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Laura e sua inveja

Olá, colegas,

Diante do caso de Laura – em que o afeto invejoso em relação ao irmão recém-nascido é inacessível à consciência e transporta-se para um jogo fantasioso de “mágica” – identifico o mecanismo de dissociação.

  1. Definição teórica:
    • Segundo Anna Freud (1936), a dissociação consiste em “separar da consciência conteúdos intoleráveis, mantendo-os acessíveis apenas em esferas psíquicas paralelas”¹.
    • Marques (2012) observa que, ao deslocar afetos para pensamentos e imagens (dissociação), o ego preserva sua integridade diante de impulsos conflitantes².
  2. Aplicação ao caso:
    • Laura sente inveja profunda (pulsão do id) que não pode assumir abertamente, pois choca-se com exigências de controle próprias da latência.
    • Para lidar com esse impulso, ela cria um “eu mágico” capaz de transformar o mundo por gestos: o afeto original (“inveja”) remaneja-se num conteúdo dissociado, vivenciado apenas na fantasia.
    • Diferentemente da negação (recusa da realidade) ou da projeção (atribuição a outro), na dissociação o desejo não se manifesta fora de si, mas se fragmenta e circula em ‘câmaras’ mentais autônomas.
  3. Importância clínica:
    • Reconhecer essa dissociação permite ao analista mapear os “espaços fantasiosos” onde o afeto real circula e, gradualmente, reintegrá-lo ao campo da consciência.
    • Intervenções focadas na verbalização cuidadosa dessas fantasias possibilitam a reintegração do afeto dissociado ao self, fortalecendo o ego corporal e simbólico.