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Um panorama geral.

Olá a todos,

Gostaria de compartilhar algumas reflexões sobre como o ego, seus mecanismos de defesa e as dinâmicas libidinais se entrelaçam na vida em grupo.

Segundo Freud, nossa psique divide-se em três instâncias: o id, repositório das pulsões instintivas; o ego, que medeia entre essas pulsões e a realidade externa; e o superego, como interiorização de normas e ideais parentais. No contexto grupal, essa tríade não desaparece: ao contrário, ganha contornos novos à medida que cada sujeito recria seus equilíbrios internos em função das expectativas e tensões coletivas.

Para manter a estabilidade psicológica, o ego lança mão de uma série de defesas (repressão, projeção, formação reativa, sublimação etc.). Num grupo, algumas dessas defesas tornam-se quase “coletivas”:

  • Repressão coletiva ocorre quando desejos ou ressentimentos não podem ser manifestados abertamente, reforçando o laço ao custo de negar diferenças fundamentais entre os membros.
  • Identificação com o líder ou com o ideal grupal substitui a identificação individual, criando um “ideal do eu” compartilhado que une, mas também pode mascarar conflitos internos.

Laplanche & Pontalis nos lembram que nossa libido não se dirige apenas a objetos individuais: existe também uma pulsão social, que nos liga a líderes, metas ou causas coletivas. Nesse movimento, rivalidades e medos — muitas vezes inconscientes — circulam entre os membros, dando origem a fantasias e transferências cruzadas. Por exemplo, a inveja dirigida ao privilegiado do grupo pode se projetar numa suspeita de traição, mesmo sem fundamento real.

Além disso, Winnicott e autores contemporâneos destacam o papel do ego corporal: nossa sensação de “dentro-fora” do corpo, construída nos primeiros meses de vida, sustenta o sentimento de identidade. Em grupos, aquele que se sente “incompleto” pode experimentar ansiedades somáticas — tremores, insônia — quando a identificação grupal oscila; trabalhar essas sensações é tão importante quanto falar sobre ideias.

Mapear fluxos libidinais individuais e coletivos ajuda a identificar onde estão as tensões não-ditas.
Interpretar resistências e transferências cruzadas permite trazer ao consciente o que foi reprimido e reforça limites saudáveis entre sujeito e grupo.
Evitar fusões patológicas exige cuidar para que o ideal do ego individual não seja completamente subsumido pelo ideal grupal, preservando a autonomia de cada um.

Em suma, olhar para o ego e suas defesas dentro de um grupo nos oferece um panorama rico sobre como unimos forças, negamos diferenças e, acima de tudo, respiramos juntos — ora em harmonia, ora em conflito. Espero que essas considerações inspirem um debate produtivo sobre como podemos usar essas ideias para melhorar tanto a dinâmica terapêutica em grupo quanto o trabalho em equipes e comunidades.

Abraço e bons insights a todos!