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Identificação e Imagem em Black Mirror

Identificação e Imagem em Black Mirror

O artigo propõe uma leitura psicanalítica do episódio Urso Branco da série Black Mirror, articulando os conceitos de imagem, identificação, mito, culpa e sujeito. A análise parte da ideia de que a arte reflete o espírito do tempo e usa o episódio como exemplo da lógica espetacular contemporânea, onde a imagem tem papel central.

Com base em Freud e Lacan, o texto mostra como a imagem forma o eu por meio da identificação com o olhar do outro. O episódio mostra isso ao colocar a protagonista, Victoria, em uma punição repetitiva e pública, sustentada pela cultura da imagem e do espetáculo.

Victoria é punida diariamente por ter filmado a morte de uma criança sem agir. Sua pena é ser colocada num “parque da justiça”, onde revive o desespero da vítima. Esse ciclo não permite a emergência do sujeito nem do arrependimento — apenas uma repetição cega, como nos mitos.

O episódio critica o papel dos espectadores, que assistem à dor como entretenimento. Essa “justiça” encenada reforça a ausência de reflexão ética e reforça a culpa como espetáculo, anulando o tempo histórico e a singularidade do sujeito.

O artigo propõe que a justiça encenada em Urso Branco reflete a lógica atual: punição sem transformação, culpa sem sujeito, e uma cultura que lincha em nome do bem, sem responsabilidade individual.

A psicanálise, especialmente com Lacan, oferece um caminho para romper com essa lógica mítica e abrir espaço para a emergência do sujeito singular, capaz de assumir seus atos e criar algo novo. Urso Branco denuncia a anestesia emocional de uma sociedade regida pela imagem e pelo consumo da dor alheia.