Citação de Vitor939 em agosto 29, 2022, 7:36 pm

A psicanálise surge como ferramenta investigativa de uma sociedade tecnologicamente evolutiva e mentalmente decadente. Com o advento da solução de problemas antigos, vem também o advento de problemas novos, problemas novos estes que não podem ser resolvidos por máquinas ou medicamentos. Tem-se o conhecimento de certas doenças de caráter mental, sabe-se o que elas causam, até certo ponto sabe-se como resolvê-las, mas não se sabe o ponto chave: por que elas acontecem, e como mencionado, é nesse contexto que a psicanálise surge.

Com a descoberta da existência do inconsciente, da existência do ID, Ego e Superego, Freud abre as cortinas da mente humana e olha para o que muito tempo tentamos esconder. Há forças existentes dentro de nós que nos guiam, e nós não estamos em pleno controle de nossas ações e pensamentos. O consciente toma a decisão, sim. Mas enquanto o consciente medita sobre a decisão, o inconsciente sussurra ao seu ouvido o que deveria ser feito, e não se engane - o inconsciente é muito persuasivo. Claramente não é assim que a coisa funciona de forma literal, mas é uma analogia que ilustra muito bem a situação humana. O diabo sussurrando em nossos ouvidos é nosso inconsciente, influenciando nossas decisões a um nível que não fazemos ideia.

O meio em que crescemos, os ambientes pelo qual transitamos, deixam em nós marcas profundas que influenciam a forma como vemos o mundo e nos portamos diante dele, mas ainda sim, escolhemos por não ver essa influência. Escolhemos por entrar em negação. E, em partes, é isso que causa muitas das instabilidades mentais: a negação, o não querer ver aquilo que deve a todo custo ser visto.

Enquanto consumi o material do curso, a princípio eu pensei na psicanálise como filosofia do desespero, posteriormente como filosofia da honestidade, e por fim, como filosofia do amadurecimento, e ao final das contas, cheguei a conclusão de que as três ideias estão corretas, e são apenas estágios de uma caminhada.

A psicanálise leva você até o seu íntimo, e te força a ver coisas que você não gostaria de ver, e ela faz isso, a princípio, sem aparentemente lhe apresentar uma solução: você apenas precisa ver. Entretanto, ao quebrar a negação, ao retirar a venda dos seus olhos, ao atingir o estágio da honestidade, você pode finalmente entender por que você faz o que faz. Entender como o inconsciente te influencia, entender como você pode dar os seus próprios passos, e entender que, no fim das contas, não há cura no sentido moderno do termo. Você não pode apagar o passado, você não pode apagar o que aconteceu, mas você pode aprender a conviver com isso, e você pode aprender a lidar com os efeitos do que te ocorreu. Isso é maturidade, e isso é a verdadeira cura psicanalítica.

Compreendendo as informações mencionadas anteriormente, podemos ver como a influência de Freud e da psicanálise declinou na sociedade. Vivemos na cultura dos prazeres imediatos e das soluções rápidas. Isso leva a indivíduos cada vez mais infantis, fracos, incapazes de lidar com a própria dor e com a própria história - buscam apenas se entorpecer para esquecer (veja que não se trata mais nem de ver, eles não suportam a mera lembrança de que pode haver algo oculto dentro de si que não lhes dá autonomia e que pode ser a verdadeira causa da situação em que se encontram). A cultura do fast food se tornou a cultura geral - filosofia, psicologia, tudo gira ao redor de prover soluções rápidas e simples, mas sem gosto e sem valor nutricional. Soluções que não fazem nada além de tapar temporariamente o buraco dentro de si que as pessoas tanto temem.

A cada ano que se passa, a cultura moderna procura jogar mais uma pá de terra sobre o caixão de Freud, pois eles sabem que se por ventura ele se erguesse de lá, o estrago não seria pequeno. Não há atalhos na psicanálise, não há mentiras, não há bem e não há mal - as coisas são o que elas são, e só.