Seu olhar melhora o meu
Citação de ADÉRICA YNIS FERREIRA CAMPOS em agosto 9, 2025, 6:12 amNa física quântica há um famoso experimento mental: o Gato de Schrödinger. Proposto por Erwin Schrödinger em 1935 para ilustrar o conceito de superposição, ele descreve um gato hipoteticamente colocado em uma caixa selada junto com um dispositivo que pode matá-lo, dependendo de um evento quântico aleatório, como a decaimento de um átomo radioativo. Até que a caixa seja aberta e observada, o gato estaria em uma superposição quântica, existindo simultaneamente nos estados "vivo" e "morto".
A ideia central é que, enquanto a caixa estiver fechada, o gato não está nem vivo nem morto de forma definida, mas sim em uma superposição de ambos os estados. Quando a caixa é aberta, a observação do estado do gato (vivo ou morto) faz com que a superposição "colapse", resultando em um estado definido. Assim, o olhar do observador é que determinaria se o gato estaria vivo ou morto.
Esse experimento nos faz pensar que não podemos pretender conhecer a realidade objetivamente, pois ela dependeria da mente de cada sujeito que, como observador, criaria seu universo particular.
Com relação a esse assunto, na psicanálise Lacan elaborou teorias sobre o imaginário, o simbólico e o real. O imaginário corresponderia à esfera na qual se dá uma relação dual com a imagem do semelhante, corresponderia ao estádio do espelho, uma reflexão importantíssima para a psicanálise no tocante à construção do eu, da relação entre o eu e o outro e da imagem e (in)completude dos homens. Quanto ao simbólico Lacan faz uso do termo simbólico para se referir a um sistema de representação que se baseia na linguagem. O simbólico estaria relacionado ao inconsciente elaborado por Freud que passaria a ser retomado como o lugar de uma mediação comparável à do significante no registro da língua. E o real estaria associado ao que é impossível de ser simbolizado e representado.
Então, bem se vê que a nossa psique influenciará a maneira como percebemos o mundo e lidamos com as imagens que nos são bombardeadas a todo instante, inclusive pelas mídias. Nós teríamos um aparelho psíquico preparado para atribuir sentido a imagens de modo que nossa percepção da realidade seria absolutamente subjetiva. Como observadores privilegiados, construiríamos nossa realidade com base nas imagens que se alinharem com nosso mundo interior, subjetivo, psíquico.
Como afirma Hans Belting a imagem não pode ser entendida apenas como objeto material (pintura, fotografia, tela), mas como relação viva entre três elementos: imagem, corpo e mídia. Para Belting, uma imagem (Bild) é uma forma mental ou cultural de representação, enquanto a mídia (Medium) é o suporte material ou técnico que a transmite. Porém antes de haver telas, telas de cinema ou papel, o corpo humano já era suporte de imagens (pinturas corporais, gestos, máscaras). Assim, o corpo seria a mídia primordial. Mas o corpo também percebe e interpreta imagens — ele não é só suporte, mas também receptor ativo. Esse papel do corpo cria uma ligação entre imagem e experiência sensorial, afetiva e simbólica.
Deve-se considerar ainda que os marcadores visuais das imagens permitem que elas sejam interpretadas como mais ou menos reais, ou seja, como mais ou menos “credíveis”. Portanto, a credibilidade da imagem não diria respeito à fonte que produz a representação visual, mas sim, aos marcadores visuais da imagem. Porém, vale ressaltar que a credibilidade faz parte de uma construção social, coletiva. Os elementos usados para construir uma mensagem visual como real podem ser interpretados de forma diferente por cada grupo social.
Além disso, podemos falar em três paradigmas da imagem: paradigma pré-fotográfico, que abarca as imagens artesanais, tais como o desenho, a pintura e a gravura; paradigma fotográfico que se refere às imagens que têm uma relação dinâmica com o objeto que retomam, trazendo de alguma forma um rastro ou uma pista do objeto indicado e paradigma pós-fotográfico, que engloba as imagens sintéticas ou infográficas, as quais são realizadas por meio da computação.
Os registros pré-fotográficos estão associados ao imaginário, os registros fotográficos estão associados ao real e os registros pós-fotográficos estão associados ao simbólico. A relação da imagem pré-fotográfica com o imaginário é idílica e conflituosa; a relação da imagem fotográfica com o real é de captura de um fragmento no tempo-espaço; e a relação da imagem pós-fotográfica com o simbólico é marcada pela dimensão do olhar da lei, da cultura, da estrutura, da linguagem.
Portanto, os paradigmas fotográficos encontram correspondência com os três registros da psicanálise, isto é, com o imaginário, o simbólico e o real. Então, cada tipo de imagem acionaria em nosso psiquismo certa ordem de questões, colocando em funcionamento mecanismos psíquicos que tornariam a experiência da percepção dessas imagens subjetiva, e não objetiva, não uma mera decodificação, como se poderia pensar.
Além disso, vivemos em sociedade e travamos contato com pessoas diferentes, de diversos grupos sociais, que experimentaram diversas experiências, então, não é impossível um diálogo, não é impossível que se chegue a um consenso acerca da realidade ou da correspondência de alguma imagem com a realidade. Como diz o poeta e músico Arnaldo Antunes: “seu olhar melhora o meu”.
Na física quântica há um famoso experimento mental: o Gato de Schrödinger. Proposto por Erwin Schrödinger em 1935 para ilustrar o conceito de superposição, ele descreve um gato hipoteticamente colocado em uma caixa selada junto com um dispositivo que pode matá-lo, dependendo de um evento quântico aleatório, como a decaimento de um átomo radioativo. Até que a caixa seja aberta e observada, o gato estaria em uma superposição quântica, existindo simultaneamente nos estados "vivo" e "morto".
A ideia central é que, enquanto a caixa estiver fechada, o gato não está nem vivo nem morto de forma definida, mas sim em uma superposição de ambos os estados. Quando a caixa é aberta, a observação do estado do gato (vivo ou morto) faz com que a superposição "colapse", resultando em um estado definido. Assim, o olhar do observador é que determinaria se o gato estaria vivo ou morto.
Esse experimento nos faz pensar que não podemos pretender conhecer a realidade objetivamente, pois ela dependeria da mente de cada sujeito que, como observador, criaria seu universo particular.
Com relação a esse assunto, na psicanálise Lacan elaborou teorias sobre o imaginário, o simbólico e o real. O imaginário corresponderia à esfera na qual se dá uma relação dual com a imagem do semelhante, corresponderia ao estádio do espelho, uma reflexão importantíssima para a psicanálise no tocante à construção do eu, da relação entre o eu e o outro e da imagem e (in)completude dos homens. Quanto ao simbólico Lacan faz uso do termo simbólico para se referir a um sistema de representação que se baseia na linguagem. O simbólico estaria relacionado ao inconsciente elaborado por Freud que passaria a ser retomado como o lugar de uma mediação comparável à do significante no registro da língua. E o real estaria associado ao que é impossível de ser simbolizado e representado.
Então, bem se vê que a nossa psique influenciará a maneira como percebemos o mundo e lidamos com as imagens que nos são bombardeadas a todo instante, inclusive pelas mídias. Nós teríamos um aparelho psíquico preparado para atribuir sentido a imagens de modo que nossa percepção da realidade seria absolutamente subjetiva. Como observadores privilegiados, construiríamos nossa realidade com base nas imagens que se alinharem com nosso mundo interior, subjetivo, psíquico.
Como afirma Hans Belting a imagem não pode ser entendida apenas como objeto material (pintura, fotografia, tela), mas como relação viva entre três elementos: imagem, corpo e mídia. Para Belting, uma imagem (Bild) é uma forma mental ou cultural de representação, enquanto a mídia (Medium) é o suporte material ou técnico que a transmite. Porém antes de haver telas, telas de cinema ou papel, o corpo humano já era suporte de imagens (pinturas corporais, gestos, máscaras). Assim, o corpo seria a mídia primordial. Mas o corpo também percebe e interpreta imagens — ele não é só suporte, mas também receptor ativo. Esse papel do corpo cria uma ligação entre imagem e experiência sensorial, afetiva e simbólica.
Deve-se considerar ainda que os marcadores visuais das imagens permitem que elas sejam interpretadas como mais ou menos reais, ou seja, como mais ou menos “credíveis”. Portanto, a credibilidade da imagem não diria respeito à fonte que produz a representação visual, mas sim, aos marcadores visuais da imagem. Porém, vale ressaltar que a credibilidade faz parte de uma construção social, coletiva. Os elementos usados para construir uma mensagem visual como real podem ser interpretados de forma diferente por cada grupo social.
Além disso, podemos falar em três paradigmas da imagem: paradigma pré-fotográfico, que abarca as imagens artesanais, tais como o desenho, a pintura e a gravura; paradigma fotográfico que se refere às imagens que têm uma relação dinâmica com o objeto que retomam, trazendo de alguma forma um rastro ou uma pista do objeto indicado e paradigma pós-fotográfico, que engloba as imagens sintéticas ou infográficas, as quais são realizadas por meio da computação.
Os registros pré-fotográficos estão associados ao imaginário, os registros fotográficos estão associados ao real e os registros pós-fotográficos estão associados ao simbólico. A relação da imagem pré-fotográfica com o imaginário é idílica e conflituosa; a relação da imagem fotográfica com o real é de captura de um fragmento no tempo-espaço; e a relação da imagem pós-fotográfica com o simbólico é marcada pela dimensão do olhar da lei, da cultura, da estrutura, da linguagem.
Portanto, os paradigmas fotográficos encontram correspondência com os três registros da psicanálise, isto é, com o imaginário, o simbólico e o real. Então, cada tipo de imagem acionaria em nosso psiquismo certa ordem de questões, colocando em funcionamento mecanismos psíquicos que tornariam a experiência da percepção dessas imagens subjetiva, e não objetiva, não uma mera decodificação, como se poderia pensar.
Além disso, vivemos em sociedade e travamos contato com pessoas diferentes, de diversos grupos sociais, que experimentaram diversas experiências, então, não é impossível um diálogo, não é impossível que se chegue a um consenso acerca da realidade ou da correspondência de alguma imagem com a realidade. Como diz o poeta e músico Arnaldo Antunes: “seu olhar melhora o meu”.