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Principais Matrizes Teóricas da Psicologia Social

  • Na psicologia social, nos deparamos com olhares distintos sobre uma mesma temática. Perspectivas diferentes despertam abordagens diferentes, que acabam por se complementar. Neste capítulo, você vai compreender as metodologias de pesquisa dos autores que marcaram a psicologia social com seus estudos. Você vai também contemplar a contribuição da multiplicidade teórica na psicologia social e como essa pluralidade conduziu a psicologia social para a atualidade.
  • Émile Durkheim foi o primeiro teórico a utilizar o termo “representações” com o objetivo de introduzir o tema da representação coletiva. Para Durkheim (apud JACÓ-VILELA; SATO, 2007), as representações derivam da relação e dos laços sociais que os indivíduos estabelecem entre si.
  • Durkheim (apud RODRIGUES, 2000) acreditava em uma regulação diferente entre as leis que explicavam os fenômenos sociais e os fenômenos individuais. Assim, as representações coletivas, por derivarem dos acontecimentos sociais, se constituem em fato social e, assim, resulta de uma consciência coletiva e não de uma consciência individual.
  • O pensamento individual poderia ser entendido como um fenômeno psíquico, mas que não se reduz a uma atividade cerebral, por ter envolvido consigo um conjunto de percepções e ligações sensoriais que contribuem para a formação do pensamento.
  • Assim, as representações atingem o terreno das práticas sociais. Para resumir, o conceito de representações coletivas tanto é forma de conhecimento quanto guia para as ações sociais. Os estudos de Durkheim sobre representações coletivas inspiraram Moscovici (1978) a buscar na sociologia consonância para a perspectiva individualista da psicologia social.
  • Para Moscovici (1978), a representação social é uma composição que o indivíduo faz para entender o mundo e para se comunicar, e dessa forma se expressa como uma teoria. A representação social pode ser vista tanto na medida em que está inserida em um contexto psicológico autônomo, como própria da sociedade e da cultura que estamos vivendo.
  • A teoria das representações sociais se ocupa essencialmente com a interação entre sujeito e objeto, buscando compreender como se desenvolve o processo de construção do conhecimento, sincronicamente individual e coletivo na construção das representações sociais. Para Moscovici (1978), as relações sociais construídas no cotidiano são produto de representações que são facilmente apreendidas. Tomando assim uma dupla dimensão, sujeito e sociedade, dá-se margem a uma variedade de conceitos sociológicos e psicológicos.
  • Abordada como processo, a teoria das representações sociais de Moscovici reside no saber de que forma se constroem as representações, como se desenvolve a inclusão do novo e do incomum, em ambientes em que prevalecem o consenso. Conforme Moscovici (1978), envolve dois processos formadores: a ancoragem e a objetivação
  • O processo de objetivação torna “[...] real um esquema conceptual, (...) que se dê a uma imagem uma contrapartida material [...]” (MOSCOVICI, 1978, p. 110). Dessa forma, a objetivação consiste em dar corpo a um determinado conceito. O processo de ancoragem envolve a integração cognitiva do objeto expresso no sistema de um pensamento preexistente, dessa forma, por meio da ancoragem tornamos familiar o conceito ou objeto representado.
  • Os estudos de Lévy-Bruhl abordaram a investigação das leis de funcionamento das representações coletivas, que apresentam condutas próprias e autônomas das leis da psicologia fundadas sobre a análise do sujeito individual. Assumidas por serem usuais aos indivíduos de determinados grupos sociais, por serem repassadas como herança e por se sobressaírem aos indivíduos e lhes instigar hábitos, virtudes e crenças, as representações coletivas se articulam e se diferenciam das representações construídas pelos indivíduos isoladamente. Como exemplo, Lévy-Bruhl (apud FARR, 1998) destaca a “língua” para mencionar uma distinção entre as instâncias coletivas e individuais. A língua não pode existir sem os falantes e ao mesmo tempo é anterior a eles e se disponibiliza de forma que seja possível cada indivíduo identificar sua fala.
  • Para esclarecer, Lévy-Bruhl (apud FARR, 1998) apresenta o funcionamento da mentalidade primitiva propondo o estudo de quatro funções básicas que compõem o processamento cognitivo: a memória, a abstração, a generalização e a classificação. A memória possui uma importância significativa, pois atende a necessidades reais de reprodução da cultura, possibilitando que as inúmeras sínteses substantivas recebidas da tradição social possam estar sempre presentes nas consciências individuais. A abstração possui uma função que beira a mística. Sua principal característica é isolar os caracteres que constituem um ser, dedicando atenção exclusiva às dimensões que englobam tudo aquilo que ultrapassa o alcance imediato dos sentidos. A generalização consiste resumidamente no resultado de um sentimento difuso de ligação entre as coisas, os seres e os homens. A classificação possui também caráter fundamentalmente místico, uma vez que Principais matrizes teóricas da psicologia social 5 consiste apenas no resultado de abstrações e generalizações misticamente orientadas.
  • Resumo: Em Durkheim (1895), o conceito de representações coletivas fez da sociedade um corpo relativo e histórico. Em Moscovici (1978), as representações puderam, sobretudo, abordar as práticas sociais, atribuindo sentido e retirando o viés irracional. Em Lévy-Bruhl (1947), destaca-se o conceito de mentalidade primitiva, que articula as funções básicas do processamento cognitivo (memória, abstração, generalização e classificação) para a constituição das representações coletivas.
  • A psicanálise começou a se ocupar com o social, mais especificamente os laços sociais, com Freud e seu estudo intitulado “Psicologia das massas e análise do eu” em 1921. Nesse estudo, Freud aborda a que se refere a noção de “massa”. Inicialmente buscando diálogo com autores como Le Bon e McDougall. Em Le Bon, Freud (apud MAYA, 2016) se inquieta com a ausência de resposta para a seguinte questão: “Se os indivíduos do grupo se combinam em uma unidade, deve haver certamente algo para uni-los, e esse elo poderia ser precisamente a coisa que é característica de um grupo”. Com relação à organização da massa de McDougall, ao olhar de Freud (apud MAYA, 2016), destaca-se uma tese: “A tarefa consiste em procurar na massa as mesmas propriedades que eram características do indivíduo e se apagaram pela formação de massa” e introduz noções centrais que a clínica lhe forneceu, tais como identificação, sugestão e libido.
  • Freud (1921) destaca a libido e o amor como forças que unem a massa, junto à necessidade que tem o indivíduo de um outro. Assim, poderíamos resumir todo o desenvolvimento de sua tese destacando que existe uma relação analógica entre o que se passou no indivíduo e o que se passou na constituição de uma massa, o que nos leva a pensar sobre o vínculo estabelecido entre a massa e o indivíduo.
  • Jung (2000) formulou uma teoria que incluía tanto o inconsciente pessoal quanto o coletivo. O inconsciente pessoal é composto de memórias esquecidas, experiências reprimidas e percepções subliminares é semelhante ao conceito de inconsciente de Freud. Os conteúdos do inconsciente coletivo, também conhecido como inconsciente impessoal ou transpessoal, são universais e não se enraízam em nossa experiência pessoal. Jung (2000) define o inconsciente como um processo, em que a psique se transforma ou se desenvolve pelo relacionamento do ego com os conteúdos do inconsciente. O inconsciente coletivo, que resulta das experiências comuns a todas as pessoas, também inclui material de nossa genealogia pré-humana e animal. Jung sugeriu que existe um nível de imagens no inconsciente comum a todas as pessoas. Ele também descobriu uma íntima correspondência entre os conteúdos oníricos dos pacientes e os temas míticos e religiosos encontrados em muitas culturas amplamente dispersas. No filme O labirinto do Fauno, dirigido por Guillermo Del Toro em 2006, você pode ver de forma bem explícita o conceito de inconsciente coletivo de Jung, juntamente com as forças que unem as massas, como o amor e a libido de Freud. O filme retrata uma história repleta de personagens místicos que oscilam entre fantasia e realidade e possui como personagem central uma menina de 13 anos em um cenário na década de 1940 na Espanha após a guerra civil. Além do olhar psicanalítico, você pode identificar no filme os conceitos de Durkheim, Moscovici e Lévy-Bruhl costurados a esse olhar.
  • As contribuições de diferentes ciências em torno de teorias que lançam olhar sobre o social geram uma das particularidades da psicologia social contemporânea, surgindo dessa forma uma visão de que a psicologia social possui pluralidade em sua essência. Conforme essa tese, os autores da atualidade destacam três possibilidades: Psicologia social psicológica analisa os modos de ser dos indivíduos com relação aos demais, mesmo que o entro não seja concreto, real, produzindo conteúdos a partir da imaginação, bem como as influencias provenientes Principais matrizes teóricas da psicologia social 7 dessa relação. Os psicólogos sociais simpatizantes com essa corrente teórica buscam salientar os modos como cada indivíduo vivencia, interpreta e responde aos acontecimentos. Psicologia social sociológica busca na experiência social vivenciada pelo indivíduo, nos grupos sociais nos quais está inserido uma compreensão acerca dos fenômenos que os cercam. Assim, os psicólogos sociais com abordagem sociológica voltam seus olhares sobre os acontecimentos decorrentes das participações de diferentes grupos sociais na sociedade, bem como seu impacto para esta. Na psicologia social crítica ou psicologia social histórico-crítica, diferentes posturas teóricas estão envolvidas para uma melhor compreensão em torno da psicologia social que se delineia na atualidade, como o socioconstrucionismo e a psicologia discursiva. Essa vertente lança olhar sobre os atravessamentos que conduzem os acontecimentos e comportamentos por meio das vivências sociais. Procurando unir conhecimentos, essa vertente teve sua origem na América Latina e tem o propósito de produção e captação de mudanças sociais. Emerge em situações de opressão e exploração presentes nas sociedades, promovendo a garantia de direitos.
  • EXEMPLO: Poderíamos exemplificar da seguinte forma. Vamos imaginar que você vai a um show da sua preferência: A psicologia social psicológica buscaria olhar para a forma como você interagiu com o show, bem como as emoções, as sensações e os comportamentos gerados por essa interação. A psicologia social sociológica buscaria compreender como o grupo que assistiu ao show interagiu entre si e com o evento, assim como os movimentos e conteúdos provindos dessa interação. A psicologia social crítica ou histórico-crítica se posicionaria de forma mais analítica, buscando compreender todos os movimentos que atravessam a relação que você estabeleceu com o grupo social que assistia ao show.