Forum

Please or Cadastrar to create posts and topics.

A Relação Compreensiva e a Relação com o Real: Uma Análise Psicanalítica da Imagem

Na psicanálise lacaniana, a relação entre a imagem e o sujeito pode ser compreendida a partir dos três registros fundamentais: o Imaginário, o Simbólico e o Real. Esses registros estruturam a forma como o sujeito se relaciona com a realidade e interpretam o papel da imagem na constituição do eu.

Os Três Registros da Psicanálise e a Imagem

  1. O Imaginário – Relaciona-se à identificação e à construção do eu a partir da imagem. Esse registro é introduzido no Estágio do Espelho, onde o sujeito se reconhece em uma imagem unificada, mas alienante. No campo da imagem, esse registro se manifesta na fotografia, na pintura e em qualquer forma de representação que busque capturar a realidade de maneira ilusória, promovendo uma sensação de completude.
  2. O Simbólico – É o registro da linguagem e da ordem social. Diferente do Imaginário, o Simbólico não se baseia na aparência, mas na estrutura e nos significados. Uma imagem pode carregar camadas simbólicas que remetem a códigos culturais, discursos sociais e históricos. Assim, no paradigma da imagem, esse registro se manifesta nas narrativas visuais que organizam e estruturam o olhar, oferecendo sentido além da pura representação.
  3. O Real – O Real, em Lacan, não é o que chamamos de “realidade objetiva”, mas sim aquilo que escapa à simbolização e à representação. Ele se manifesta como um trauma ou uma fissura na experiência do sujeito. Na imagem, o Real se apresenta como aquilo que não pode ser capturado, aquilo que falta ou que perturba a percepção. Muitas vezes, encontra-se naquilo que a imagem não pode mostrar, no que é censurado ou invisível.

Os Três Paradigmas da Imagem e os Registros Psicanalíticos

A relação entre imagem e psicanálise também pode ser analisada a partir dos três paradigmas da imagem: a imagem como representação, a imagem como ilusão e a imagem como inscrição do real.

  • Imagem como Representação (Imaginário) → Busca capturar e reproduzir o real, mas inevitavelmente opera um recorte, uma mediação. Relaciona-se ao registro do Imaginário porque cria uma ilusão de completude e identificação.
  • Imagem como Ilusão (Simbólico) → Vai além da mera representação e insere um discurso, um significado. A ilusão da imagem pode estruturar e organizar a realidade, inscrevendo-se no Simbólico por meio de convenções visuais e culturais.
  • Imagem como Inscrição do Real (Real) → Rompe com as convenções simbólicas e expõe a impossibilidade de representação total. Aqui, a imagem mostra sua limitação, revelando o vazio ou a falta. É o instante em que o olhar do espectador se depara com algo que perturba, algo que resiste à significação.

A Imagem como Representação ou Aproximação do Eu

A imagem pode funcionar tanto como uma tentativa de capturar o eu quanto como um afastamento dele. No Estágio do Espelho, o sujeito se identifica com uma imagem que lhe dá a ilusão de unidade, mas essa unidade é uma construção alienante. A imagem do eu nunca corresponde ao sujeito em sua totalidade, pois há sempre algo que escapa – um resto, um traço do Real que não pode ser simbolizado.

Assim, na relação compreensiva com a imagem, o sujeito busca um sentido, uma narrativa, uma identificação (Imaginário e Simbólico). Já na relação com o Real, a imagem revela sua impossibilidade de apreender completamente o mundo e o sujeito. A fotografia de um momento, por exemplo, pode aproximar-se da memória e do desejo, mas nunca será o instante real – ele já passou e não pode ser recuperado.

Portanto, a imagem não é apenas um reflexo do real, mas uma construção psíquica e simbólica que tanto aproxima quanto distancia o sujeito de sua própria existência.