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Eu Ideal, Ideal do Eu e a Personalidade

Em Freud, o narcisismo primário é uma fase inicial do desenvolvimento psíquico na qual a libido — a energia psíquica ligada às pulsões — está inteiramente investida no próprio eu do sujeito. Trata-se de um estado em que o bebê ainda não diferenciou claramente entre si e o mundo exterior, não investe libido em objetos externos e vive em uma espécie de autossuficiência psíquica. Esse narcisismo não é patológico, mas uma etapa fundamental na constituição do psiquismo humano. À medida que o sujeito se desenvolve e começa a se relacionar com objetos externos (pessoas, coisas, imagens), parte dessa libido se desloca para fora, caracterizando o que Freud chama de investimento objetal.

O narcisismo secundário, por outro lado, surge quando, por alguma razão — como frustrações, perdas ou doenças —, a libido que havia sido investida nos objetos é retirada e reinvestida no eu. Isso pode ocorrer de forma saudável em certos momentos da vida, como em situações de luto, mas também pode estar ligado a estados patológicos, como na esquizofrenia, onde o sujeito se retira do mundo exterior e reabsorve a energia libidinal, comprometendo seu vínculo com a realidade.

A noção de eu ideal surge como uma formação ligada ao narcisismo primário. É uma imagem grandiosa que o sujeito tem de si mesmo, formada a partir de uma fantasia de completude e onipotência. No início da vida, essa imagem é sustentada pela percepção de que suas necessidades são imediatamente atendidas, como se o mundo existisse apenas para satisfazê-lo. Com o tempo, porém, essa fantasia cede lugar a exigências externas, principalmente representadas pela autoridade dos pais e, mais amplamente, pelas normas culturais.

Dessa transformação nasce o ideal do eu, uma instância psíquica que se forma por identificação com figuras parentais e com os valores sociais. O ideal do eu atua como uma instância de vigilância interna, que observa, julga e compara o eu atual com aquilo que ele "deveria ser", estabelecendo metas, modelos e normas de conduta. Freud relaciona o ideal do eu à formação do superego, e ele é central na experiência de culpa, vergonha e autorreprovação.

Esses processos — o narcisismo primário, o secundário, o eu ideal e o ideal do eu — estão no cerne da constituição do eu e da personalidade. O eu se constitui a partir das relações entre o desejo, a realidade e a imagem que o sujeito tem de si mesmo. A personalidade se forma como uma síntese desses investimentos libidinais, das identificações e das exigências internas. Assim, o eu não é uma substância estável, mas um campo de tensões, construído entre o amor de si, as expectativas externas e os conflitos internos, sendo profundamente marcado por essa dialética entre o ideal e a realidade.