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Desafio - Módulo II

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Neste momento se dá a verdadeira formação do EU, porém ao tratar-se de gêmeos, pode ser estabelecido uma confusão entre o eu e o outro, acabando por desafiar os limites da identidade deles.

Em caso de gêmeos o limiar entre o EU e o Outro é muito tênue.

A figura dos irmãos gêmeos, convivência desde o útero e a semelhança física fazem com que muitas vezes o outro seja vivenciado como extensão de si mesmo. A relação entre gêmeos pode ser um ponto-chave em escutas que envolvam sentimentos de inadequação, de vazio ou de dificuldade de individuação. Muitas vezes, trabalhar essas vivências permite ao sujeito reconhecer-se como um ser distinto, separado, e então abrir espaço para o desejo singular.

Percebe-se o elo entre os irmão desde a concepção, e a semelhança fica após o nascimento é real, embora seja indivíduos únicos com suas peculiaridades, as características físicas confundi o irmão ao se ver no espelho, acreditando ser seu irmão. Isso devido ainda não se reconhecer como sujeito.

Um dos gêmeos que ficou em casa, olha para o espelho. mas não tem o conhecimento do seu Eu pessoal, ou de sua  identidade refletida no espelho. Para ele, quando seu irmão está junto, é como se estivesse constantemente olhando para o espelho. Neste caso fez-se necessário a intervenção da mãe, para que ele tivesse o reconhecimento de sua imagem refletida no espelho.

Essa narrativa, sob a ótica da psicanálise, é um rico exemplo de como a formação do eu é atravessada pela presença do outro.
O menino que ficou em casa experimenta pela primeira vez a separação simbólica, revelando a dificuldade de se sustentar como sujeito autônomo — especialmente porque seu reflexo psíquico (o irmão gêmeo) está ausente.

Essa história ilustra como a constituição da identidade está profundamente ligada ao reconhecimento no olhar do outro, e como a separação simbólica é necessária — e angustiante — para a constituição do sujeito.

O reconhecimento  da sua própria  imagem existe um fascínio que surge  no espelho ,é  um produto de identificação com o outro aquilo que é  capaz de desenvolver  para a  criança a sua imagem  possibilita que ele si reconheça, bem o conceito da imagem com base símbolo  ao seu subconsciente  do seu eu.

A situação apresentada, com os irmãos gêmeos idênticos e univitelinos, é um exemplo fascinante para ser analisado sob a perspectiva da teoria do espelho de Jacques Lacan. Essa teoria descreve uma fase crucial no desenvolvimento psíquico do bebê (geralmente entre 6 e 18 meses de idade), na qual ele passa a se reconhecer em sua imagem no espelho como um todo unificado, contrastando com a percepção fragmentada do seu próprio corpo que ele experimenta em suas sensações internas. Para Lacan, essa identificação é alienante, pois o "eu" (Ego) é construído a partir de uma imagem externa, um ideal ao qual o sujeito aspira, mas que nunca corresponde totalmente à sua realidade interna.

Vamos explorar como essa teoria explicaria a situação dos irmãos:

1. A Fascinante Imagem no Espelho e o Imaginário

O fato de os irmãos serem gêmeos idênticos e univitelinos adiciona uma camada de complexidade. Quando um dos irmãos se vê no espelho, ele não está apenas vendo sua própria imagem, mas uma imagem que é a cópia perfeita de seu irmão. Isso intensifica a fusão entre o eu e o outro, uma característica central da Ordem Imaginária lacaniana.

  • A "súplica pela atenção do outro": O irmão em frente ao espelho está imerso na Ordem Imaginária. Ele projeta na sua imagem refletida – que é a imagem do seu irmão – um eu ideal ou um outro idealizado (o irmão brincalhão e responsivo) que ele deseja que seja real e interaja com ele. A súplica não é apenas por brincadeira, mas por reconhecimento e por uma completude que ele tenta alcançar através dessa relação dual com a imagem. A imagem perfeita no espelho promete uma unidade e uma interação que não podem ser cumpridas.
  • A frustração da imagem inerte: O espelho, por sua natureza, não responde. A imagem do "irmão" permanece estática, apesar das súplicas. Essa falta de resposta real confronta o sujeito com a alienação fundamental de sua constituição. Ele percebe a separação entre o seu desejo (de brincar com o irmão) e a realidade da imagem que ele vê, que não se anima. A não correspondência da imagem acentua a falta e a incompletude do sujeito.

2. A Intervenção da Mãe e a Entrada no Simbólico

A entrada da mãe no quarto é um momento crucial que rompe com a dinâmica exclusiva da Ordem Imaginária e introduz a Ordem Simbólica.

  • A Mãe como o Grande Outro: A mãe, nesse contexto, representa a figura do Grande Outro, que é o depositário da linguagem, da lei e da realidade social. Ela não está imersa na mesma relação dual com a imagem do espelho; ela traz uma perspectiva externa e mediadora.
  • O Lançamento Depressivo e a Articulação da Falta: O ato de "lançar-se depressivo ao colo dela" é uma regressão a um estado de busca por fusão e amparo, mas é também o momento de articular a falta através da linguagem. Quando ele diz "o irmão não quer brincar", ele está usando a palavra para simbolizar sua frustração e a ausência do objeto desejado.
    • A "depressão" que ele demonstra é a dor da castração simbólica: a fantasia de um eu completo e um outro ideal que o corresponda é desfeita pela realidade (mediada pela mãe). Ele é confrontado com a verdade de que o irmão não está ali para brincar, e que a imagem no espelho não é o irmão. Ele deve aceitar a ausência e a separação, internalizando a lei do desejo que é mediada pela linguagem.

Conclusão

A teoria do espelho de Lacan explicaria a situação do gêmeo como um drama psicológico em miniatura. Inicialmente, o sujeito se perde na fascinação ilusória de uma imagem idealizada (seu reflexo, idêntico ao irmão, servindo como um duplo imaginário), buscando nela a completude e a atenção que anseia. A ausência de resposta da imagem espelhada gera frustração. A entrada da mãe e sua intervenção pela linguagem (o "o irmão não quer brincar") forçam o sujeito a sair dessa relação dual imaginária e a entrar no plano simbólico da realidade e da falta. A depressão, nesse sentido, não seria apenas tristeza pela ausência do irmão físico, mas a dolorosa experiência do reconhecimento da própria incompletude e da distância entre o desejo e a realidade mediada pela linguagem e pelo Outro. É um momento de constituição subjetiva onde a ilusão da fusão é quebrada, e o sujeito é impulsionado a aceitar a falta como parte inerente de sua existência.

Ao se olhar no espelho, um dos irmãos remete a imagem de seu irmão gêmeo ,uma vez que sempre também fazem tudo juntos, por isso a angústia ,pois sentiu falta da presença real do irmão.

Nota-se que além do vínculo forte entre os dois irmãos, o gêmeo que se olhou no espelho pensou que fosse seu irmão, não reconhecendo a si mesmo ainda - isso mostra um estágio de desenvolvimento do eu que necessita atividades para ajudá-lo nesse processo de individualização.  Atividades  realizadas com os irmãos separados um do outro poderia ser de grande valia.

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Robson Paixao Conceicao

Acredito que um vê o outro como espelho e com o passar do tempo criam identidades próprias como desejos,  personalidades diferentes e comportamentos diferentes .

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