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Psicanálise e Behaviorismo

O módulo proporcionou uma exploração das escolas da psicologia, Psicanálise e Behaviorismo, destacando suas concepções distintas sobre o ser humano, o objeto e o método de estudo.

Comparativo Geral das Escolas

  • Objeto de Estudo: A Psicanálise foca no mundo interno e no inconsciente, abordando a subjetividade e os fenômenos mentais através da escuta clínica e interpretação. Em contraste, o Behaviorismo se restringe ao estudo do comportamento observável, tratando todos os fenômenos (humanos ou não) como processos físicos que devem ser estudados com métodos objetivos.
  • Metodologia: A Psicanálise tem uma dimensão hermenêutica, baseada na interpretação de fenômenos psíquicos e na escuta ativa. Já o Behaviorismo abandona a auto-observação e a introspecção em favor de estudos experimentais sobre o comportamento observado, buscando predição e controle através da manipulação de variáveis em laboratório ou contextos naturais.
  • Concepção de Sujeito: Para a Psicanálise, o sujeito é dividido (entre o dito e o dizer, entre o consciente e o inconsciente) e perpassado pela linguagem, não sendo um "eu" consciente unificado. O inconsciente freudiano não é estritamente individual, mas também sujeito do coletivo e da civilização. No Behaviorismo, a premissa inicial é que o ser humano é totalmente condicionado, e processos mentais são explicados fisiologicamente. Autores posteriores, como Tolman e Bandura, introduziram processos cognitivos no âmbito behaviorista, como "mapas cognitivos" e fatores que regem a aprendizagem por observação.

Psicanálise

A Psicanálise, fundada por Freud e desenvolvida por autores como Melanie Klein e Jacques Lacan, surgiu entre o final do século XIX e início do XX.

  • Inconsciente e Subjetividade: É o conceito fundamental da Psicanálise, demonstrando que sintomas e inibições podem ter origem psíquica, não biológica. A introdução do inconsciente ressaltou uma vida interior, produzida pela experiência e história de vida do sujeito, desconstruindo a ideia de um "eu" consciente.
  • Conceitos-chave:
    • Sintoma: Para a Psicanálise, o sintoma não é apenas um sinal de doença orgânica, mas uma resposta a um conflito inconsciente, um núcleo ininterpretável de satisfação paradoxal (pulsão de morte). O tratamento busca a construção de saídas singulares e a responsabilização do sujeito, não a mera eliminação do sintoma.
    • Transferência: É o processo pelo qual os desejos inconscientes se atualizam sobre determinados objetos, especialmente na relação com o analista, sendo o terreno central do tratamento psicanalítico. Na clínica com crianças, a transferência é complexa devido à presença dos pais reais, que podem atuar como veículo de resistência. O analista deve legitimar o "saber" do sujeito e acompanhar a elaboração de perguntas que o conduzam a um "saber" singular sobre a verdade do seu gozo.
    • Identificação: É um conceito central, podendo ser por incorporação, regressiva ou articulada à lei. É a fixação em "imagos" que capturam o sujeito, e é essencial para a constituição do eu e do sujeito. A Psicanálise Lacaniana propõe que a emergência do sujeito ocorre pelo estilhaçamento da imagem e queda da soberania das identificações puramente imaginárias.
    • Pulsão: A "moção pulsional" refere-se à materialidade da energia no psiquismo, na fronteira entre o mental e o somático, representando as exigências do corpo para a mente. A "pulsão de morte" é associada à tendência à agressão e autodestruição.
    • Complexo de Édipo: Etapa em que as crianças reconhecem a diferença sexual, sendo um mecanismo para a produção da personalidade e ingresso no universo simbólico.
  • Expansão da Prática: Embora inicialmente restrita a consultórios, a Psicanálise, especialmente a partir da década de 1970 no Brasil, expandiu seu campo de atuação para famílias, comunidades e instituições, desafiando a ideia de ser elitista e socialmente neutra.
  • Diálogo com Saúde Coletiva: A Psicanálise contribui para a Saúde Coletiva questionando o paradigma biomédico, que reduz a saúde à disfunção mecânica. Proporciona uma abordagem mais complexa do processo saúde-adoecimento, destacando a importância da subjetividade e da singularidade. Favorece a interdisciplinaridade, ao reconhecer que nenhum saber é totalizante e que a realidade é construída pelo sujeito em seu encontro com o "impossível do gozo".

Behaviorismo

O Behaviorismo é uma escola de pensamento que se fundamenta na premissa de que a psicologia científica deve se restringir ao estudo do comportamento observável. É um campo múltiplo, com diferentes perspectivas e designações, como Behaviorismo Radical (Skinner), Análise do Comportamento, entre outros.

  • Foco no Comportamento Observável: Abandona o estudo da consciência e a introspecção, priorizando a investigação experimental do comportamento.
  • Condicionamento e Reforço:
    • Condicionamento Operante (Skinner): Um comportamento tende a se repetir se leva a consequências reforçadoras, e a se extinguir se leva a consequências não-reforçadoras.
    • Esquemas de Reforço: Podem ser contínuos (reforço a cada vez que o comportamento desejável é emitido) ou intermitentes (reforço apenas algumas vezes).
  • Cognição no Behaviorismo:
    • Edward Tolman: Abordou estudos sobre cognição, como o aprendizado latente e a formação de "mapas cognitivos". Mapas cognitivos são representações mentais de base neural que permitem aquisição, armazenamento e processamento de informações. Para Tolman, a aprendizagem não é só conexão estímulo-resposta, mas construção de estruturas no sistema nervoso.
    • Albert Bandura: Dedicou-se a elucidar o papel da observação na aquisição do comportamento. A aprendizagem observacional é regida por quatro fatores cognitivos principais: atenção, retenção, produção e motivação. Bandura sustenta que a conduta humana só pode ser compreendida pela interação entre fatores ambientais, cognitivos e comportamentais.
  • Natureza Experimental: O método experimental é preponderante nas abordagens comportamentais, pois permite a predição e o controle, além de descrições e explicações. A potência do método experimental baseia-se na ideia de que fenômenos são determinados ou se relacionam de forma regular.

Essas duas escolas representam abordagens fundamentalmente diferentes para o estudo da psique e do comportamento humano, influenciando diversas áreas da psicologia e da saúde.

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Ediniz Francisco da Silva