Forum

Please or Cadastrar to create posts and topics.

Indivíduo e sociedade de mãos dadas.

A Psicologia Social e suas ramificações foram moldadas por diversos pensadores ao longo do tempo, cada um trazendo contribuições únicas para a compreensão do comportamento humano em sociedade. E foi a partir das bases teóricas desses pensadores que a Psicologia Social se dividiu em diferentes abordagens metodológicas, cada uma enfatizando aspectos distintos da interação entre o indivíduo e a sociedade.

1 - As Representações Coletivas, Mentalidades Primitivas e Representações Sociais - O sociólogo francês Émile Durkheim foi um dos pioneiros da sociologia moderna e introduziu o conceito de representações coletivas. Para ele, as ideias, crenças e valores não são apenas criações individuais, mas fenômenos sociais compartilhados que orientam o comportamento dos indivíduos dentro de um grupo. Essas representações coletivas estão presentes em instituições como a religião, a moralidade e o direito, funcionando como guias para a vida social.

Outro estudioso francês, Lucien Lévy-Bruhl, aprofundou a questão da mentalidade em sociedade ditas "primitivas". Diferente de Durkheim, que via a sociedade como estruturada por regras racionais, Lévy-Bruhl argumentava que as culturas não ocidentais operavam sob um lógica diferente, que ele chamou de mentalidade pré-lógica. Ele sugeriu que esses povos interpretavam o mundo com base na participação mística, onde as fronteiras entre o real e o simbólico eram mais fluidas do que na mentalidade ocidental.

Avançando no tempo, encontramos Serge Moscovici, psicólogo social de origem romena que desenvolveu e, pode-se dizer, destrinchou a teoria das representações sociais. Diferente de Durkheim, que via as representações coletivas como algo fixo, Moscovici argumentava que essas representações são dinâmicas e surgem da interação social e da comunicação. Ele estudou, por exemplo, como a Psicanálise foi representadas na sociedade francesa, mostrando que os indivíduos e grupos reelaboram constantemente o conhecimento para torná-lo acessível e útil no cotidiano.

2 - As influências psicanalíticas: Freud e Jung - A Psicanálise, iniciada por Freud, trouxe novas perspectivas para a Psicologia Social ao explorar o papel do inconsciente nos fenômenos de massa. Em sua obra "Psicologia das Massas e Análise do Ego", lançada em 1921, Freud argumentou que, em um grupo, os indivíduos tendem a perder parte de sua autonomia e passam a agir sob influência de uma figura de liderança, em um processo semelhante ao que ocorre na relação entre o ego e o superego. Para ele, as massas são regidas por impulsos emocionais e instintivos, tornando-se facilmente manipuláveis por líderes carismáticos.

Já o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, que inicialmente foi discípulo de Freud, seguiu um caminho próprio ao desenvolver a psicologia analítica. Diferente de Freud, que via o inconsciente como um depósito de desejos reprimidos, Jung introduziu a ideia do inconsciente coletivo, um nível mais profundo da psique humana que conteria arquétipos universais, ou seja, padrões simbólicos herdados que influenciam o comportamento e as crenças das pessoas. Essa visão trouxe uma perspectiva mais espiritual e simbólica para a psicologia, e, mesmo sem comprovações científicas, tendo impacto tanto na psicoterapia quanto nos estudos culturais e mitológicos.

3 - As diferentes abordagens da Psicologia Social - A Psicologia Social, ao longo do século XX, se estruturou em três principais vertentes metodológicas, cada uma enfatizando um aspecto diferente em relação entre o indivíduo e a sociedade:

3.1 - Psicologia Social Psicológica - Essa abordagem, predominante nos Estados Unidos, rem raízes no behaviorismo e na psicologia cognitiva, enfatizando experimentos e métodos quantitativos para estudar o comportamento social. Pesquisadores como Stanley Milgram e Solomon Asch realizaram estudos sobre conformidade e obediência, mostrando como as pressões sociais podem influenciar a tomada de decisão individual.

3.2 - Psicologia Social Sociológica - Desenvolvida principalmente na Europa, essa vertente é mais próxima da Sociologia e foca nas estruturas sociais e nas interações simbólicas. Teóricos como George Herbert Mead, ligado ao interacionismo simbólico, exploraram como a identidade e o self são construídos a partir das relações interpessoais e da comunicação social.

3.3 - Psicologia Social Crítica - Com forte influência do marxismo e da Escola de Frankfurt, essa abordagem questiona as relações de poder na sociedade e busca compreender como ideologias e estruturas opressoras moldam a subjetividade humana. Autores como Ignacio Martín-Baró defenderam que a Psicologia dever ter um compromisso com a transformação social, analisando fenômenos como a desigualdade e a opressão.

A construção da Psicologia Social resulta de um diálogo entre diversas disciplinas, incluindo Sociologia, Psicanálise e Teoria Crítica. As contribuições de Durkheim, Lévy-Bruhl e Moscovici ajudaram a compreender como o pensamento coletivo se forma e se transforma, enquanto Freud e Jung trouxeram reflexões sobre o papel do inconsciente nos comportamentos sociais. Por fim, as diferentes abordagens metodológicas da Psicologia Social continuam a evoluir, garantindo que esse campo de estudo permaneça relevante para entender os desafios contemporâneos da vida em sociedade.