer; e, não do prazer das relações sexuais da fase genital).
Esses conflitos, quando não solucionados em determinada fase, implicam numa fixação nesse estágio que persistem até a fase adulta. O entendimento e o conhecimento dessa estrutura, com as experiências e dificuldades dos estágios, podem indicar características específicas na personalidade adulta.
A dinâmica que ocorre no desenvolvimento da personalidade e os conflitos enfrentados geram ansiedade e, para dar conta do desconforto e desprazer, Freud atribuiu esse processo aos mecanismos de defesa, operado pelo ego que exclui da consciência os conteúdos indesejáveis, protegendo o aparelho psíquico.
O ego movimenta esses recursos para suprimir ou dissimular a percepção de perigo interno, com estratégias de defesa inconscientes para reduzir a ansiedade, alterando a percepção da realidade, encobrindo a fonte de ansiedade de si mesmo.
Os mecanismos de defesa utilizados são:
- Repressão,
- Regressão,
- Deslocamento,
- Racionalização,
- Negação,
- Projeção,
- Sublimação
- Formação reativa,
Estes mecanismos podem ser utilizados de forma ampla e variada para defesa da ansiedade. As pessoas utilizam esses mecanismos de defesa em algum grau e, quando se tornam excessivos, para esconder e recanalizar os impulsos inconcebíveis, podem gerar transtorno mental produzido pela ansiedade — que Freud denominou de “neurose”.
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO ID, EGO E SUPEREGO
Segundo a psicanálise, o aparelho psíquico constitui-se de instâncias, no qual a atividade mental é instituída por um dinamismo psíquico, conduzido pelo conceito de um inconsciente dinâmico.
- O id é o reservatório pulsional desorganizado, constituído num legítimo caos, sendo sede das paixões indomesticáveis, sem a intervenção do eu, é sede da pulsão de vida e de morte. Representa o mundo interno da experiência subjetiva, que Freud chamou de “a verdadeira realidade psíquica”. Quando o nível de tensão do organismo intensifica-se, devido a estimulações externas ou de excitações internamente construídas, o id atua descarregando a tensão de imediato e faz o organismo retroceder a um nível de energia apropriado, constante e baixo. Esse preceito de atenuação de tensão realizado pelo id é chamado de princípio do prazer, ou seja, o id não suporta o desprazer.
Para sentir prazer e livrar-se da dor, o id tem sob seu controle dois processos: As ações reflexas e o processo primário.
- As ações reflexas são respostas naturais e espontâneas, como tossir e bocejar, que eliminam a tensão imediatamente. O organismo é munido com vários desses reflexos que resolvem as excitações simples.
- O processo primário abrange ações mais complexas. Para aliviar a tensão, forma uma imagem de um objeto que irá afastar a tensão. Esse processo da experiência imaginária alucinatória em que o objeto desejado é apresentado através de uma imagem de memória é chamado de realização do desejo. Os sonhos, alucinações e visões dos psicóticos são exemplos do processo primário, “essas imagens mentais de realização do desejo são a única realidade conhecida pelo id”.
A perspectiva imaginária da vida psíquica manifesta-se na consciência em duas situações: como conteúdo manifesto e como conteúdo latente (inconsciente e dissimulado).
- O ego é a instância mental que percebe e vigia todos os seus processos próprios e constituídos e que mesmo ao dormir à noite, ainda exerce uma dominação sobre os sonhos, é regido pelo princípio da realidade. Nisso observa-se a atuação da repressão, em razão disso busca excluir da mente certas disposições, não somente da consciência como também de outras formas de conhecimento e atividade.
Freud reconhece que o inconsciente não corresponde ao reprimido; mas tudo o que é reprimido é inconsciente. Como também parte do ego pode ser inconsciente. “[...] o ego é aquela parte do id que foi modificada pela influência direta do mundo externo, por intermédio do [processo da percepção-consciência]”. Para que algo se torne consciente e pré-consciente será necessário se conectar às representações verbais equivalentes.
Freud explicita: Faz parte da natureza que sentimentos, emoções e afetos sejam conhecidos pela consciência, ficando excluída a possibilidade de serem inconscientes. O impulso afetivo original é inconsciente, porém seu afeto nunca foi inconsciente, pois somente a sua ideia foi reprimida. Ou seja, afeto inconsciente e emoção inconsciente são transformações sofridas devido à repressão por motivos quantitativos no impulso instintual. E o que existe são ideias inconscientes. Porém, pode existir estruturas afetivas no sistema inconsciente, que podem tornar-se conscientes.
O ego é a instância do psiquismo que se relaciona com o mundo externo. A diferença fundamental entre o ego e o id é que o ego acata o princípio da realidade, diferenciando o que é da mente e o que do mundo externo e o id segue o princípio do prazer conhecendo somente a realidade subjetiva da mente.
O ego é o executivo da personalidade porque ele controla o acesso à ação, seleciona as características do ambiente às quais irá responder e decide que instintos (pulsões) serão satisfeitos e de que maneira. Essa não é uma tarefa fácil e em geral coloca grande tensão sobre o ego. O ego é a porção organizada do id, que passa a existir para atingir os objetivos do id e não para frustrá-los, e que todo o seu poder se deriva do id [...] nunca se torna completamente independente.
- O superego é a instância cuja característica assemelha-se a um juiz no tocante ao ego e visa também impedir a passagem dos impulsos do id. É o último a se desenvolver na estrutura da personalidade, sendo a força moral, representa as normas e valores, internalizando os padrões morais dos pais e pelo sistema de punições (sentimento de culpa) quando a criança faz algo errado e recompensas quando realiza algo de forma satisfatória. Se desenvolve durante a fase fálica (dos três aos cinco anos) durante o complexo edípico.
Ao estudarmos a constituição do eu, abordamos o narcisismo primário (eu ideal) que a criança abandona quando enfrenta outro ideal — o ideal do eu.
Os conflitos entre o eu e o ideal representarão a oposição entre a realidade e o psíquico, o mundo externo e o mundo interno.
Freud, em 1933, forneceu um quadro pormenorizado da formação do superego e suas funções. A formação do superego é correlacionada a extinção da estrutura edipiana.
1) Num primeiro momento, o superego é constituído pela autoridade dos pais na evolução infantil, com a alternância as provas de amor e as punições.
2) Num segundo momento, a criança abdica à satisfação edipiana, e as proibições externas são internalizadas. Esse é o momento que o superego substitui a instância parental por meio de uma identificação e a partir de então passa a ser a sede de auto-observação, como detentor da consciência moral, convertendo-se no portador do ideal do eu, A severidade e o caráter repressivo do supereu não devem ser concebidos como pura e simples repetição das características parentais. Essa severidade e essa tendência repressora manifestam-se com força ainda maior, com efeito, nos casos em que o sujeito recebe uma educação benevolente que exclua toda e qualquer forma de brutalidade; essas características são produto do adestramento precoce das pulsões sexuais e agressivas por um superego colocado a serviço das exigências da cultura.
O Ego é o comandante dos sistemas da estrutura da personalidade humana, que interagem e se afastam de forma dinâmica, num trabalho conjunto e harmônico.
Este capítulo sobre o EU E A PERSONALIDADE, me trouxe uma abertura maravilhosa para poder compreender melhor as possíveis dificuldade futuras que enfrentarei no atendimento aos meus pacientes, dando-me um percepção de onde pode estar vindo seus problemas psíquicos.