Lacan e imagem e análise do eu.
Citação de Augusto Cesar Borges Ramos em julho 24, 2022, 11:30 amEmbora o Real lacaniano seja diferente daquilo a que se chama de realidade, por vezes o termo aparece no início do ensino lacaniano de maneira confusa, sendo vítima de certa ambiguidade. É verdade que o emprego desse termo no seio da psicanálise foi feito por Lacan em 1936, mas só a partir da década de 70 ele terá prioridade em seus estudos.
Na perspectiva lacaniana, o Real é o impossível. Sabe-se que o Real não comporta simbolização e, por isso, acaba tendo a dimensão da insistência; na lógica lacaniana, é o que "não cessa de não se inscrever". Sendo assim, urge que se tente dar sentido para aquilo que não tem sentido. Dar sentido ao Real é a função do Simbólico, mas também se sabe que, em contrapartida, o sentido é sempre Imaginário. Como se pode perceber, estamos diante de um embaraço: como dizer de um registro, prescindindo de outro?
O Simbólico é um registro que organiza, ou melhor, ordena. Não é em vão que Lacan refere-se muitas vezes à expressão de Claude Lévi-Strauss "a ordem simbólica", tomando dele tal expressão para lembrar o quanto o Simbólico é o registro responsável por colocar ordem; essa é a função do símbolo e também da linguagem, só a partir dele é que se poderá ordenar o Real e o Imaginário.
Observamos que, desde o início do ensino lacaniano, a ideia da explicação simultânea dos três registros estava presente. Ao se fazer referência ao Real, é preciso mencionar o Simbólico, ao se fazer menção ao Simbólico, mostra-se necessário lançar mão do Imaginário; e é justamente essa a intenção de Lacan, pois, no decorrer do tempo, em um segundo momento de seu ensino, a ideia de pensar os registros concomitantemente tomou consistência de tal forma que foi transformada em um Seminário, RSI, em que se apresentou o enodamento dos três registros, feito aos moldes de um nó borromeu – um nó no qual a separação de qualquer um dos elos faz consequentemente que os outros se desamarrem.
O termo Imaginário assume, por vezes, a conotação de ilusão, produzindo elucubrações fantasiosas. Trata-se, porém, em psicanálise, da relação dual que um sujeito estabelece com a formação de sua imagem e de seu Eu. Foi justamente com uma exposição – que passou a ser de conhecimento público – sobre essa questão que Lacan introduziu esse termo na psicanálise, de onde vieram muitos desdobramentos.
O estádio do espelho foi o tema com o qual Lacan se introduziu na psicanálise em exposição realizada por ocasião do XVI Congresso da IPA em Mariembad, durante o mês de agosto de 1932; mais tarde, na sessão de 10 de janeiro de 1968 do seminário sobre O ato psicanalítico, Lacan, lembrando da primeira vez que se referiu a essa teoria publicamente, chamou-a de "vassourinha"1.
Embora o Real lacaniano seja diferente daquilo a que se chama de realidade, por vezes o termo aparece no início do ensino lacaniano de maneira confusa, sendo vítima de certa ambiguidade. É verdade que o emprego desse termo no seio da psicanálise foi feito por Lacan em 1936, mas só a partir da década de 70 ele terá prioridade em seus estudos.
Na perspectiva lacaniana, o Real é o impossível. Sabe-se que o Real não comporta simbolização e, por isso, acaba tendo a dimensão da insistência; na lógica lacaniana, é o que "não cessa de não se inscrever". Sendo assim, urge que se tente dar sentido para aquilo que não tem sentido. Dar sentido ao Real é a função do Simbólico, mas também se sabe que, em contrapartida, o sentido é sempre Imaginário. Como se pode perceber, estamos diante de um embaraço: como dizer de um registro, prescindindo de outro?
O Simbólico é um registro que organiza, ou melhor, ordena. Não é em vão que Lacan refere-se muitas vezes à expressão de Claude Lévi-Strauss "a ordem simbólica", tomando dele tal expressão para lembrar o quanto o Simbólico é o registro responsável por colocar ordem; essa é a função do símbolo e também da linguagem, só a partir dele é que se poderá ordenar o Real e o Imaginário.
Observamos que, desde o início do ensino lacaniano, a ideia da explicação simultânea dos três registros estava presente. Ao se fazer referência ao Real, é preciso mencionar o Simbólico, ao se fazer menção ao Simbólico, mostra-se necessário lançar mão do Imaginário; e é justamente essa a intenção de Lacan, pois, no decorrer do tempo, em um segundo momento de seu ensino, a ideia de pensar os registros concomitantemente tomou consistência de tal forma que foi transformada em um Seminário, RSI, em que se apresentou o enodamento dos três registros, feito aos moldes de um nó borromeu – um nó no qual a separação de qualquer um dos elos faz consequentemente que os outros se desamarrem.
O termo Imaginário assume, por vezes, a conotação de ilusão, produzindo elucubrações fantasiosas. Trata-se, porém, em psicanálise, da relação dual que um sujeito estabelece com a formação de sua imagem e de seu Eu. Foi justamente com uma exposição – que passou a ser de conhecimento público – sobre essa questão que Lacan introduziu esse termo na psicanálise, de onde vieram muitos desdobramentos.
O estádio do espelho foi o tema com o qual Lacan se introduziu na psicanálise em exposição realizada por ocasião do XVI Congresso da IPA em Mariembad, durante o mês de agosto de 1932; mais tarde, na sessão de 10 de janeiro de 1968 do seminário sobre O ato psicanalítico, Lacan, lembrando da primeira vez que se referiu a essa teoria publicamente, chamou-a de "vassourinha"1.