ESPELHO: NARCISIMO E CONSTRUÇÃO DO EU
Segundo Calligaris (2007), na sociedade atual referir-se a alguém como narcisista, entre os leigos, trata-se de alguém apaixonado por si mesmo, como o Narciso do mito. Na clínica, o sentido da expressão é diferente: o traço dominante da “personalidade narcisista” é a insegurança. Narcisista é quem está sempre se questionando: “O que os outros enxergam em mim? Será que gostam do que vêem?” O narcisista na clínica, segundo esse psicanalista, trata-se de um sujeito que seria dramaticamente atormentado pelo sentimento de que sua imagem depende do olhar dos outros.
Os conceitos de espelho, narcisismo e construção do eu, imagem segundo a psicanálise, são temas complexos e fascinantes que envolvem a relação do sujeito consigo mesmo e com o outro. A psicanálise, fundada por Freud e desenvolvida por Lacan, entre outros, oferece uma abordagem original e profunda sobre esses conceitos, que podem ser resumidos da seguinte forma:
- O espelho é um instrumento que permite ao sujeito se ver como um todo, mas também como um outro. O estádio do espelho, proposto por Lacan, é uma fase do desenvolvimento infantil em que a criança se reconhece na imagem refletida e adquire uma noção de si mesma, mas também de alteridade. Nesse momento, o sujeito se identifica com o outro que é ele mesmo, mas também se aliena nessa imagem idealizada. O espelho é, portanto, uma fonte de ilusão e de conflito para o sujeito.
- O narcisismo é um conceito freudiano que designa o amor do sujeito por si mesmo, mas também a sua dependência do olhar do outro. Freud distingue dois tipos de narcisismo: o primário e o secundário. O narcisismo primário é uma fase inicial em que o bebê vive em um estado de autoerotismo e de fusão com a mãe. O narcisismo secundário é uma fase posterior em que o sujeito se volta para o mundo externo e busca a satisfação de seus desejos através dos objetos. O narcisismo é, assim, uma forma de investimento libidinal do sujeito em si mesmo e nos outros.
- A construção do eu é um processo dinâmico e contínuo que envolve a interação do sujeito com o seu corpo, com os seus semelhantes e com a cultura. O eu é uma instância psíquica que representa a identidade do sujeito, mas também a sua diferença. O eu se forma a partir das identificações com os outros, especialmente com os pais, que são os primeiros modelos para o sujeito. O eu é, então, uma estrutura complexa e contraditória que abriga tanto aspectos conscientes quanto inconscientes da personalidade.
Esses conceitos são fundamentais para compreender a psicologia humana e a clínica psicanalítica. Eles mostram como o sujeito se constitui na relação com o outro, mas também como se confronta com os seus limites e conflitos.