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Desafio - Módulo II

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O irmão que ficou só, se vê no outro. Pois os dois possuem a mesma "imagem", características físicas. Ele se vê na imagem do irmão. Se identifica com o outro, se torna seu espelho.

Análise Psicanalítica do Caso dos Irmãos Gêmeos: O Desafio da Alteridade e a Constituição do Eu

 

O caso dos irmãos gêmeos exige uma abordagem psicanalítica que transcenda o olhar sobre o indivíduo isolado, focando primariamente na dinâmica da gemelaridade como uma estrutura fundante. O nascimento gemelar impõe um desafio único ao psiquismo, pois a relação com o outro não se inicia com a alteridade, mas sim com a proximidade especular, retardando ou distorcendo o processo de separação-individuação essencial para a construção do Eu.

Na fase inicial do desenvolvimento, a fronteira entre o Eu e o Outro é fluida, mas esta fusão é prolongada e intensificada nos gêmeos. O outro não é apenas o objeto materno, mas um objeto especular constante, uma presença física e psíquica que funciona como um duplo. Essa simbiose primária, embora possa oferecer segurança narcísica mútua, dificulta a diferenciação e a formação de um self singular. O gêmeo corre o risco de construir uma identidade baseada na negação da diferença, permanecendo fixado no narcisismo primário da díade.

O desafio reside na travessia da separação-individuação. Para que um gêmeo se constitua como sujeito, ele precisa quebrar a unidade gemelar idealizada e aceitar a existência do outro como uma verdadeira alteridade, não apenas como uma extensão ou um reflexo de si mesmo. Essa ruptura pode ser traumática, levando à formação de mecanismos de defesa rígidos. É comum observar a emergência de papéis fixos e complementares: um dos gêmeos pode assumir a função de líder, de "porta-voz", ou o mais forte, enquanto o outro se torna o "sombra", o submisso, ou aquele que carrega o sintoma da dupla.

A psicanálise entende que a presença do duplo complica a entrada no Complexo de Édipo. A triangulação (Mãe-Pai-Filho) é essencial para a constituição do sujeito, mas a constante presença do irmão pode desviar a atenção dos objetos parentais e fixar a libido no par simbiótico. A resolução edípica, que exige o reconhecimento da lei e da diferença sexual, é substituída pela lei da igualdade ou da similitude. O double torna-se o rival e, ao mesmo tempo, o cúmplice mais íntimo, dificultando a introjeção de uma lei externa e o reconhecimento da autoridade paterna.

Portanto, o texto psicanalítico deve apontar que a patologia, se presente, raramente é unicamente individual. Ela é frequentemente uma patologia da dupla , manifestada através de uma dependência mútua, de uma intensa rivalidade ou de uma incapacidade de estabelecer laços profundos e saudáveis ​​fora do par. O processo terapêutico, nesse caso, não visa apenas tratar o sintoma de um dos irmãos, mas sim auxiliar cada um a narrar uma história singular, a reconhecer o outro como um ser único e a habitar o próprio corpo e a própria vida sem a necessidade constante do espelho especular do gêmeo.

O caso dos gêmeos nos lembra que o Eu se constrói na diferença, e que a tarefa fundamental da vida psíquica é transformar a identidade inicial de "nós" na solidez e na singularidade do "eu".

Citação de Carlos Jose em novembro 10, 2021, 6:44 pm

Nesta situação podemos ver que, há um elo entro os dois irmãos que segue desde o ventre materno, porém após o nascimento tornaran-se seres indempendentes. No entanto, podemos ver que essa independencia é apenas fisica, pois emocionalmente ainda estão muito ligados. Eu sugeriria que os pais praticassem atividades cotidianas em que cada um dos gemeos pudessem se identificar como um ser autonomo, diminuindo assim o impacto de uma separação brusca ou até mesmo quando de um a possivel de um perda definitiva.

Excelente ponto, Carlos Jose! Sua análise toca diretamente no cerne da problemática psicanalítica da gemelaridade.

Concordo integralmente com a sua observação de que a independência é apenas física e que o elo emocional que se estabelece desde o ventre é extraordinariamente forte. O desafio reside exatamente aí: na dificuldade de transformar essa intensa dependência emocional em alteridade genuína.

Do ponto de vista da Psicanálise, a ligação que você descreve é a manifestação da fusão narcísica prolongada. A presença constante do irmão gêmeo atua como um objeto especular permanente. Este double oferece um reforço narcísico que é imediato, satisfazendo a necessidade de completude e dificultando o luto necessário pela perda da fusão primária (mãe-bebê).

A tarefa do psiquismo de cada gêmeo é, justamente, romper com essa função especular para que o Eu possa ser construído. A sua sugestão de os pais praticarem atividades que reforcem a autonomia e a identidade singular de cada criança é, na prática, uma intervenção que visa introduzir o simbólico e a diferença na díade, permitindo que o gêmeo se separe da lei da similitude e se constitua como um sujeito único com seu próprio desejo.

Parabéns pela excelente leitura do caso!

Citação de Mari em novembro 19, 2021, 5:50 pm

Naquele momento pode ter ocorrido a Projeção entre ele e o irmão. Mas em comum, encontra-se a perspectiva de deslocamento de algo que no seu trajeto sofre alterações que resultam em algo novo, no caso, o mal estar que o irmão sentiu ao se deparar com a imagem dele no espelho, que se a semelha e remete ao objeto original, que no qual seria o irmão que foi para a escola.

 

Colega Mari, sua leitura é muito instigante, especialmente ao focar no mal-estar provocado pelo espelho. Isso nos leva a uma área crítica da psicanálise: a constituição do Eu pela imagem.

Embora a Projeção possa ser um mecanismo presente na dupla, o que ocorre no momento do espelho é a crise da Função Especular. O gêmeo que ficou sozinho é confrontado com a ausência do seu objeto especular vivo (o irmão).

Quando ele se depara com a imagem no espelho, o que ele vê não é apenas a si mesmo, mas um reflexo que deveria ser confrontado e complementado pelo duplo real. A semelhança (que você bem observou) remete-o diretamente à fusão narcísica, mas a ausência do outro força-o a encarar a sua singularidade (ou a falta dela).

O mal-estar é a manifestação da ansiedade de separação e da dificuldade em integrar a imagem de si (que o espelho fornece) com a certeza de um Eu autônomo. O espelho, que deveria solidificar o Eu (como no Estádio do Espelho), torna-se um lembrete angustiante de que o Outro que o define não está lá, forçando-o a lidar com a sua própria alteridade de maneira brusca.

Sua análise do deslocamento e do mal-estar é um excelente ponto de partida para aprofundar na complexidade da identidade gemelar. Parabéns pela contribuição!

Análise Psicanalítica do Caso dos Irmãos Gêmeos: O Desafio da Alteridade e a Constituição do Eu

 

O caso dos irmãos gêmeos exige uma abordagem psicanalítica que transcenda o olhar sobre o indivíduo isolado, focando primariamente na dinâmica da gemelaridade como uma estrutura fundante. O nascimento gemelar impõe um desafio único ao psiquismo, pois a relação com o outro não se inicia com a alteridade, mas sim com a proximidade especular, retardando ou distorcendo o processo de separação-individuação essencial para a construção do Eu.

Na fase inicial do desenvolvimento, a fronteira entre o Eu e o Outro é fluida, mas esta fusão é prolongada e intensificada nos gêmeos. O outro não é apenas o objeto materno, mas um objeto especular constante, uma presença física e psíquica que funciona como um duplo. Essa simbiose primária, embora possa oferecer segurança narcísica mútua, dificulta a diferenciação e a formação de um self singular. O gêmeo corre o risco de construir uma identidade baseada na negação da diferença, permanecendo fixado no narcisismo primário da díade.

O desafio reside na travessia da separação-individuação. Para que um gêmeo se constitua como sujeito, ele precisa quebrar a unidade gemelar idealizada e aceitar a existência do outro como uma verdadeira alteridade, não apenas como uma extensão ou um reflexo de si mesmo. Essa ruptura pode ser traumática, levando à formação de mecanismos de defesa rígidos. É comum observar a emergência de papéis fixos e complementares: um dos gêmeos pode assumir a função de líder, de "porta-voz", ou o mais forte, enquanto o outro se torna o "sombra", o submisso, ou aquele que carrega o sintoma da dupla.

A psicanálise entende que a presença do duplo complica a entrada no Complexo de Édipo. A triangulação (Mãe-Pai-Filho) é essencial para a constituição do sujeito, mas a constante presença do irmão pode desviar a atenção dos objetos parentais e fixar a libido no par simbiótico. A resolução edípica, que exige o reconhecimento da lei e da diferença sexual, é substituída pela lei da igualdade ou da similitude. O double torna-se o rival e, ao mesmo tempo, o cúmplice mais íntimo, dificultando a introjeção de uma lei externa e o reconhecimento da autoridade paterna.

Portanto, o texto psicanalítico deve apontar que a patologia, se presente, raramente é unicamente individual. Ela é frequentemente uma patologia da dupla, manifestada através de uma dependência mútua, de uma intensa rivalidade ou de uma incapacidade de estabelecer laços profundos e saudáveis fora do par. O processo terapêutico, neste caso, não visa apenas tratar o sintoma de um dos irmãos, mas sim auxiliar cada um a narrar uma história singular, a reconhecer o outro como um ser único e a habitar o próprio corpo e a própria vida sem a necessidade constante do espelho especular do gêmeo.

O caso dos gêmeos nos lembra que o Eu se constrói na diferença, e que a tarefa fundamental da vida psíquica é transformar a identidade inicial de "nós" na solidez e na singularidade do "eu".

Análise Psicanalítica do Caso dos Irmãos Gêmeos: O Desafio da Alteridade e a Constituição do Eu

 

O caso dos irmãos gêmeos exige uma abordagem psicanalítica que transcenda o olhar sobre o indivíduo isolado, focando primariamente na dinâmica da gemelaridade como uma estrutura fundante. O nascimento gemelar impõe um desafio único ao psiquismo, pois a relação com o outro não se inicia com a alteridade, mas sim com a proximidade especular, retardando ou distorcendo o processo de separação-individuação essencial para a construção do Eu.

Na fase inicial do desenvolvimento, a fronteira entre o Eu e o Outro é fluida, mas esta fusão é prolongada e intensificada nos gêmeos. O outro não é apenas o objeto materno, mas um objeto especular constante, uma presença física e psíquica que funciona como um duplo. Essa simbiose primária, embora possa oferecer segurança narcísica mútua, dificulta a diferenciação e a formação de um self singular. O gêmeo corre o risco de construir uma identidade baseada na negação da diferença, permanecendo fixado no narcisismo primário da díade.

O desafio reside na travessia da separação-individuação. Para que um gêmeo se constitua como sujeito, ele precisa quebrar a unidade gemelar idealizada e aceitar a existência do outro como uma verdadeira alteridade, não apenas como uma extensão ou um reflexo de si mesmo. Essa ruptura pode ser traumática, levando à formação de mecanismos de defesa rígidos. É comum observar a emergência de papéis fixos e complementares: um dos gêmeos pode assumir a função de líder, de "porta-voz", ou o mais forte, enquanto o outro se torna o "sombra", o submisso, ou aquele que carrega o sintoma da dupla.

A psicanálise entende que a presença do duplo complica a entrada no Complexo de Édipo. A triangulação (Mãe-Pai-Filho) é essencial para a constituição do sujeito, mas a constante presença do irmão pode desviar a atenção dos objetos parentais e fixar a libido no par simbiótico. A resolução edípica, que exige o reconhecimento da lei e da diferença sexual, é substituída pela lei da igualdade ou da similitude. O double torna-se o rival e, ao mesmo tempo, o cúmplice mais íntimo, dificultando a introjeção de uma lei externa e o reconhecimento da autoridade paterna.

Portanto, o texto psicanalítico deve apontar que a patologia, se presente, raramente é unicamente individual. Ela é frequentemente uma patologia da dupla, manifestada através de uma dependência mútua, de uma intensa rivalidade ou de uma incapacidade de estabelecer laços profundos e saudáveis fora do par. O processo terapêutico, neste caso, não visa apenas tratar o sintoma de um dos irmãos, mas sim auxiliar cada um a narrar uma história singular, a reconhecer o outro como um ser único e a habitar o próprio corpo e a própria vida sem a necessidade constante do espelho especular do gêmeo.

O caso dos gêmeos nos lembra que o Eu se constrói na diferença, e que a tarefa fundamental da vida psíquica é transformar a identidade inicial de "nós" na solidez e na singularidade do "eu".

Nesta situação, está sendo representado o estágio do espelho:
Ao ver sua imagem refletida no espelho, o menino não reconhece sua própria imagem. Como tem um irmão gêmeo idêntico, ao ver seu reflexo acredita ser o irmão.
Nesse momento a mãe intervém e o ajuda a entender a situação e a reconhecer o reflexo no espelho como sua própria imagem.

A julgar pelo comportamento do irmão gêmeo ,ele tem a idealização do irmão ao se Olhar no espelho, buscando um apoio,uma imagem,a busca pela pessoa que ele sempre brincou,mas naquele momento não estava.

 

É uma situação bem interessante pois o menino está tão acostumado em olhar o outro como se fosse a sua própria imagem e reflete no espelho aquilo que ele quer sentir, colocando na imagem a sua indignação de estar sozinho e no ser atendido

Quando o irmão gêmeo se olha no espelho, ele nega a si mesmo e projeta o outro — é uma falha em sua própria constituição de sua identidade. O normal seria reconhecimento próprio, porém isso é invalidado na figura do outro.

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