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Real x Imagem

O real é uma construção social, cujo representante da realidade é a imagem. Partindo dessa premissa, compreendemos as imagens como uma das muitas formas para expressar os pensamentos, e, consequentemente, para construir a relação entre os indivíduos. O ato de ver, o já visto e as inúmeras formas para caracterizar e representar essa relação fazem disto algo processual e relacional, cujo sentido vai variar de um sujeito para o outro. A relação entre imagem e real, portanto, deve ser compreendida como contextual, já que o significado dependerá do olhar de cada um e de acordo, por exemplo, com os âmbitos social e cultural em que estão inseridos. Isto porque a imagem é marcada pelo olhar do sujeito que ao observá-la e contemplá-la, produz sentidos sobre ela e sobre o real que ela representa.

Ao retornar para a obra freudiana, Lacan elaborou três registros: o imaginário, o simbólico e o real.

O imaginário - diz respeito a uma relação dual com a imagem do semelhante. Essa noção está relacionada ao estádio do espelho e, portanto, à construção do eu, da relação entre o eu e o outro e da imagem e (in)completude dos indivíduos e do narcisismo enquanto investimento libidinal. Deste modo, Santaella e Nöth, classificam o imaginário como o registro que mais se relaciona aos problemas da imagem.

O simbólico é o espaço da linguagem, da estrutura, da lei e da cultura, do grande Outro – o qual inclui a lei paterna, a mediação, o significante que falta, entre outros.

O real, em termos psicanalíticos, é tudo aquilo que é impossível de ser simbolizado e representado. Valendo-se do conceito freudiano de realidade psíquica, a noção de real elaborada por Lacan está associada a um “resto” que escapa ao discurso (matema) e que é impossível de ser transmitido.

Lacan define esses registros (Imaginário, Simbólico e Real) como essenciais da realidade humana, denominando-os, ainda, como categorias conceituais que tem caráteres universais.

Há três paradigmas da imagem. São eles:

1 - Paradigma pré-fotográfico: aquele que abarca as imagens artesanais (ex.: desenho, pintura, etc). Este paradigma está para o imaginário.

2 - Paradigma fotográfico: refere-se às imagens que têm uma relação dinâmica com o objeto que retomam, trazendo de alguma forma um rastro ou uma pista do objeto indicado. Este paradigma está para o real.

3 - Paradigma pós-fotográfico: engloba as imagens sintéticas ou infográficas, as quais são realizadas por meio da computação. Este paradigma está para o simbólico.

A imagem é uma das formas utilizadas para expressar a realidade e a sua relação com ela. Não se trata apenas de uma herança social e cultural, a partir das experiências individuais desde a tenra infância, mas, também, pela própria forma como o olhar do sujeito se projeta, produzindo sentido. O ato de ver é, portanto, primordial nesse processo e dialoga com filtros e julgamentos coletivamente construídos, aos quais raras vezes as pessoas têm acesso e compreensão consciente. A forma de olhar interfere, ainda, na constituição das pessoas enquanto seres humanos.

Diferentemente da concepção das ciências naturais, a realidade deve ser compreendida como um processo em construção pelos sujeitos, o que leva à reflexão da chamada: modalidade de imagem, que, por sua vez, é um aspecto da dimensão interacional, o qual se relaciona com a credibilidade das imagens, no sentido de como a mensagem é construída. De acordo com Kress e van Leeuwen, os marcadores visuais das imagens permitem que elas sejam interpretadas como mais ou menos reais, isto é, como mais ou menos “credíveis”. Nesta perspectiva, uma modalidade elevada remete para o real e uma baixa, para a possibilidade. O que trará a noção de real serão os elementos visuais usados pelo autor da imagem que possam atribuir credibilidade a ela. Considerando o fato de que a credibilidade faz parte de uma construção social/coletiva, os elementos usados para construir uma mensagem visual como real dependerá, portanto, da interpretação de cada grupo social. Deste modo, uma mesma mensagem pode conferir uma modalidade alta em um grupo e baixa em outro.