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O Ego e os mecanismos de defesa

  • Na segunda tópica da psicanálise, o inconsciente é concebido não somente pelo recalcado, mas também pelas pulsões (de morte e de vida) como forças opostas, e as leis do inconsciente da primeira tópica passam, na segunda tópica, a ser circunstanciadas com o id, o ego e o superego.
  • O ego ampara a consciência e as percepções externas, enreda o pré-consciente e contém parte do inconsciente, como função mediadora relacionada ao mundo externo pelo sistema percepção-consciência e, por outro lado, se forma a partir do id e sobre ele tenta exercer uma função conciliadora. O que a percepção exerce para o ego, o id concerne à pulsão. No ego predomina a razão e, no id, as paixões.
  • O id só é observável quando uma pulsão obtiver passagem aos sistemas pré-conscientes e conscientes, ou seja, somente quando uma pulsão se propagar até o ego em busca de satisfação, causando sentimentos de tensão e desprazer, fora isso 2 O ego e os mecanismos de defesa o id não é acessível. O superego se torna visível quando afronta o ego, por meio do sentimento de culpa que gera pela sua crítica e, por sua vez, utiliza medidas para se defender dos ataques das pulsões que buscam intensivamente conseguir seus fins com muita obstinação e energia. Além disso, abordaremos o estudo da constituição do sujeito numa perspectiva a que se encontram associados os fundamentos psíquicos e sociais — evento de extrema importância na teoria freudiana que é a identificação.
  • Para Freud, o movimento no aparelho evidenciava que as redes de neurônios indicavam uma atividade psíquica que surge de pequenas quantidades de energia, propondo então “[...] um modelo de funcionamento da atividade psíquica normal [...]” (RODRIGUES, 2009, p. 5).
  • O eu é constituído nesse sistema neural e impede a passagem dessa energia quando há sofrimento ou satisfação. Tem uma função dupla que implica em se libertar dos propósitos em que é objeto, buscando a satisfação, e por meio da inibição tenta evadir se da repetição de experiências dolorosas (ROUDINESCO, 1998).
  • A consciência, até então entendida como portadora do controle das atividades conscientes, passou a ser uma consciência dividida, que além dos processos racionais, também é possuidora de pensamentos irracionais, indicando uma estrutura central em que todos os processos mentais são ordenados numa sinopse e integração de toda a vida mental.
  • Segundo Freud (1996a, p. 39-40), […] o ego é aquela parte do id que foi modificada pela influência direta do mundo externo, por intermédio do sistema Pc-Cs (sistema percepção consciência) [...] o ego, antes de tudo, um ego corporal, não é simplesmente uma entidade de superfície, mas é, ele próprio, a projeção de uma superfície.
  • Para elucidar a importância funcional do ego, Freud (1996a, p. 39) faz uma analogia da relação do ego com o id com um cavaleiro: O ego é como um cavaleiro que tem de manter controlada a força superior do cavalo, com a diferença de que o cavaleiro tenta fazê-lo com a sua própria força, enquanto que o ego utiliza forças tomadas de empréstimo [...] com frequência um cavaleiro, se não deseja ver-se separado do cavalo, é obrigado a conduzi-lo onde este que ir, da mesma maneira o ego tem o hábito de transformar em ação a vontade do id, como se fosse sua própria.
  • As três instâncias que formam a personalidade são passíveis de observação de modo diferenciado. O id só é observável quando uma pulsão obtiver passagem aos sistemas pré-conscientes e conscientes, ou seja, somente quando uma pulsão se propagar até o ego em busca de satisfação, causando sentimentos de tensão e desprazer, fora isso o id não é acessível. No caso do superego, o seu conteúdo é, em sua maior parte, consciente, sendo possível acessá-lo através da análise, porém quando está em harmonia com o ego é impossível discerni-los. O superego se torna visível quando afronta o ego, tornando-se visível através do sentimento de culpa que gera pela sua crítica. Das três instâncias, o ego é a que permite a observação direta e é através dele que se acessa as outras duas. O ego utiliza medidas defensivas para se defender dos ataques das pulsões que buscam intensivamente para conseguir seus fins com muita obstinação e energia. No entanto, essas defesas acontecem invisivelmente no caso do recalcamento que é bem-sucedido, como também acontece com a formação reativa que é uma das principais defesas do ego contra o id. Além de se defender das pulsões do id, o ego também se defende dos afetos associados a estas. Afetos como amor, nostalgia, ciúme, mortificação, dor e pesar, deslocam-se junto com as pulsões dos desejos sexuais, já o ódio, , a cólera e a fúria acompanham os impulsos agressivos (FREUD, 2006).
  • Repressão: é um dos mecanismos mais comuns de defesa do ego. Seu significado é o de retirar algo do consciente, levando-a para o inconsciente, ou seja, mantendo distante alguma imagem ou percepção insuportável. Obstaculiza sentimentos e experiências desagradáveis da consciência. O reprimido é instalado no inconsciente, no entanto continua a fazer parte da psique e continuará exercendo influência no comportamento através do desenvolvimento de sintomas. Exemplo: uma vítima de assalto violento não consegue se lembrar de nada do ocorrido e encontra-se com grande ansiedade e/ou deprimida.
  • Regressão: é a volta a um período de desenvolvimento anterior na busca de um conforto, segurança e gratificação sentidas nessa fase. Segundo Volpi (2008, p. 2), “é um modo de defesa bastante primitivo e, embora reduza a tensão, frequentemente deixa sem solução a fonte de ansiedade original”. Exemplo: uma criança que volta a fazer xixi na cama quando nasce um irmãozinho.
  • Formação reativa: para evitar a expressão de pensamentos ou sentimentos inaceitáveis, o sujeito exagera na expressão de sentimentos ou expressão oposta. Exemplo: Júlio fez direito para agradar seu pai, porém odeia o curso e o fato de ter que ser advogado, mas quando fala publicamente refere a profissão de advogado como sendo uma excelente carreira.
  • Identificação: é um mecanismo não defensivo, no qual se busca alcançar os traços, qualidades e particularidades de alguém a quem se admira. Na identificação projetiva, conceito desenvolvido por Melanie Klein — posição esquizoparanoide, segundo Volpi (2008, p. 2) “[...] o indivíduo se identificando com o outro (pessoa ou objeto), cria internamente uma imagem ou fantasia e projeta isso para fora de si identificando-se com esta fantasia e construindo uma outra realidade psíquica”. Exemplo: uma pessoa que fez um longo tratamento dentário, ortodôntico, decide ser dentista posteriormente.
  • Intelectualização: há um isolamento dos afetos. Exemplo: este mecanismo é muito utilizado pela área médica. Os médicos necessitam isolar os afetos ao realizar uma cirurgia, ou tratar doenças terminais.
  • Racionalização: este mecanismo é um dos mais utilizados, pois o sujeito justifica com lógica e ética plausível alguma atitude e pensamentos inaceitáveis, dessa forma tem um intento benéfico como autoproteção e conforto psíquico. Exemplo: o dependente de álcool que justifica o uso da bebida como meio de suportar a morte de um filho.
  • Projeção: é o ato de atribuir pensamentos, sentimentos e impulsos intoleráveis para si mesmo a outra pessoa. Segundo Silva (2010, p. 4), “necessariamente, antes da projeção vem um mecanismo de negação, ou seja, uma forma de deslocamento que se dirige para fora e atribui a outra pessoa seus traços de caráter e desejos contra os quais existem objeções”. Exemplo: uma pessoa que se apaixona perdidamente por alguém (casado ou seu professor ou seu analista) e refere que é o outro que está apaixonado e que está assediando.
  • Introjeção: trata-se de assumir para si características de outras pessoas. Algo externo passa a fazer parte de seu ego. Esse mecanismo é relacionado ao de identificação. Exemplo: uma criança que repreende outra quando quer subir uma escada perigosa. Ela introjetou as normas passadas por seus pais.
  • Negação: o sujeito rejeita um pensamento, uma atitude ou um sentimento que é muito insuportável, que não consegue tolerar e simplesmente considera-o inexistente. Exemplo: típico mecanismo dos alcóolatras, que não admitem que são dependentes da bebida e referem que bebem socialmente.
  • Isolamento: o sujeito desassocia o pensamento ou recordação do afeto ou emoção que estava relacionado a ele. Exemplo: pacientes terminais falam de sua doença como se não fosse com eles.
  • Dissociação: é a separação de sentimentos/pensamentos contraditórios como o amor e ódio em relação a um mesmo objeto. A tentativa de integração gera uma ansiedade insuportável. Exemplo extremo é a dupla personalidade.
  • Deslocamento: é a substituição de um impulso/pulsão inicial por outro. Exemplo: uma pessoa que está com ódio de seu professor e agride verbalmente um colega.
  • Sublimação: é um processo através do qual a libido se separa do objeto sexual para outra finalidade, visando a satisfação. Para Freud (1996c, p. 111), “a sublimação é um processo que diz respeito à libido objetal e consiste no fato da pulsão se dirigir no sentido de uma finalidade diferente e afastada da finalidade da satisfação sexual”. Exemplo: competições esportivas são sublimações de pulsões agressivas ou uma pessoa com fortes impulsos sexuais se transforma em um grande artista.
  • Idealização: Segundo Freud (1996c, p. 111), “[...] a idealização é um processo que diz respeito ao objeto; por ela este objeto, sem qualquer alteração na sua natureza, é engrandecido e exaltado na mente do indivíduo”. Exemplo: idealizar o parceiro e cair na dependência emocional, pois estar com alguém que hipoteticamente lhe era impossível faz com que a pessoa se entregue totalmente.
  • Fixação: é um apego permanente da libido num estágio do desenvolvimento da personalidade. Muito dos traços de personalidade são pequenas fixações a alguma fase (oral, anal, fálica). Fixação está na origem das O ego e os mecanismos de defesa 9 repressões/recalques. Exemplo: uma pessoa com forte fixação na fase anal pode apresentar características obsessivas ou vir a manifestar uma neurose obsessivo-compulsiva (ZIMERMAN, 2008). O ego, então, se utiliza desses mecanismos de defesa para se defender das constantes inserções das pulsões na busca de uma incansável satisfação. São parcialmente inconscientes, podem ser utilizadas como uma forma de adaptação, como também podem se transformar em patologias em função da intensidade, frequência e rigor. O ego utiliza variadas defesas e é através da análise das resistências que é possível acessá-las. Das três instâncias que formam a personalidade, o ego é a instância que possibilita observação direta.
  • A inserção do sujeito em um grupo foi objeto de estudo de Freud em 1921, com a publicação de Psicologia de grupo e análise do ego. Segundo Roudinesco (1998), Freud desde o início de seu texto expôs o fenômeno de que sempre existe o “outro”, que serve de modelo, objeto e ou rival na constituição do ego, preterindo a oposição onisciente entre psicologia individual e psicologia social.
  • Segundo Roudinesco (1998), Freud desde o início de seu texto expôs o fenômeno de que sempre existe o “outro”, que serve de modelo, objeto e ou rival na constituição do ego, preterindo a oposição onisciente entre psicologia individual e psicologia social.
  • A identificação é um dos mecanismos que surgem na mais tenra idade, sendo para Freud (1996b, p. 136): A mais remota expressão de um laço emocional com outras pessoas, como também pode, de maneira regressiva, se tornar sucedâneo para uma vinculação de objeto libidinal, por meio da introjeção do objeto no ego, e, também pode surgir com qualquer nova percepção de uma qualidade comum partilhada com alguma outra pessoa que não é objeto da pulsão sexual. Quanto mais importante essa qualidade comum é, mais bem-sucedida pode tornar-se essa identificação parcial, podendo assim representar o início de um novo laço. [...] o laço mútuo existente entre os membros de um grupo é da natureza de uma identificação desse tipo, baseada numa importante qualidade emocional comum, e podemos suspeitar que essa qualidade comum reside na natureza do laço com o líder.
  • Na dinâmica organizacional, atualmente um atributo muito desenvolvido, estimulado e colocado como padrão de comportamento é o trabalho em equipe e o desenvolvimento de lideranças não mais como chefes e sim como líderes, que sejam inspiradores, em prol de um objetivo comum como estratégia (CAPITÃO; HELOANI, 2007).
  • A libido é que sustenta a relação do líder com os demais membros do grupo e cada elemento do grupo está ligado ao líder e aos outros membros. Esses laços se tornam efetivos em função da dessexualização dos impulsos sexuais, sendo que no processo civilizatório cada vez mais vemos a formação de grupos em torno de objetivos comuns e isso merece um cuidado em especial, tendo em vista que para que esses vínculos sejam mantidos é inexorável um comedimento da vida sexual. Como o narcisismo é limitado na atuação em grupo, o que prepondera é a vontade do grupo sobre os interesses individuais (GUIMARÃES; CELES, 2007).
  • Se o que mantêm a coesão grupal é energia da libido dessexualizada, assemelha-se a um estado de estar amando, por isso necessitamos aprofundar o entendimento desse fenômeno “amor”. Segundo Freud (1996b), no final da fase edipiana há uma repressão das pulsões sexuais, sendo que a criança abandona grande parte desses objetivos sexuais e sua relação com os pais se modifica para uma relação afetuosa, porém essas primeiras tendências sensuais continuam a existir no inconsciente, somente foram reprimidas.
  • No estado de estar amando, uma boa quantidade de libido narcisista extravasa para o objeto e pode ser observado que em algumas formas de escolha amorosa há a evidência de que o objeto se ajusta como suplente de algum ideal de ego de nós mesmos que não foi atingido. Ou seja, amamos em função das qualidades e virtuosidades que gostaríamos de conseguir para nosso próprio ego e, de uma maneira indireta, busca-se a satisfação do nosso narcisismo. O ego passa a ser devoto ao objeto como uma sublimação, as funções do ideal do ego deixam de funcionar, deixam de fazer a crítica, silenciam e tudo o que o objeto faz e pede é correto.
  • Observamos que num grupo os vínculos emocionais intensos são suficientes para o entendimento de uma de suas características: a dependência e falta de iniciativa de seus membros, suas reações são semelhantes, há uma redução a indivíduos grupais. Contudo, um grupo apresenta mais do que isso. É possível identificar a fraqueza da capacidade intelectual, falta de controle emocional, incapacidade de moderação, inclinação em ultrapassar todos os limites na expressão da emoção e descarregá-las sob a forma de ação, demonstra uma regressão da atividade mental de um indivíduo a um estágio anterior, semelhante aos selvagens e às crianças. Essa regressão é bem comum de aparecimento nos grupos comuns, já nos grupos organizados e artificiais ela pode ser controlada (igreja, exército, organizações). Na sociedade humana é possível encontrar esses fenômenos de dependência e de quanto cada indivíduo é governado por essas atitudes da mente grupal nas características raciais, preconceitos de classe, opinião pública (FREUD, 1996b).