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Imagem Pessoal

A constituição do EU na teoria psicanálitica é abordada por: Freud, Lacan e Dolto

 

A psicanálise surgiu em 1900, com a publicação da primeira obra de Freud (1856-1939), A interpretação dos sonhos. Freud descobriu o inconsciente através da análise dos sonhos

 

Ao nascer, existe uma total impotência que deixa o recém-nascido impedido de experienciar um comportamento articulado, efetivo e eficiente, que é o estado de desamparo expresso por Freud no termo alemão Hilflosigkeit, que diz respeito à condição de alguém estar sem ajuda, sem socorro.

 

Para tanto, há a necessidade de que outro ser humano já instituído auxilie (papel geralmente da mãe) para que o recém-nascido possa introduzir-se no mundo que já existe, ou seja, possibilite o desenvolvimento do seu próprio eu.

 

A partir de 1920, com a segunda tópica de Freud, o termo “eu”, que inicialmente era a sede da consciência na primeira tópica que abrangia o consciente, pré-consciente e o inconsciente, no seu processo de identificação (com o outro) pode constituir-se com este traço, e ter uma alteração por essa imagem /referência desse outro. Portanto, o eu é a parte do que foi modificado pela interferência do outro, ou seja do mundo externo, via os sistemas percepção-consciência. Nesta sua segunda teoria do aparelho psíquico, Freud introduziu os conceitos de id, ego e superego para referir-se à estrutura da personalidade

 

Posteriormente a Freud, a noção do eu, sua concepção, suas funções, teriam uma nova abordagem e interpretação. Em 1936, Jacques Lacan (1901- 1981), um dos psicanalistas mais contemporâneos, fez uma releitura da teoria freudiana e situou o eu como instância do imaginário, ou seja, no campo do desconhecido, da ilusão e da alienação, cuja fase denominou de “estádio do espelho”, o formador da função do eu. Esse estádio ocorre entre os seis e dezoito meses, quando o bebê, diante do espelho, oportuniza um espetáculo fascinante, onde ainda não controla a marcha (parte motora) e nem possui uma postura equilibrada/ereta, mas com algum apoio de um andador, por exemplo, reconhece sua imagem quando está na frente de um espelho, sustentando sua postura.

 

Estádio do espelho: Ao se reconhecer na própria imagem, existe um fascínio pelo que surge no espelho, um sorriso que indica o reconhecimento e ao mesmo tempo a busca de uma autorização quanto a esse reconhecimento, ou seja, ele busca algo fora do espelho, uma confirmação através do outro (que pode ser a figura materna) de que ele fez uma conquista de que aquela imagem é sua, mas tem que haver alguma coisa que venha de um outro lugar, que intervenha nesse auto-reconhecimento.

 

Podemos entender também que o espelho dessa experiência, não é simplesmente um espelho, mas tudo aquilo que é capaz de devolver para a criança a sua imagem, podendo ser uma superfície que possibilita que ela se reconheça e se distinga do outro, ou o grupo ou o olhar do outro.

 

Imagem e representação social pela ótica da psicologia social:

 

As representações sociais se constituem uma perspectiva teórica da psicologia social, que é atributo do conhecimento e da compreensão do contexto social. São elementos cognitivos (imagens, conceitos, categorias, teorias) socialmente desenvolvidos e compartilhados, que auxiliam na construção de uma realidade comum, favorecendo dessa forma a comunicação, ou seja, são fenômenos sociais que devem ser entendidos a partir do contexto em que foram gerados. 

 

As representações sociais abrangem três questões fundamentais: a comunicação, a construção de uma realidade e o domínio do mundo. 

 

A comunicação se torna facilitada pela unicidade e codificação da história individual e coletiva. Na construção da realidade, em função da comunicação da história, esta é interpretada e reinterpretada e dessa forma possibilita a reconstrução da realidade cotidiana através de posicionamentos e ações. Sendo um conjunto de conhecimentos sociais, possibilita que as pessoas se situem e dominem uma realidade

 

“as representações sociais possuem duas funções primordiais”: convencionalização e caráter prescritivo: [Na convencionalização temos que a] forma de saber do senso comum, as representações permitem categorizar ideias, indivíduos e acontecimentos, na matriz da cultura, e produzir uma série de classificações que vão dinamizar os critérios e mecanismos de inclusão/exclusão, bem como balizar as formas do ajustamento, graduando a relação identidade/alteridade 

 

[Com seu caráter prescritivo], as representações são concebidas como fenômeno histórico, “produto de uma sequência completa de elaborações e mudanças que ocorrem no decurso do tempo e são o resultado de sucessivas gerações” 

 

Nas convenções das representações sociais, uma realidade que é estabelecida pelo socialmente adotado, existindo uma opressão pertinente, onde há

a possibilidade de inclusão/exclusão meramente por se enquadrar ou não ao

modelo instituído.

 

Assim como temos as representações sociais, temos também as representações de uma experiência perceptiva não-presente, que a psicologia cognitiva concebe como uma imagem mental. Piaget define imagem como “esquema representativo” de um acontecimento externo e vê nela uma “imitação interiorizada” e uma transformação de um tal acontecimento [...] esta é a capacidade do ser humano de representar algo através de um signo ou um símbolo ou um objeto.

 

Nas ciências sociais e humanas iremos encontrar a palavra imagem para indicar uma figura, uma imagem mental ou um conjunto de opiniões de um grupo social. Na psicologia social existem vários campos de estudo dedicados à investigação de imagens e sua utilização em pesquisas sociais têm apresentado resultados significativos para o estudo da vida social

 

Imagem do corpo na constituição do sujeito:

 

A imagem do corpo na psicanálise é um dos registros mais significantes na

constituição do sujeito.

 

Para Lacan, o corpo é visto em três dimensões, o corpo como imagem (imaginário), o corpo assinalado pelo significante (simbólico) e o corpo como sinônimo de gozo (real) dentro dos três registros fundamentais na constituição do sujeito. 

 

Para Freud, o eu é antes de tudo um eu corporal, pois é a projeção de sua exterioridade. Ao nascer, a criança não distingue os limites de seu corpo, o que é interno ou externo, pois ainda está num estado de confusão. A imagem corporal será construída a partir da percepção do seu corpo (mundo interior) e do mundo externo. No corpo biológico advêm as sensações externas e internas: tato, audição, olfato, paladar e visão. Como também as sensações de dor (nocicepção), o sentido de localização corporal (propriocepção). Mas o sentido de maior importância para a constituição do eu é a visão, pois é através do olhar que o outro é conhecido, onde partes do corpo tem o contorno definido e onde o se olhar no espelho cria a imagem que Freud chamou de imagem especular, que foi originada desde o ato de olhar a si próprio no espelho, olhar para o outro e do olhar do outro

 

Outros sentidos desempenham um papel especial na formação do eu, o tato e a nocicepção (sensação de dor). Freud refere que o corpo de uma pessoa, ou seja, mais precisamente a sua superfície, pode gerar sensações tanto internas quanto externas (percebemos o objeto que toca nossa pele e simultaneamente sentimos nossa pele sendo tocada). O tato produz duas espécies de sensações, e uma delas pode ser interna. Com a sensação de dor, atingimos um conhecimento de nossos órgãos internos durante uma doença que provoque dor, nos levando a concepção de nosso corpo.

 

As abordagens psicanalíticas sobre a concepção das representações do corpo, nas décadas de 1940-1950, se canalizaram em torno da tese de Freud sobre o narcisismo e em Lacan com a tese sobre o estádio do espelho, baseando uma nova ótica quanto à função da imagem do corpo na constituição do eu.