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Reflexão sobre o desejo

Além de ambientar o contexto do desenvolvimento da Psicanálise e apresentar o fundamento da teoria freudiana – o material intrapsíquico inconsciente e seu mecanismo de ação sobre o aparelho psíquico, que Freud aperfeiçoou na segunda tópica –, esta lição proporcionou uma reflexão muitíssimo rica acerca da questão primordial do desejo ao homem. Pensar a Psicanálise como teoria social faz-se, de fato, de extrema centralidade enquanto motor das conflitivas humanas, produzindo a contínua tensão entre o desejo individual frente às exigências e aos padrões da sociedade/cultura. O sujeito psicanalítico é mesmo esse que vive o paradigma da busca pela realização dos desejos subjetivos, movido pelo princípio do prazer, mas frustrado pela realidade – felizmente restrito pelo acordo civilizatório –, que dispõe o ser humano a renunciar a satisfação avassaladora do instinto inconsciente.

Como bem argumenta Azevedo (2010) em seu artigo, essa é a condição para ser humano, a única possibilidade de ser; portanto, é fundamental reconhecer nossa incompletude, não para se resolver a tensão – que nunca se resolve – mas para desenvolver em nós mecanismos mais adaptados, admitindo as forças instituais e também as da sociedade em contrabalanço. Essa relação entre a realidade e a subjetividade é muito bem explicada pela mutualidade entre indivíduo e cultura: as imposições objetivas constituem parte da subjetividade que, por sua vez, processa mecanismos de defesa para adaptar as interações e a realidade social das pessoas – como pode ser visto no mecanismo estudado da sublimação.

Luiz Felipe Pondé, em conversa com Celso Loducca para o canal Quem Somos Nós?, reforça o problema do desejo humano. Ele afirma: “Como que você pode deixar sete bilhões de pessoas felizes? Eu acho que o problema do planeta começa na insustentabilidade do desejo humano (…). O desejo humano é insustentável. Quando você tem sete bilhões de pessoas desejando plenitude, satisfação, em algum momento isso explode” (n.d.). Em verdade, não parece haver limites ao desejo e à busca pelo prazer humano. Assim, pensar em formas de canalizar nossos esforços individuais em prol da sociedade não deixa de ser um projeto tão humanitário quanto a busca pela própria felicidade. Ela é mútua: enquanto buscarmos a felicidade somente para nosso próprio e exclusivo prazer, não a encontremos.