Limites da Filosofia e Psicanálise para com a estética literária
Citação de Cassandra Lúcia de Maya Viana em dezembro 21, 2024, 1:18 amFreud propôs que aquilo que funda o desejo inconsciente do ser humano e um objeto faltante primordial na narrativa literária é o aconchegante corpo materno. Segundo essa teoria o desejo inconsciente de suprir essa falta fundante é o que move o ser humano a: buscar, construir, erguer, guerrear, lucrar etc. A teoria literária sintetizou a teoria freudiana do princípio do prazer em uma estrutura básica: vendo seu neto brincar de “Fort-da” Freud interpretou como o domínio simbólico, pela criança, da ausência materna pois, nessa brincadeira, um objeto se perde e em seguida é recuperado. Na narrativa clássica padrão: uma estrutura original é desorganizada e acaba sendo restaurada. Desse ponto de vista, a narrativa é uma fonte de consolo: os objetos perdidos são causa de ansiedade para nós. Eles simbolizam perdas inconscientes mais profundas (nascimento, fezes, mãe) que podem trazer inquietações perturbadoras, sendo sempre um prazer e um alívio vê-los de volta, seguros.
Se por um lado a literatura, a filosofia e a psicanálise são discursos que se iniciam sem fronteiras bem definidas, por outro, a tentativa de delimitá-las é milenar e constitui a fundação do discurso filosófico. Freud, como bom médico e estudioso das ciências naturais do século XIX, embora admitisse, a contragosto ouvia a ideia de ser autor de um tratado filosófico, nem de uma tese abstrata sobre o ser humano. Seu objetivo era, sim, produzir uma teoria científica empiricamente comprovável. Porém, o psiquiatra austríaco reconhecia que a carência de dados e estudos empíricos, à época, sobre a mente humana o levava a se amparar na literatura e na filosofia para desenvolver suas teorias.
Da mesma forma que o discurso filosófico foi concebido com o objetivo de refletir sobre a verdade e a essência antológica do cosmos (universo) na Grécia antiga, a psicanálise foi concebida como, mais que uma teoria, como um método terapêutico aplicável empiricamente ao consultório psiquiátrico / psicanalítico para o tratamento de neuroses sintomáticas (fobias, histeria, obsessões, transtorno obsessivo-compulsivo etc.). Um discurso só mantém seu objetivo quando permanece em sua área social de atuação, mantendo seu sentido de ser e gerando significados e práticas. Em outras palavras, ao aplicar-se a teoria psicanalítica a: um texto literário; uma tese filosófica de Hegel; ou uma tese filosófica de Kant sobre a ética; haverá perdas de sentido, distorções, falhas e incompletudes. Isso porque, quando se altera o objeto real (problema propriamente dito) de um discurso teórico / filosófico – seja ele: um paciente da psicanálise; seja o curso de um processo histórico; ou a moral social e política; para aplica-lo a um romance ou poema lírico, modificam-se também os problemas, desafios e demandas.
Freud propôs que aquilo que funda o desejo inconsciente do ser humano e um objeto faltante primordial na narrativa literária é o aconchegante corpo materno. Segundo essa teoria o desejo inconsciente de suprir essa falta fundante é o que move o ser humano a: buscar, construir, erguer, guerrear, lucrar etc. A teoria literária sintetizou a teoria freudiana do princípio do prazer em uma estrutura básica: vendo seu neto brincar de “Fort-da” Freud interpretou como o domínio simbólico, pela criança, da ausência materna pois, nessa brincadeira, um objeto se perde e em seguida é recuperado. Na narrativa clássica padrão: uma estrutura original é desorganizada e acaba sendo restaurada. Desse ponto de vista, a narrativa é uma fonte de consolo: os objetos perdidos são causa de ansiedade para nós. Eles simbolizam perdas inconscientes mais profundas (nascimento, fezes, mãe) que podem trazer inquietações perturbadoras, sendo sempre um prazer e um alívio vê-los de volta, seguros.
Se por um lado a literatura, a filosofia e a psicanálise são discursos que se iniciam sem fronteiras bem definidas, por outro, a tentativa de delimitá-las é milenar e constitui a fundação do discurso filosófico. Freud, como bom médico e estudioso das ciências naturais do século XIX, embora admitisse, a contragosto ouvia a ideia de ser autor de um tratado filosófico, nem de uma tese abstrata sobre o ser humano. Seu objetivo era, sim, produzir uma teoria científica empiricamente comprovável. Porém, o psiquiatra austríaco reconhecia que a carência de dados e estudos empíricos, à época, sobre a mente humana o levava a se amparar na literatura e na filosofia para desenvolver suas teorias.
Da mesma forma que o discurso filosófico foi concebido com o objetivo de refletir sobre a verdade e a essência antológica do cosmos (universo) na Grécia antiga, a psicanálise foi concebida como, mais que uma teoria, como um método terapêutico aplicável empiricamente ao consultório psiquiátrico / psicanalítico para o tratamento de neuroses sintomáticas (fobias, histeria, obsessões, transtorno obsessivo-compulsivo etc.). Um discurso só mantém seu objetivo quando permanece em sua área social de atuação, mantendo seu sentido de ser e gerando significados e práticas. Em outras palavras, ao aplicar-se a teoria psicanalítica a: um texto literário; uma tese filosófica de Hegel; ou uma tese filosófica de Kant sobre a ética; haverá perdas de sentido, distorções, falhas e incompletudes. Isso porque, quando se altera o objeto real (problema propriamente dito) de um discurso teórico / filosófico – seja ele: um paciente da psicanálise; seja o curso de um processo histórico; ou a moral social e política; para aplica-lo a um romance ou poema lírico, modificam-se também os problemas, desafios e demandas.