Forum

Please or Cadastrar to create posts and topics.

Sobre o EU

Em 1914, Freud revela que o eu não é uma realidade originária, é constituído num processo de encontro com dimensões de alteridade. Nesse momento, aparecem as idéias de eu ideal, ideal de eu e precipitado de identificações. O eu ideal refere-se ao narcisismo primário, em que teremos o primeiro investimento sexual em uma “unidade”.1 Parece-nos pertinente ressaltar que na constituição do eu ideal está implicada a presença constitutiva do outro; mas este se encontra reduzido em sua densidade alteritária, pois é visto como um reflexo do eu. Entretanto, será este “outro-reflexo” que, na sua sedução traumatizante, possibilita a percepção do corpo como uma “unidade” para além da carnalidade. O eu corporal que determina seus limites não reconhece o outro presente na sua constituição como um outro-pessoa, mas sim como duplo de si, ou melhor, como uma modalidade de outro-reflexo. Assim, muitas definições da noção de eu aparecem atreladas à problemática identitária, que nos parece uma consequência da idéia de outro como um duplo do eu.

Na primeira tópica, as discussões sobre a presença do outro na constituição do eu aparecem via noção de narcisismo. Na constituição do eu, comparecem diversas figuras de alteridade, nomeadas como eu ideal e ideal do eu.

Já na segunda tópica, Freud aproxima mais o eu das questões da alteridade na medida em que anuncia a criação do eu a partir de um processo de modificação do Id. O eu é uma parte do Id que se modifica no contato com a realidade. O eu surgiria de um princípio de alteridade. A afirmação freudiana de que no Id encontra-se nossa herança filogenética coloca esta instância no campo discursivo da alteridade. Assim, na segunda tópica, o Id seria uma figura de alteridade por excelência e que, a partir de diferenciações, produziria diferentes instâncias como os atravessadores alteritários no eu, o ideal do eu e o supereu. Freud (1923) revela que

O caráter do eu é um precipitado de catexias objetais abandonadas e ele contém a história dessas escolhas de objeto (FREUD, 1923, p. 43 - 44).

O eu é formado a partir de identificações que tomam o lugar de catexias abandonadas pelo Id (FREUD, 1923, p. 64).