Psicanálise e Filosofia
Citação de Ryan de Jesus em setembro 30, 2023, 12:07 amOra, não haveria nesse procedimento tão comum da escritura de Freud um parentesco com a filosofia? Mesmo que lacunar, o que se expõe não é uma ideia laboriosamente construída? Se Binswanger afirma que, "assim como a planta original de Goethe não é uma planta, mas uma ideia, como Schiller declarou em sua famosa conversa com Goethe, e para espanto deste, assim também o homem original freudiano não é um homem real, mas uma ideia" (Binswanger, 1970, p. 206), podemos corrigir sua sentença da seguinte maneira: o homem original freudiano, mesmo sendo uma ideia, é um homem real, e talvez a realidade mais significativa e impositiva que se pode experimentar. Uma realidade que se impõe sobre a materialidade dos fatos, capaz de produzir medos, alucinações, esquecimentos, recordações, lapsos e tantas outras coisas. Como construção de uma ideia, há muito de filosófico no procedimento de Freud. Uma ideia que, contudo, não nos aliena do mundo, mas nos enraíza no que ele tem de mais real e verdadeiro.
Desse ponto de vista, seria possível, então, uma filosofia da psicanálise? Se há algo de filosófico no procedimento analítico e na construção conceitual de Freud, sem o que jamais seria possível propor conceitos fundamentais para o tratamento psíquico, tais como inconsciente, pulsão, processo primário, fantasia, censura etc., não podemos, por outro lado, desconsiderar que esses conceitos inundaram a filosofia e se tornaram tópicos de sua investigação. Não uma investigação que vise pôr o filósofo na atuação direta no mundo, tornando-se agente da clínica psicanalítica, mas levá-lo a enfrentar esses conceitos para tornar claros os seus pressupostos e fundamentos.
Mas, sobre isso, o leitor poderia, por fim, indagar-nos se quando Freud atua na clínica já não estaria, ao mesmo tempo, formulando esses esclarecimentos na forma de uma metapsicologia. Nós não poderíamos discordar dele. Seria então inconsequente arriscar que primeiro o autor faz clínica, para depois teorizar sobre ela. Ou, dito de outro modo, que partiria dos problemas do homem no mundo para depois construir a ideia geral sobre ele. Nesse ponto, as figuras do filósofo e do psicanalista parecem embaralhar-se, não sendo possível separá-los de maneira radical sem cair novamente em conclusões artificiais e, por que não dizer, absurdas.
Ora, não haveria nesse procedimento tão comum da escritura de Freud um parentesco com a filosofia? Mesmo que lacunar, o que se expõe não é uma ideia laboriosamente construída? Se Binswanger afirma que, "assim como a planta original de Goethe não é uma planta, mas uma ideia, como Schiller declarou em sua famosa conversa com Goethe, e para espanto deste, assim também o homem original freudiano não é um homem real, mas uma ideia" (Binswanger, 1970, p. 206), podemos corrigir sua sentença da seguinte maneira: o homem original freudiano, mesmo sendo uma ideia, é um homem real, e talvez a realidade mais significativa e impositiva que se pode experimentar. Uma realidade que se impõe sobre a materialidade dos fatos, capaz de produzir medos, alucinações, esquecimentos, recordações, lapsos e tantas outras coisas. Como construção de uma ideia, há muito de filosófico no procedimento de Freud. Uma ideia que, contudo, não nos aliena do mundo, mas nos enraíza no que ele tem de mais real e verdadeiro.
Desse ponto de vista, seria possível, então, uma filosofia da psicanálise? Se há algo de filosófico no procedimento analítico e na construção conceitual de Freud, sem o que jamais seria possível propor conceitos fundamentais para o tratamento psíquico, tais como inconsciente, pulsão, processo primário, fantasia, censura etc., não podemos, por outro lado, desconsiderar que esses conceitos inundaram a filosofia e se tornaram tópicos de sua investigação. Não uma investigação que vise pôr o filósofo na atuação direta no mundo, tornando-se agente da clínica psicanalítica, mas levá-lo a enfrentar esses conceitos para tornar claros os seus pressupostos e fundamentos.
Mas, sobre isso, o leitor poderia, por fim, indagar-nos se quando Freud atua na clínica já não estaria, ao mesmo tempo, formulando esses esclarecimentos na forma de uma metapsicologia. Nós não poderíamos discordar dele. Seria então inconsequente arriscar que primeiro o autor faz clínica, para depois teorizar sobre ela. Ou, dito de outro modo, que partiria dos problemas do homem no mundo para depois construir a ideia geral sobre ele. Nesse ponto, as figuras do filósofo e do psicanalista parecem embaralhar-se, não sendo possível separá-los de maneira radical sem cair novamente em conclusões artificiais e, por que não dizer, absurdas.