Relações entre as Matrizes da Psicologia Social, a Psicanálise e a Atuação do Psicanalista
Citação de Telma Ligia Antonelli Montini em maio 2, 2025, 3:19 pmA interlocução entre a Psicologia Social e a Psicanálise é um campo rico e necessário, especialmente quando buscamos compreender o sujeito em sua totalidade — não apenas como indivíduo isolado, mas como ser constituído também pelas relações sociais, históricas e culturais.
A Psicologia Social, em suas diversas matrizes, traz contribuições importantes para a Psicanálise, ao problematizar o contexto em que o sujeito está inserido. Desde a perspectiva clássica, com Freud, essa conexão já era evidente. Em Psicologia das Massas e Análise do Ego, Freud analisa como o inconsciente individual é atravessado pelas formações coletivas, revelando que o sujeito abdica de aspectos do seu superego em favor de líderes, grupos e ideais. Esse texto, embora de base psicanalítica, é um marco na Psicologia Social e oferece elementos fundamentais para a escuta clínica, como a compreensão da transferência e das identificações sociais.
Avançando no tempo, a Psicologia Social Crítica — inspirada em autores como Enrique Pichon-Rivière e Paulo Freire — reforça a ideia de que o sofrimento psíquico é também um reflexo das estruturas sociais. A crítica aqui é direta: não basta tratar o sintoma individual sem considerar os atravessamentos de classe, raça, gênero e opressões sociais. Para o psicanalista, isso implica reconhecer que a escuta clínica precisa estar sensível a esses marcadores. A neutralidade absoluta não é apenas impossível — ela pode ser cúmplice da exclusão e da repetição do sofrimento.
Já a Psicologia Social de base norte-americana, mais experimental e quantitativa, embora distante da subjetividade psicanalítica, oferece insights sobre os mecanismos de influência social, conformidade e comportamento em grupo. Ainda que a Psicanálise não compartilhe do mesmo método, essas descobertas podem dialogar com a ideia de como o superego se constitui a partir da internalização de normas culturais e expectativas sociais. Nesse sentido, o psicanalista pode encontrar nessas matrizes pistas sobre a origem de certas angústias e sintomas relacionados ao ideal do eu e à pressão social.
Por fim, a Psicologia Social construcionista aproxima-se mais diretamente da Psicanálise, sobretudo das leituras lacanianas, ao compreender que o sujeito é estruturado pela linguagem. A subjetividade, nesse campo, é entendida como produto de discursos e narrativas sociais, o que converge com a noção de inconsciente estruturado como linguagem. A escuta analítica, então, se torna um espaço onde o sujeito pode se reescrever, desalienando-se de certos discursos que o aprisionam.
Diante disso, a atuação do psicanalista no mundo contemporâneo exige uma escuta atenta às marcas do social no inconsciente. A clínica não é neutra frente às estruturas de exclusão, tampouco alheia aos atravessamentos históricos que moldam o sujeito. Estar em análise é também, de algum modo, se colocar em relação com o coletivo — com o que se herdou, com o que se repete e com o que se deseja transformar.
Portanto, o diálogo entre Psicanálise e Psicologia Social não apenas é possível, como é desejável — especialmente em tempos em que o sofrimento psíquico carrega, cada vez mais, as marcas das desigualdades sociais.
A interlocução entre a Psicologia Social e a Psicanálise é um campo rico e necessário, especialmente quando buscamos compreender o sujeito em sua totalidade — não apenas como indivíduo isolado, mas como ser constituído também pelas relações sociais, históricas e culturais.
A Psicologia Social, em suas diversas matrizes, traz contribuições importantes para a Psicanálise, ao problematizar o contexto em que o sujeito está inserido. Desde a perspectiva clássica, com Freud, essa conexão já era evidente. Em Psicologia das Massas e Análise do Ego, Freud analisa como o inconsciente individual é atravessado pelas formações coletivas, revelando que o sujeito abdica de aspectos do seu superego em favor de líderes, grupos e ideais. Esse texto, embora de base psicanalítica, é um marco na Psicologia Social e oferece elementos fundamentais para a escuta clínica, como a compreensão da transferência e das identificações sociais.
Avançando no tempo, a Psicologia Social Crítica — inspirada em autores como Enrique Pichon-Rivière e Paulo Freire — reforça a ideia de que o sofrimento psíquico é também um reflexo das estruturas sociais. A crítica aqui é direta: não basta tratar o sintoma individual sem considerar os atravessamentos de classe, raça, gênero e opressões sociais. Para o psicanalista, isso implica reconhecer que a escuta clínica precisa estar sensível a esses marcadores. A neutralidade absoluta não é apenas impossível — ela pode ser cúmplice da exclusão e da repetição do sofrimento.
Já a Psicologia Social de base norte-americana, mais experimental e quantitativa, embora distante da subjetividade psicanalítica, oferece insights sobre os mecanismos de influência social, conformidade e comportamento em grupo. Ainda que a Psicanálise não compartilhe do mesmo método, essas descobertas podem dialogar com a ideia de como o superego se constitui a partir da internalização de normas culturais e expectativas sociais. Nesse sentido, o psicanalista pode encontrar nessas matrizes pistas sobre a origem de certas angústias e sintomas relacionados ao ideal do eu e à pressão social.
Por fim, a Psicologia Social construcionista aproxima-se mais diretamente da Psicanálise, sobretudo das leituras lacanianas, ao compreender que o sujeito é estruturado pela linguagem. A subjetividade, nesse campo, é entendida como produto de discursos e narrativas sociais, o que converge com a noção de inconsciente estruturado como linguagem. A escuta analítica, então, se torna um espaço onde o sujeito pode se reescrever, desalienando-se de certos discursos que o aprisionam.
Diante disso, a atuação do psicanalista no mundo contemporâneo exige uma escuta atenta às marcas do social no inconsciente. A clínica não é neutra frente às estruturas de exclusão, tampouco alheia aos atravessamentos históricos que moldam o sujeito. Estar em análise é também, de algum modo, se colocar em relação com o coletivo — com o que se herdou, com o que se repete e com o que se deseja transformar.
Portanto, o diálogo entre Psicanálise e Psicologia Social não apenas é possível, como é desejável — especialmente em tempos em que o sofrimento psíquico carrega, cada vez mais, as marcas das desigualdades sociais.