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Reflexão sobre a estrutura da personalidade

Esta unidade apresentou a formação da personalidade psicanalítica e o processo dessa constituição – inicialmente um eu corporal fruto de identificação e completa dependência do outro maternal (eu-ideal) que, com o tempo e o olhar dos pais, assujeita-se à imagem do desejado e perfeito filho (ideal de eu) –, instituindo a passagem infantil do narcisismo primário para o secundário, de objeto inicial para sujeito de investimento libidinal. Ao inscrever o filho no mundo, esse novo sujeito pulsional enfrentará a realidade, formulando adaptações diante das exigências externas, os mecanismos defensivos, e assim, também sua estrutura psíquica e personalidade.

Esse processo demonstra o dinamismo da constituição do aparelho psíquico elaborado por Freud em três instâncias: o id, o ego e o superego. Sobretudo, é muitíssimo interessante observar a posição freudiana sobre a ideia do Eu (ego): o Pai da Psicanálise posiciona o ego como uma função derivada do id, definindo o Eu como sua mera parte organizada, criada para atender ao fluxo das tensões do id, não para frustá-las. É comum que se atribua ao ego uma posição considerada “superior” da personalidade, elevando-o a um ente controlador das pulsões e da vida consciente, dono dos mecanismos de defesa, um maestro das decisões. Fato é que o ego não opera com independência, e é mais certo que trabalhe mais como um empregado do que um empregador!

Em seu artigo, Sollero-de-Campos e Winograd apresentam uma aproximação desse conceito com a noção de self de Damásio. O célebre neurocientista também explica a formação da mente a partir da relação dinâmica entre o biológico e o social. Curiosamente, Damásio defende o sistema inconsciente e emocional, mais primitivo (protoself e self central) como o regulador do sistema cerebral, invertendo a lógica comum na ciência da primazia do cérebro racional. Em outras palavras, Damásio argumenta que são as emoções e os sentimentos (do corpóreo e das imagens) o mapa do organismo humano, que passaria a self autobiográfico consciente apenas depois, com a organização da memória e da linguagem. Portanto, também a neurociência parece atribuir devido valor à dimensão inconsciente da vida humana.